Capítulo Quinze : Keahi

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Vê Mayim movendo o pote para trás de sua bolsa no instante em que o garoto passa a encará-lo

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Vê Mayim movendo o pote para trás de sua bolsa no instante em que o garoto passa a encará-lo. Ela encolhe seu corpo, afastando-se daquele Ataz desconhecido.

Keahi agarra o braço nu do garoto com força, tentando puxá-lo para próximo de si. Assim que nele encosta, algo como um choque atinge sua mão quente, fazendo com que, de imediato, largue o amigo. Franze o cenho, observando sua mão atingida para, depois, mover seu olhar para o garoto à sua frente.

Como uma estátua, Ataz está completamente parado, de pé. Seu rosto está virado para a direção da bolsa de Mayim.

Keahi põe seu pé para frente, cobrindo a visão que o garoto antes poderia ter, levando suas mãos até o rosto de seu amigo – diferente do esperado, nenhum choque atinge-a.

Vê os olhos daquele estáticos, presos naquela mesma direção. O olho direito segue como havia visto há poucos minutos: sem íris, com um amarelo fluorescente preenchendo-o por completo.

Ainda não processou a informação, não processou o fato do olho de seu amigo estar semelhante ao olho de um deus: não quer pensar no que ele possa ter feito para aquilo ser causado.

– Ataz! – gritou, sacudindo seu rosto com ambas as mãos.

Com o canto de seu olho, vê Irene passar por trás de si, já retirando o pote de trás da bolsa de Mayim, que nada faz, e movendo-o próximo aos olhos do rapaz.

A íris do olho esquerdo, de forma automática, muda de cor, passando a combinar com o amarelo fluorescente do olho oposto. Keahi vê – de perto, começando a largar o rosto de Ataz – o olhar acompanhar o pote nas mãos da Venfriae, como se o hipnotiza-se.

– Os olhos dele são como de um deus… – murmurou Mayim de forma inesperada, mostrando um tom incrédulo em sua voz.

Keahi observa Irene circular o quarto com o pote em suas mãos e, de alguma forma, percebendo que o olhar de Ataz a segue. Ou, melhor, segue o pote que a acompanha.

Ela abre uma das gavetas – ignorando as roupas debaixo masculinas ali armazenadas –, guardando o objeto, antes em suas mãos, e fechando-a. Encosta-se na cômoda, como se ali mantivesse uma fera. Seu rosto se vira para Ataz, como se pudesse vê-lo, como se esperasse por algum tipo de reação.

Keahi volta-se ao garoto, que olha para Irene como se ela estivesse com algo que a ele pertence.

O corpo de Ataz arrepia-se e seus olhos piscam.

A íris do olho contrário volta a mover-se, indo para a direita, começando a encarar a Igrãdenti. Sua pupila dilata, seu olho esquerdo arregala e, finalmente, quando esse volta ao tom castanho tradicional – mesmo que o direito ainda esteja tomado pelo amarelo –, os braços de Ataz movimentam-se, cobrindo seu rosto de forma rápida e soltando um grito ríspido.

Keahi pula para trás e, em seguida, segura os pulsos do amigo – consegue ouvir murmúrios abafados enquanto aquele se move para trás de forma, claramente, assustada.

Mayim levanta, pondo uma de suas mãos no ombro do garoto, chamando-o por seu nome através de sussurros nervosos, agachada para o rosto daquele tentar enxergar.

A Igrãdenti força que os braços que segura desçam, o que faz a Aquatill afastar-se, fervendo de preocupação. Sua coluna se dobra, seus ombros encolhem, levando o rosto quente para perto do de seu amigo, que olha para o chão paralisado.

– Ataz – chamou, com cautela. – Você me escuta? – Uma pausa preocupada é dada. Keahi engole em seco. – Olha pra mim –  ordenou: seu espírito Igrãdenti tomando conta de si.

De forma lenta, vê a única íris existente naqueles olhos encará-la. Ataz recupera o fôlego, suando, suspirando e inspirando repetidas vezes. Keahi indica para seguir isso fazendo, para continuar a tentar acalmar-se. Solta os pulsos que antes segurava, levando uma de suas mãos para a nuca do garoto e puxando-a até seu peito, envolvendo o amigo em um quente abraço.
Enquanto aquele se acomoda em seu ombro, lança uma careta assustada para Mayim e Irene, que permanecem intactas, uma ao lado da outra, sem saber o que fazer.

– É como um rastreador –  lançou Irene em baixo tom, numa tentativa de apenas a Aquatill escutar. Ela cruza seus braços e abaixa sua cabeça para a direção de seus pés.

Mayim encara Keahi e, em segundos, a Igrãdenti entende o recado. Precisam saber o que está acontecendo, algo deve ser feito.

Passa uma de suas mãos nas costas do amigo, sentindo sua respiração mais calma do que anteriormente. Desfaz seu abraço, agachando-se, pondo suas mãos no ombro de Ataz e encarando o fundo de seus olhos – mesmo um desses fundos sendo identificável, indiferente, lotado de uma cor completamente sólida que elimina a pequena sombra que ali poderia se formar. Keahi morde o lábio, cerrando os olhos pelo brilho que atinge seu rosto.

– O que aconteceu? – começou. Sua voz sai trêmula. Pensa se é o momento certo de lançar sua suspeita. – Não me diga que você…

O rapaz se solta. As mãos de Keahi ficam imersas ao ar.

EU NÃO USEI PROLIN! – O grito de Ataz ecoa pelo quarto bagunçado, provocando um silêncio amendrontador. Com um olhar assustado, abraça a si mesmo, movendo-se para trás, quase tropeçando em Irene, que permanece estática.

– Então o que foi isso? – Keahi levanta, vociferando em um tom rígido.

Ataz se mostra incomodado, apertando com força a estampa central de sua camisa. As letras da estampa de Fire Bunnies se contorcem.

– Eu não sei – afirmou em baixo tom, parecendo estar com medo até mesmo de sua voz. – O que… – começou a gaguejar, voltando-se para as três garotas. Seu olho completamente amarelo ainda apavora Keahi. – O que é aquilo que vocês trouxeram? – A última frase soa de forma agressiva, o que se prova ser intencional com a expressão de raiva em seu rosto. – Por que vocês vieram? – questionou de forma indignada, fazendo com que Keahi duvide de sua decisão anterior, se foi correto acusá-lo naquele momento.

Acredita no que o garoto disse, acredita em sua verdade – quer muito acreditar –, mas não pensa em outra coisa que poderia… – encontra aquele olhar apavorante –  isso ter causado.

A presença de Mayim volta a surgir em sua visão, aproximando-se do rapaz com cautela, pondo a mão no braço dele e começando a puxá-lo até o banheiro daquele mesmo quarto.

– Você precisa ver seu olho – Sua voz, como o esperado, sai trêmula.

E, em frente ao espelho da pia, Ataz, finalmente, vê seu olho.

Nirum Parte Um: Quando a Flor DesabrochaOnde histórias criam vida. Descubra agora