O Passado

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Resolvi aproveitar a tristeza da cenas dos últimos dias e escrever esse capítulo, que inicialmente planejei que viesse mais pra frente. Bom, já que estamos na merda, vamos canalizar esse sofrimento com arte, né?
Já peço desculpas, o capítulo abaixo pode gerar gatilhos de homofobia, luto, e agressões verbais.
De antemão, peço perdão. Tem aviso de gatilho no meio da história.
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Kelvin acordara com uma enorme dor de cabeça naquele dia 27. Era um dia difícil para si, e assim como em todos os anos, era mais uma das datas em que optava por se isolar. A data parecia ser carregada de coisas ruins para si.

A morte dos pais, a briga com a irmã, a briga com Ramiro.

Fechou o computador, embora sua editora estivesse lhe cobrando um novo livro (e com razão) não conseguiria escrever enquanto seu pensamento estava a mil.

Kelvin havia tornado-se escritor após deixar o Naitendei. Não conseguira se apresentar mais lá desde a última vez que Ramiro o procurou.

Levantou-se da mesa, passando as mãos pelo seu cabelo. Estava desesperado e via as cenas voltarem como um soco cru a sua mente. Decidiu-se pelo usual, foi para seu quarto e deitou na cama, encolhido como uma criança.

Sentiu Ramiro vir, e deixar um pequeno café da manhã ao seu lado, na escrivaninha. O preto já havia percebido há alguns anos que não era uma data fácil para o ruivo e decidira somente cuidar do mesmo. Sempre mandava as crianças para a casa de sua irmã, Petra, que agora tinha dois filhos com seu marido, Hélio, nessa data. Sabia como o pai ficava e não queria que elas o vissem naquela situação.

Mas aquele ano era diferente, pelo o que acontecera, Kelvin estava ainda pior. Viu-se, no meio da tarde, chorando entre altos soluços lembrando de tudo que acontecera.

Havia se rendido a Ramiro novamente. Algo que prometera a si mesmo nunca fazer.

Ramiro, no quarto ao lado, ouvia tudo aquilo em desespero. De todos os anos que passara vendo Kelvin em sofrimento, aquele era o pior. Lutando contra si mesmo, levantou-se de sua cama, indo em direção ao quarto do lado.

Bateu á porta lilás a sua frente, uma alusão a friends.

— Kevin...

Ramiro não precisou falar nada, ouviu uma voz cansada do outro lado da porta. Kelvin estava exausto, precisava ser acolhido.

— Entra, fica aqui comigo.

Ramiro entrou no quarto, sentando ao lado de Kelvin na cama, que logo se acolheu no colo dele, fazendo-se deitar sobre o peito do maior. Ali, alinhado com seu maior pesadelo e seu maior sonho, permitiu-se a chorar ainda mais.

— Se você precisar de alguém pra contar o que tá acontecendo, eu tô aqui. — Suas mãos foram para os cabelos de Kelvin, com o objetivo de fazer um cafuné ali. A mão se retraiu em automático e Ramiro levantou assustado — Kevin, você tá ardendo em febre.

— Eu tô cansado de ser sozinho... — balbuciava, agora encolhido enquanto Ramiro procurava por um remédio. — porque tinha que ser assim, Mari? Porque você não me aceitou? — Kelvin tremia, entre soluços. Ramiro finalmente encontrou um remédio e trouxe até ele com um copo d'água. — Porque você me abandonou? Porque você preferiu minha irmã?

— Kevin... ei... toma isso aqui Kevin.

Kelvin tomou o comprimido, puxando Ramiro pelo braço e voltando-se a alinhar sobre ele. O preto sentia o corpo quente sobre si, e mesmo que fosse incômodo, não teria força nem coragem para tira-lo dali, sentia que devia isso a ele.

Unusual Family Where stories live. Discover now