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Lobo

A vida pra alguns, é a cura, sentido de
gratidão e motivo de felicidade, e pra outros, um castigo, tristeza e desprezo.

Mas o mais engraçado, é que não somos nós que definimos isso, porque a forma em que você é tratado durante a sua vida, te faz quem você é hoje, seja isso bom ou ruim.

E por mais que isso soe como algo injusto, infelizmente, as pessoas ao nosso redor tem controle do que a vida pode nos significar.

E é por isso que tu vê neguinho de favela entrando pro crime com treze anos de idade, vai lá e vê a realidade dele. Pai bebado, drogado, sem nenhuma estabilidade emocional, a mãe que apanha calada e não tem estrutura nenhuma, agora me diz, tu quer que o moleque cresça com a mão no coração?

Hipocrisia mesmo, é ver geral julgando, o preconceito que existe em cima de quem vem de comunidade é enorme e presente na nossa realidade, mas vê se alguém quer vir ajudar e dar alguma oportunidade, ninguém quer pô.

E se quisessem, não teria tanta criança caindo no crime tão cedo, porque talento em favela não falta, o que falta mesmo é oportunidade que um ou outro consegue uma vez na vida.

E no meu caso, fui a criança que cresceu com uma familia conturbada, um pai de merda e o meu unico refugio era a rua.

Depois do dia em que meu pai me deu uma surra por ter ido na igreja com a minha vó, eu fugi de casa e fui morar com ela, cansei de viver aquele inferno todos os dias e me revoltei, a esse ponto eu já tinha me envolvido no crime, mas nunca foi por fumar ou usar algo, e sim pela emoção e adrenalina que isso me traz, a adrenalina me tirava dos meus pensamentos ruins porque eu acabava esquecendo por um momento, que era quando eu tava lá.

Minha mãe faleceu no parto da minha irmã, ela desenvolveu uma doença durante a gestação e morreu no parto, nunca soube detalhes porque meu pai nunca falava sobre isso, então nem sei, mas também não faz diferença, quem me criou sempre foi a minha vó, depois eu só fui morar oficialmente, mas eu sempre vivi na casa dela porque meu pai fazia o inferno na minha vida.

Por um tempo, senti raiva da minha irmã porque era como se ela tivesse tirado a minha mãe de mim, mas meu pai fazia a culpa cair em cima de mim de alguma forma, depois de um tempo eu parei de sentir isso e começei a cuidar dela, do meu jeito, mas eu cuidava.

Hoje em dia ela mora com a minha avó porque o cara que eu tenho o desprezo de chamar de pai sumiu no mundo pra fugir da divida que ele fez com droga e bebida, depois de um tempo acharam ele, e o resumo geral já ta ligado.

Eu tinha uns quatorze anos na época, era moleque e tinha amizade com poucos, conheci a prima de um deles e foi a minha primeira namoradinha, namorei com ela por uns anos, mas era coisa besta e a gente vivia terminando, mas foi essa putaria por anos.

Voltei da Europa a algumas semanas mas ainda não fui pro Rio, tô com dois morros no meu comando e tava fazendo meus caminhos internacionais, quero aumentar a porcentagem de lucro por lá, já que na America Latina eu tô ficando cada vez mais forte.

Assumi a Nova Holanda a quase seis anos, e o Parque União foi mais recente, aproveitei o momento de fraqueza e organizei uma invasão, hoje em dia é meu pô.

Bato meus dedos contra o vidro que cerca a cobertura com o meu baseado entre os dedos, sentindo o vento bater no meu peito nu, apenas com a corrente de ouro com um lobo cravejado por diamantes.

Peguei meu celular do bolso entrando no meu whatszaap pessoal que tem só minha avó, minha irmã e uns parceiros, o outro número eu deixo pras putas que me enchem o saco e um povinho que não faço questão de responder.

Entrei no contato do Sant mandando ele tirar a Huracán do galpão, to com saudades da minha bebê. Comprei essa Lamborghini antes de sair do país e mandei levar só a Urus pra Europa, e inclusive já vou mandar trazer pra cá porque eu sou apaixonado por SUV, confesso que ainda tenho um apego maior pela minha lambo roxinha, mas eu ainda amo carro alto.

Espero alguns minutos e ele me responde dizendo que vai mandar minha contenção pra cá e deixar a bebê na minha garagem.

Pretendo voltar amanhã, um dia antes do baile, porque se eu for no dia vou ficar cansado da viagem, e eu quero acompanhar o movimento.

Curto pra caralho minha casa em Angra, é uma paz absurda, mas nem pude aproveitar porque vim direto pra cá pra comparecer na reunião que foi hoje mais cedo, e vou embora amanhã cedo.

Muita gente já ta sabendo da minha volta e com isso meu celular enche de mensagem das minhas ex ficantes, bando de emocionada querendo patrocinio.

Guardo meu celular novamente e me movo pra dentro da casa grande e espaçosa, indo pro quarto que tem um quadro de um lobo, sou fissurado mesmo.

Escuto os passos na escada e me viro vendo a Tayane parada na porta me encarando.

Tayane: Posso entrar?

Eu: O que tu quer? Era pra você estar esperando lá em baixo.

Tayane: Até a hora da gente sair daqui vai demorar muito, to ficando entediada.

Passei a mão na minha sombrancelha só escutando ela falar pra caralho, ela começou a ajudar nas missões que a facção faz e numa dessas acabei pegando ela, mas foi bagulho de uma noite e ficou comigo em baile depois, o problema é que ela se emocionou e quer ficar grudada em mim.

Eu: E porque ficar aqui ia mudar alguma coisa? Continua sem nada pra fazer pô.

Tayane: Não precisa ser grosso assim. - Ela vem andando até mim e se senta no meu colo.

Eu: Não era pra ser grosso, tô só te mandando meu papo vida.

Tayane: Gosto quando você me chama assim, sabia? - Ela beija o canto da minha boca e desce pro pescoço mas eu afasto ela com as mãos. - O que foi?

Eu: Tenho que descansar agora, a gente vai sair daqui de madrugada, tu também precisa.

Tayane: Posso dormir aqui contigo?

Eu: Tu sabe que eu odeio dormir com alguém, gosto do meu espaço. - Ela concordou com a cabeça e se levantou saindo do quarto sem dizer mais nada, quase levantei a mão pro céu e agradeci.

Puxo o edredom e ligo o ar condicionado deixando no quinze porque gosto de dormir com coberta.

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Lobo

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Lobo.
28 anos.

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