Show de Natal

Capítulo 2 - Carolina Maria

- Mana, você sabe quem está no Brasil?

Pensei em sua pergunta e não imaginava, então respondi o óbvio.

– Não, quem?

Eu não encarei a minha irmã, estava concentrada na minha tela, a pintura era o amor da minha vida, depois de Lincoln claro, mas agora sendo adulta e aluna da universidade federal da turma de T.I, não cai bem falar isso em voz alta, porque sou menos que nada para Lincoln e isso soa bem infantil.

Cibele corta meus pensamentos e torna a falar.

– A banda The Oásis.

Pronto, meu coração acelerou e derrubei o pincel. Cibele solta um risinho debochado.

– Olha que pateta minha irmã, ainda é apaixonada pelo vocalista? Lino, Lenon, como é mesmo o nome dele?

- Lincoln! E não tem nada a ver tá, ele é só meu ídolo, e serei fã dele para sempre.

– Nossa Carol, seus olhos brilham quando falo dele, tenta ver ele agora, você é tão linda, acho que ele pode se apaixonar por você, mamãe conta que ele ficou babando em você no seu aniversário mas sensatamente não roubou lhe um beijo.

O que é uma pena.

– Não mesmo, eu não sou o exemplo de garota dos sonhos de nenhum cara. Droga, tantos anos de terapia e a dor do complexo de inferioridade me assola outra vez. Eu estava bem sem isso.

– O primeiro show é em Felicidade, aquela cidade linda na divisa dos Estados, vamos irmãzinha?

Espera, desde quando a Ci se interessa por shows?

– Nem pensar, você é uma criança.
– O teu nariz Carol, eu já tenho treze anos, logo faço quatorze, sou uma adolescente e pessoas da minha idade morrem de vontade de assistir um show.

Baixo a guarda porque não gosto de irritar os outros e minha irmã está bufando, parece que a ofendi pra valer.

– Tudo bem, vou falar com o papai.

– Ah você é esperta, a mamãe é linha dura, e o papai é maior aliado nosso, vai lá, vamos assistir o show de camarote.

– Mas não vou insistir, está bem? Papai já foi incrível no meu aniversário de quinze anos e aquilo foi a realização do meu sonho.

– Ah mas se podemos assistir o show deles mais vezes porque não?

Sorri, era verdade. Papai era tão rico e bondoso que era capaz de ceder um dos seus jatinhos de aluguel só para levar a gente.

Limpei os pincéis cuidadosamente, enquanto pensava, o desenho sempre foi minha fuga da vida, da realidade. Hoje eu estava pintando para dissipar da mente uma conversa que ouvi no banheiro da faculdade.

As garotas brincavam entre elas dizendo os motivos pelos quais eram pegáveis, até que a Lídia soltou algo que me chocou:

Ah eu sou meio gordinha mas não sou manca como a Nerd, ela sim é esquisita.

Pronto. Senti um nó no estômago, péssima por
me acharem esquisita pela milésima vez. Droga! Eu detesto ser a nerd isolada, sempre evito as festinhas,  confiar nas pessoas e criar expectativas, sim eu não cultivo nenhuma fé nas pessoas, exceto minha família, meu porto seguro, elas tem seus motivos, mas essa Lídia foi bem maldosa, só porque tem baixa autoestima, decidiu que devia eleger alguém para ser pior que ela, e a escolhida foi eu. Bufo, garota mesquinha.

Enfim, para não ficar pensando nisso, resolvi pintar, respirei do fundo da minha alma e optei por uma paisagem. Saiu uma pintura meio sombria igual meu coração hoje.

Poxa vida, eu me esforço para não desanimar, porque muitas vezes eu sinto inveja das garotas que tem um namorado, já que sou covarde e não consigo me arriscar, mesmo que às vezes eu feche meus olhos e me imagine sendo beijada, fica nisso mesmo, afinal quem ia querer beijar uma esquisita como eu?

E lá vou eu, chorar porque sou manca. Calada sua bobona, pára com essa mania de ter pena de si mesma, você é tão patética Carolina Maria.

– Filha? borboletinha do papai?
Reviro os olhos, Matheus Alcântara é o melhor pai do mundo, mas as manias de infância permanecem e tenho certeza que qualquer dia passo vergonha com ele.

_ Entra pai!
_ Meu amor porque está fechada aqui com esse calor? Temos uma piscina enorme esperando por você lá fora, a Cibele já arrastei, vamos filha, anda logo!
nem tento protestar, sei o quem vem a seguir.
_ Tudo bem eu aceito, me deixa por um biquíni. digo e já sai correndo antes que ele me coloque sobre os ombros e me jogue na piscina, eu conheço essa história decor, é assim desde que eles me adotaram, papai não sabe o que significa privacidade pr chorar as pitangas, se ele perceber que há algo errado pronto, faz de tudo para me deixar feliz, me fazer sorrir é seu dom mais generoso, ele não aceita tristeza, quer fazer todas nós felizes, sempre diz que por isso que a vida nos deu a ele; que é sua missão.

No fim meu pai é o rei das soluções, um sorvete, um filme, uma parque, uma piscina, compras no shopping ou noite da pizza, caça ao tesouro de chocolate quando a mamãe está de TPM. Se existe um homem perfeito nesse mundo é meu pai. Faço uma selfie com ele e escrevo “Ele é o melhor (coração)  Pai te amo! Posto no instagram e marco ele.

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Beijos
Obrigada por sua leitura.
♥️♥️