— Bem, então estamos comemorando.. Certo?
Dimitri levou Ágata até o bar mais próximo, que infelizmente não era um dos melhores, mas era o mais reservado. Estavam sentados numa mesa de canto, com almofadas vermelhas e uma mesa em formato de coração. Ágata conhecia a má fama da comida do Casco Velho, o bar que estavam, então preferiu não arriscar — apesar do delicioso cheiro de hambúrguer de Paccha, seu predileto. Quando se aconchegaram na mesa, Dimitri soltou sem muitos detalhes que havia finalmente conseguido o emprego que queria como Ceifador: investigador criminal. Haviam poucos serviços em que os ceifadores tinham o passe livre para usarem suas habilidades mórbidas — na lista temos médico legista, maquiador de cadáver, e até mesmo leitura do futuro, mas esse último era mais comum em épocas de desespero. Devido sua aparência sombria, os ceifadores não eram aceitos em trabalhos comuns, especialmente aqueles que envolviam falar com pessoas. Era difícil esconder no corpo que personificavam os traços cadavéricos: os olhos que transitavam do preto para um cinza claro, as tatuagens coloridas em línguas desconhecidas pelos vivos, e é claro, as asas negras, que alguns não conseguiam esconder tão bem. Pode-se dizer que os ceifadores ou tentam um serviço para sua raça, ou são sustentados pelos seus pais.
— É, sim. Claro. Mas não, também — Dimitri disse nervoso. Com um aceno, chamou atenção da adorável atendente feérica, que veio caminhando com certa preguiça para a mesa deles. — Pode trazer uma dose de lótus líquido madame?
Ágata evita arregalar os olhos. Dimitri só pedia lótus líquido quando algo o deixava extremamente ansioso. A garçonete assentiu para ele e olhou para Ágata, que ainda estava um pouco surpresa com o pedido do amigo. Ela apenas apontou para uma taça de vinho qualquer no cardápio e esperou a feérica se afastar.
— Ok, não é uma comemoração, definitivamente. O que aconteceu? –— Ágata disse quando estavam a sós.
— Sabe que não posso te contar os detalhes sórdidos do caso. Mas o lance é que é um grande caso.
— Não são todos os casos de ceifadores grandes casos? E é só você fazer seus pirlimpimpim de ceifador para acabar rapidinho e ser parabenizado pela eficiência. — Dimitri assentiu, mexendo os dedos de maneira compulsiva
Ágata estava certa, os ceifadores só eram chamados em casos criminais brutais ou quando os elfos responsáveis pela investigação estavam, de certa forma, perdidos. Era a única maneira dos elfos se "rebaixarem" e admitirem que precisam da ajuda de outras raças para fazer algo.
— Com grande caso quis dizer que uma pessoa relativamente importante foi a vítima... — Antes de Ágata falar algo, Dimitri levantou o dedo — Nem tenta, não vou te falar quem é a pessoa. E sim, eu sei que é só fazer meus... que palavra que você usou? Quer saber, vamos esperar Elise chegar...
— Vai direto ao ponto — Ágata respondeu curiosa, se apoiando na mesa para ficar mais próxima de Dimitri.
— Os meus poderes não funcionam.
Pela primeira vez na noite, Ágata ficou em silêncio. O garoto permaneceu com o olhar preso nos seus dedos, que estavam inquietos. Ela se sentou novamente e arqueou as sobrancelhas. Aquilo não fazia sentido.
— Mas... como? — Ágata por fim disse, segurando os dedinhos inquietos de Dimitri.
— Não é bem um problema comigo, graças à Ienmar — Dimitri suspirou, agradecendo a deusa dos mortos e fazendo uma certa reverência. Para os ceifadores, os únicos que merecem seu respeito eram os deuses, especialmente Ienmar — A princípio achei que era, achei que estava destinado ao pior destino que alguém como eu poderia ter, mas não foi isso que aconteceu.
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Moraviana - Duologia de Sonar
FantasyHá 100 anos atrás, o reino de Sonar queimava em guerra. Buscando o trono, o exército élfico lutou contra algumas criaturas estreladas, os sobrenaturais e os humanos em uma batalha incansável e sangrenta. O elfo vitorioso se tornou imperador, escravi...