Capítulo Quatro: monstros debaixo da cama

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"Porque lá estamos nós outra vez, quando eu te amava tanto"

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"Porque lá estamos nós outra vez, quando eu te amava tanto"

— All Too Well (10 Minute Version); Taylor Swift

Griffin Hills, junho de 1999.

Em meio ao caos que crescia em meu interior, segui Jungkook até o seu quarto. Meus passos eram cautelosos, eu conhecia tudo o que aqueles corredores guardavam, as brincadeiras infindáveis com um Taehyung pequeno me renderam as memórias de cada quadro, cada parede e cada pedaço de chão. Entretanto, naquele ínfimo momento, sendo guiada por uma figura etérea até o cômodo que mais me causava ansiedade e curiosidade, me senti presa em um ambiente completamente desconhecido.

Nada ali me parecia familiar, eu me sentia adentrando um lugar completamente novo. Contei os passos até o quarto, que antes dele aparecer, era um escritório que o senhor Kim mal usava, onde Taehyung e eu ficávamos brincando até tarde da noite.

Fiquei estática na porta, ele cantarolava alguma coisa, perdido na própria bagunça, pegando peças de roupa amarrotadas que estavam em cima da cama e jogando-as no chão, caminhando tranquilamente até a sua cômoda e revirando as fitas ali em cima. Minha mente estava cauterizada com o fato de que eu jamais retornaria para aquele quarto, por isso me parecia tão irreal dar um passo à frente.

Jungkook olhou para mim por cima dos ombros, os olhos com o brilho de uma estrela submersa em mares raivosos, o que me levou a pensar em um trecho de um dos poemas de Bukowski que li em minha busca ávida pela literatura que Jungkook tanto gostava.

"amor é o que desapareceu junto

com a era dos navios encouraçados"

Me perguntava diariamente se o amor de Jungkook havia desaparecido com os navios encouraçados, se ele concordava com todas aquelas definições presentes em um poema que parecia rasgar a alma. Teria alguém destruído a coisa mais bela de todas para ele? A sua necessidade de correr como se o tempo estivesse acabando, em busca da próxima boca, do próximo toque, do próximo coração, provinha de uma mágoa muito maior e antiga?

— Você não vai entrar? — perguntou, fazendo com que eu despertasse dos meus devaneios. Suas sobrancelhas estavam franzidas em uma pergunta genuína.

— Não sei se eu devo — confessei em voz baixa, com medo de começar algo que não poderia terminar.

Não que eu tivesse a ilusão de que Jungkook estava me convidando para o seu quarto com segundas intenções, sabia bem que ele não pensava em mim daquela forma — se é que pensava em mim.

Seu convite era um reflexo de gentileza, acreditava estar fazendo algo bom pelo irmão ao ser gentil comigo e apesar de ficar decepcionada, me vi apaixonada por mais um dos seus tantos detalhes.

— É só entrar, Lee — falou, voltando a mexer nas fitas. — Nenhum bicho-papão vai te pegar.

Era uma piada, claro, entretanto, uma parte de mim sentiu como se aquilo fosse o reflexo de como ele me enxergava: uma garotinha com medo de monstros debaixo da cama. Acho que um soco doeria menos.

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⏰ Última atualização: Jan 01 ⏰

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Com amor, Marjorie • JKOnde histórias criam vida. Descubra agora