Prólogo

61 6 2
                                    

⠀⠀⠀⠀𝐓udo passou muito devagar nesses últimos dois meses, como se fosse uma eternidade inteira correndo diante dos meus olhos, como algo que eu não pudesse controlar

Oops! This image does not follow our content guidelines. To continue publishing, please remove it or upload a different image.

⠀⠀⠀⠀𝐓udo passou muito devagar nesses últimos dois meses, como se fosse uma eternidade inteira correndo diante dos meus olhos, como algo que eu não pudesse controlar. Olhar para uma simples tela agora parecia inútil. — E realmente era. O que eu esperava que acontecesse afinal? Eu deveria imaginar que não acabaria tão bem, mas… Deveria ser tão trágico assim? Por que aquela sensação ruim parecia persistir em mim? Não era nada reconfortante.

As memórias eram como pequenos flashes em minha cabeça, quanto mais eu pensava, mais meu peito parecia sentir como se estivesse sendo esmagado por um peso avassalador de culpa e mágoa. Depois do que pensei ser o fim, e que tudo acabaria bem, eu pude perceber que, mesmo com todo o esforço que coloquei nisso, parecia tão em vão. Eu estou bem com o fato de que o objetivo principal de tudo foi concluído, mas estranhamente, isso não me alivia.

Eu deveria ficar feliz por isso, nós conseguimos, não precisávamos mais sentir medo. Mas eu não sentia isso. Parece que, quanto mais eu olho ao redor, e percebo cada um voltando a sua própria vida cotidiana, sua própria rotina, eu percebo que estou ficando para trás, que estou me afundando e não estou fazendo o que é o certo. O que estou fazendo de errado afinal? Por que não consigo finalmente ficar contente em estar tudo bem?

Eu tentei ficar forte, por mim e pelos outros, por tudo e todos. Mas é o que dizem, "até os mais fortes sentem dor", e agora posso reconhecer isso. Não sou nenhum pouco forte como dizem por aí. Sinto que estou indo cada vez mais para o fundo, uma sensação interminável de desamparo correndo dentro de mim como se eu ainda estivesse vivendo aqueles dias assombrosos. Suponho que não era para ser assim, não agora que tudo teve seu fim, mas parece que dentro das minhas memórias, nada chegou ao seu fim verdadeiro.

Dois meses sem qualquer resquício de mudança, era tudo igual, o silêncio era o mesmo. Olhando para a tela do celular, eu não podia mais esperar nada, porque eu sabia que não teria nada ali me esperando — e com certeza não chegaria mais nada. Eu dei um pequeno suspiro baixo, olhando agora pela janela, o céu parecia completamente fechado agora, a chuva caindo desde a noite anterior. Ótimo.

— Hum… Lia? — Uma voz soou atrás de mim na porta, mas eu não respondi diretamente, apenas um pequeno murmúrio de "hm" para dizer que estava ouvindo, mesmo que com a cabeça distante. — Eu apenas vim ver se estava tudo bem, você não saiu do quarto desde a semana passada. Tem certeza de que não tem nada errado? — Muitas coisas estavam erradas naquele momento, pelo menos na minha cabeça.

— Eu estou ótima, Natasha, não se preocupe. — Disse tentando parecer o mais confiante possível, afinal, eu prometi que tudo ficaria bem.

— Você parece meio desanimada, aconteceu alguma coisa? — Aconteceram tantas coisas, mas não estava pronta para voltar neste tópico em questão.

— Não, eu estou bem, não aconteceu nada. Só estou um pouco entediada, você sabe, dias de chuva não são muito minha praia. — Disse com um pequeno riso, saindo de perto da janela.

— Entendo… — Natasha parecia um pouco mais convencida agora, embora ainda estivesse pensativa. — Quer fazer alguma coisa? Sabe… Você e eu. Não podemos sair de qualquer forma por culpa da chuva, talvez pudéssemos fazer algo aqui mesmo. O que acha?

Eu praguejei, coçando a testa e jogando o cabelo para trás, era uma tarde entediante, mas não era como se eu estivesse com vontade de fazer algo de fato.

— Obrigada. Mas acho que vou apenas fazer um chá e ficar por aqui mesmo.

Natasha não soube muito bem como me responder, estreitando os olhos com uma careta entediada e um grunhido de uma possível frustração, — se não por falhar em me tirar do quarto, por não me convencer a fazer o que ela quer — eu no lugar dela, teria desistido, mas ela parecia persistir, mesmo agora sumindo do meu campo de visão, a televisão da sala alta demais para que eu escutasse o que ela havia acabado de murmurar em resposta.

Perda de tempo.

Bastou sua saída, eu me levantei, arqueando as costas com ruídos dos ossos estalando, os músculos adormecidos pela posição desconfortável. Passou-se tanto tempo desde que fiquei fazendo nada mais do que assistir a água escorrer da vidraça, que simplesmente perdi a noção do tempo. Batuquei as mãos nas roupas, deslizando pelos bolsos do shorts de poliéster e do moletom velho e acinzentado, não encontrando meu telefone.

— Natasha, eu deixei meu celular na sala? — Tentei soar mais alto do que a televisão ligada.

— Está carregando no balcão. — Fui buscá-lo, passos curtos de pés descalços. Péssimo hábito quando você mora com alguém que tem mania de limpeza. — O que eu disse sobre andar sem chinelos no chão recém lavado?

— Meus pés estão limpos e lavados também. — Tomei o telefone do carregador, a tela piscando em diversas notificações, operadoras, vídeos da internet, notícias e… Jessy?


Notificação
Jessy adicionou você

Jessy: Ei Lia, você ainda está aí?

Duskwood: The ForestWhere stories live. Discover now