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                                Capítulo XXI:
           Susto







Pisco meus olhos, encarando ainda sem reação meu reflexo totalmente distorcido no espelho de meu pequeno banheiro; apertando com força as bordas da pia... Não conseguindo mais me reconhecer.

  ...

                        Essa realmente sou eu..?

    Pego a tesoura na bancada, a apertando em meus dedos.. A guiando em direção ao meu cabelo agora negro e grande; esticando algumas mechas grandes do mesmo para o cortar e partir para minha franja que tampa meus olhos.. . Passo a mão em meu rosto, tirando os fios pequenos de meu cabelo que caem por meu rosto, a medida que ajeito minha franja e a deixo curta, um pouco a cima do meio de minha testa.. Limpando também, as lágrimas solitárias que descem por minha bochecha vermelha...

    Estou muito diferente.. Eu não gosto disso.. . Eu gostava de meu cabelo loiro.. Eu o amava muito.. . Aquele cabelo era minha vida, adorava fazer vários penteados, e principalmente as tranças para imitar a Rapunzel.. . Sorriu, ao associar a Rapunzel a mim.. Somos realmente parecidas.. A diferença é que nenhum cara vira me salvar... . Não tenho um pai e mãe de verdade me esperando em algum lugar do mundo.. .

                  Será que seus ossos já viraram pó?

Suspiro, trincando minha mandíbula, desligando a luz do banheiro enquanto caminho para fora do mesmo e esbarro na sra. Velentine...

— Opa..!

A seguro pelo instinto, começando a gargalhar após a mesma me encarar de olhos arregalados e mão no peito, ao encarar meu cabelo picotado e nada uniforme...
— Está tão ruim assim?— sorriu..

— Não..— disse baixo.. . Sei que a mesma não quer magoar meus sentimentos.. Por isso, diz isso.. . Um verdadeiro eufemismo.— Mas me dói o coração ver você cortando quase toda semana seu cabelinho bonito...— passou a mão pelo mesmo, o ajeitando..

O meu também dói...
   
— Ah.. Não tem problema, vó!— engulo seco, desviando o olhar do seu, caminhando em direção a sala, calçando meu tênis para sair...— Cabelo cresce de qualquer jeito... . Vai ficar tudo bem.

Tá tudo bem.

Já vai trabalhar?— perguntou angustiada.. . Eu sei como ela se sente.. Deve estar preocupada comigo, sozinha em todas essas horas.. . Tenho apenas dezesseis anos, mas sou bastante responsável.. Pelo menos é o que acho.— Tenha cuidado. Qualquer coisa, grite, grite muito! Não tenha medo de gritar e pedir ajuda, ok?

— Está bem.— concordo, sentindo meu coração bater rápido.. . Não quero que aconteça alguma coisa, que eu vá precisar gritar aos quatro cantos do mundo assim.. . Espero que fique tudo bem.

     — Bom trabalho, querida.

    Deu um beijo estralado no topo de minha cabeça, fechando a porta assim que saio pela mesma, e começo a correr pelas ruas para chegar mais rápido no meu local de trabalho; descendo rua abaixo...

                                        |• • •|

    — Aqui está o troco...

Falo baixo, lhe entregando o troco de suas compras que me deixaram com água na boca, a medida que abre seu sanduíche natural na minha frente e o levou até a boca, comendo, saindo pela loja.. Desviando o olhar para baixo, com a barriga roncando em fome...

Quando Você ChegouOnde histórias criam vida. Descubra agora