Capítulo 37

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Sanches

Encaixo o indicador no gatilho e caminho pelo beco estreito do morro, indo até o final onde tem uma casa abandonada, daqui eu já consigo ver a luz amarela iluminando a entrada e quem tá fazendo a segurança é Hariel, Fontes e Leproso. Balanço a cabeça pra eles saírem da entrada e eu piso no chão de concreto, ouvindo o barulho do baile mais em cima. Passo a mão no meu bolso e sinto o volume dos chicletes, enquanto eu olho pro cantinho da parede, vendo moleque três estirado.

Eu: Tá aqui desde a madrugada? - pergunto pro Hariel, vendo ele confirmar, passando a mão na ponta do fuzil - E por que não me avisou sobre eles? Só fiquei sabendo depois que o sol apareceu, eu falo o tempo todo que quero saber de qualquer coisinha que aconteça aqui e vocês fazem ao contrário - coloco a arma na cintura e nego com a cabeça - Nem adianta falar que foi por conta da morte da minha mãe, podia ter morrido minha família toda, o morro ainda é prioridade.

Hariel: Só achei eles lá pela madrugada, rodei o morro todo, já tava desistindo, mas encontrei e deixei aqui, pô - ele aponta pra dentro da casa e eu cruzo meus braços, olhando o beco estreito - Não falei nada, justamente porque sua mãe tinha falecido, mas vi que me enganei, porque ela tava andando por aqui hoje de tarde - franzo meu rosto, vendo ele confirmar - Ela e uma loira aí e papo reto? Achei que tava vendo assombração.

Escuto a risada baixa dos outros dois e passo a mão no queixo, soltando uma risada baixa também, porque é foda. O jeito doentio como minha mãe tenta chamar atenção podia ter me custado a liberdade, se eu perdesse de um jeito natural, eu nem falava nada, porque sei que tô errado. Mas ela procura atenção e nessa de ir atrás dela, quem se fode sou eu. Aí tá doente pra fazer tudo, agora pra vim pra morro que ela não conhece, rapidinho ela tá boa, complicado.

Leproso: Eu ainda abordei as duas, sua mãe tava por aqui, porque ficou sabendo que Rael tava pela área - passo a língua pelos lábios, encarando ele - Coroa tava de BMW pelo morro, o carro cheio de mulher e ela atrás dele, nem falei nada, porque tu não mandou as ordens.

Escuto tudo e fico calado só pensando no sumiço dele lá na Vila Cruzeiro, aí só agora eu fico sabendo que ele tava com mulher e pra completar a minha mãe por aqui atrás dele. Um é superado até demais e a outra ainda tá no processo, morre, ressuscita e depois vem correndo atrás do velho.

Fontes: Mudando de assunto, os três moleque tão aí dentro, já bati, fiz de tudo e nada - ele nega e eu empurro a porta que encostou sozinha - Ninguém fala nada, tu só vai falar pra perder tempo, porque essas porra tá vendido e quem botou dinheiro fez algum acordo por trás, a lógica é essa.

Eu me sento na cadeira de madeira, encostada na parede de tinta velha e fico esperando o Fontes acordar eles. Ontem, a polícia tava atrás de mim no Fasano e quem deu a localização foi um dos três, como? Eu não sei, mas deu em nada, eles só vão morrer por besteira, isso que é foda pra eles e pra quem jogou dinheiro à toa. Nem gosto de matar gente nova, só mato se me estressar muito, então deixa eles acordar pra eu ter noção da situação, se tirar um pouco da calma que eu tô guardando, eu mato brincando.

Giro o chiclete quadrado nos meus dedos e me inclino pra frente, vendo os três acordando com o rosto cheio de sangue e a roupa rasgada, passa uns minutos e eu tenho o olhar deles em mim, enquanto eu olho calado, sentindo uma paz do caralho dentro de mim.

Fontes: Já apaguei os três 5 vezes, né? - escuto os três concordando - Pronto, o cara já tá aqui, bagulho vai ser o seguinte, ele pergunta, vocês respondem ou então eu apago os três de novo até completar 7 vezes, porque ele só gosta quando chega nesse número - olho pra cara de cada um deles e chuto no máximo uns 19 anos pra cada um - Pode perguntar, Sanches.

Eu: Tenho nada pra perguntar não, o que eu quero saber eles já tão ligado, gastar saliva é que eu não vou - nego com a cabeça, abrindo a embalagem do chiclete - Vou ficar aqui até o chiclete perder o gosto, se até lá, eu não ouvir o que eu quero saber, a gente troca o chiclete por bala - tiro a arma da cintura e coloco na coxa, cruzando meus braços, mascando o chiclete - Tô tranquilo.

Por um Momento Where stories live. Discover now