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Isabella

Coloco cada uma das peças que chegaram de reposição no cabide e penduro deixando por ordem de cor pra Denise não vir implicar com isso, ter patrão é um castigo, pago por todos meus pecados aqui.

Tava morando sozinha no Leblon a alguns meses, mas o apartamento era alugado e o dono tava querendo aumentar o valor do aluguel. Agora só se eu rodasse bolsinha pra pagar mesmo, porque além do aluguel tenho contas pra pagar e meus luxos pra bancar.

Quando o pobre pensa que vai se estabilizar e sobra um dinheirinho, vem a vida e me tomba, cada dia mais reforça o ditado de que os humilhados serão mais humilhados ainda.

Trabalho em uma loja de roupas femininas, além de vender eu ainda faço todo o marketing no instagram, as vezes faço um provador também, mas aí eu cobro um extra porque posso ser pobre, mas não sou burra.

Voltei a morar com a minha madrinha na comunidade que eu passei uma parte da minha infancia, eu poderia dizer que foi um passo pra trás na minha vida, mas eu voltei e agora tô pertinho da minha best e ainda encontrei geral que estudou comigo.

Morei com a minha mãe até os meus 18 anos, mas resolvi sair de casa quando cansei de conviver com a filha do meu padrasto e ele, dois insuportavéis que podem dar as mãos e ir pra puta que pariu.

Minha mãe começou a priorizar ele e o relacionamento, e eu percebi que já não me cabia ali, além de que a minha meia irmã sempre foi um cu, adolescente chata que acha que pode ter tudo na mão, ranço só de falar.

Depois que saí de casa, a unica que me acolheu foi minha dinda, que eu vou ser grata pra vida toda, porque se não fosse ela eu ia ser moradora de rua mesmo. Até porque eu saí de casa com meus panos de bunda, ranço e um sonho.

Meu pai eu não vejo a anos, depois que ele se divorciou da minha mãe, se divorciou de mim também, porque ele pagava pensão e falava o básico comigo, até hoje é a mesma coisa.

Termino de pendurar todas as peças depois de passar todas com o ferro a vapor e me levanto sentindo a dor na coluna pela posição que eu estava.

Volto pra trás do balcão branco com alguns enfeites de natal pendurados e me sento na cadeira que fica ali.

Pego meu celular entrando no meu instagram e fico rolando as postagens do feed mas paro em uma publicação da Virginia mostrando o carro novo dela, de milhões, literalmente.

Não aceito morrer antes de poder sentir o gostinho disso, de saber que já aposentou até seus netos, que deus tenha misericordia de mim e me permita viver tudo isso.

Larguei meu celular em cima do balcão quando ouvi a porta de vidro deslizar e uma loira alta entrar.

Andei até ela com um sorriso no rosto, bem falso porque não queria estar aqui trabalhando, mas a gente finge.

Eu: Oi, tudo bem? No que posso te ajudar?

Xx: Tudo sim amor, Dayana. - Ela estendeu a mão pra mim me comprimentando - Tô procurando um look pra passar o ano novo, quero algo bem babadeira porque vai ser na praia com meu ex e quero recuperar ele.

Eu: Entendi. - Mexi em algumas peças e tirei as de brilho que temos aqui na loja e fui colocando no sofá. - Essas aqui são tamanho unico, mas se ajustam bem no corpo, tenho certeza que vai ficar lindo em você.

Dayana: Eu amei esse cropped, dá pra compor com essa saia mais basica.

Eu: Isso mesmo, se você quiser provar, pode ir ali e eu te auxilio. - Ela foi andando até o provador com algumas peças na mão e eu levei as outras.

Um Erro. Where stories live. Discover now