A fuga

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O sol já se escondera no horizonte.

Os homens regressavam de mais um dia de trabalho no campo.
A meio do caminho,  o bar do Chico convidava para um copo de cachaça.

Manuel Vilar e sua troupe eram clientes assíduos.  Todos os dias era religiosamente cumprida a tradição.

O problema era que saíam dali de cara cheia e as esposas é que sofriam em casa.

Lídia Vilar olhava o relógio constantemente.
Veio até à soleira da porta chamar a sua única filha.

- Juliette,  vem para dentro.  Se o teu pai te vê na rua já sabes o que acontece.

Juliette era uma jóia de menina.  Tinha terminado a escola e queria continuar a estudar.   O pai não deixou, pois mulher é para ficar em casa cuidando do marido, da casa e dos filhos.

Agora que completou 14 anos já estava prometida, dizia ele à esposa.

Tanto Lídia como Juliette viviam um autêntico inferno naquela casa.  Raro era o dia em que Manuel não agredia a esposa.  Tudo servia de pretexto.
Ou o jantar estava frio, ou quente, ou não era aquilo, ou fez ou deixou de fazer.

Era certo e sabido que o motivo sempre aparecia.

Passava das 20 horas quando Manuel chegou a cambalear e a falar enrolado.

- Muuulheerr!  O jantarrrr?

- Está já aqui na mesa.

- O viiiiinho?

- Ó homem.  Não achas que já bebeste que chegue?

O som de um estalo ecoou no ar.  Lídia levou a mão à cara e Juliette correu até ela.

- Que é isso pai.  Que inferno!  Todos os dias?  Fica lá no boteco e enche a cara até morreres.

- Como te atreves, minha galdéria?  Já vais ver como elas te mordem.  Tu e a tua mãe são umas galdérias.  Não servem para nada.

Manuel desafivelou o cinto e retirou-o das calças indo em direcção à Juliette para lhe bater.

Lídia colocou-se entre os dois e deu-lhe um empurrão fazendo-o cair.
Tentou levantar-se mas por estar tão bêbado não conseguiu.  Logo depois caiu num sono profundo.

- Mãe, vamos embora agora mesmo.
Arruma uma pouca de roupa tua e eu minha e vamos.
Vamos a pé até à vila e lá apanhamos um ónibus para qualquer lado.

- Ju!  Mas somos duas mulheres.  O que vão falar de nós?

- Não interessa mãe.  Tudo será melhor que esta miséria de vida.  Tens algum dinheiro?

- Tenho um pouco ali guardado.  O teu pai ia comprar um porco para a gente criar e também recebeu ontem o salário.

- Leva tudo.  Leva um pouco de comida.  Nós duas vamos trabalhar.  À fome não vamos morrer.

Com duas trouxas de roupa, uma sacola com comida e àgua as duas partiram.
A noite estava amena e o percurso até à vila não era longo.

Ao chegarem no terminal rodoviário perguntaram se havia ainda algum ónibus a sair.

- Dentro de dez minutos sai um para Brasília, depois só ao meio-dia.

- Depois de saber o preço dos bilhetes, Lídia pediu 2 e sem olharem para trás partiu rumo a Brasília.

A viagem era longa pelo que aproveitaram para dormir.

Chegaram na cidade grande e Juliette que nunca tinha saído do lugarejo arregalava os olhos a cada coisa que via.

- E agora Ju, para onde nós vamos?

- Anda mãe.  Vamos andar um pouco e ver como é aqui.

Elas circulavam por uma rua de muitas lojas e em todas Juliette entrava e oferecia os seus serviços e os da mãe.

- Não minha linda.  Não precisamos de ninguém.

- Obrigada.

De seguida,  Juliette entrou num pronto a vestir.

- E em que queres trabalhar?

- Qualquer coisa.  A minha mãe sabe costurar muito bem e cozinhar também.  Eu sei cozinhar, limpar e também cozer botões e baínhas.

- Onde está a tua mãe?

- Lá fora.  - Mãe, vem cá por favor.

- Olhe  minha senhora.  Eu realmente estou a precisar de uma costureira para fazer uns arranjos.  Posso deixá-la à experiência.   Mas a sua filha ainda é muito criança.   Ninguém lhe vai dar trabalho aqui.

- Eu aceito.  Se eu trabalhar posso sustentar as duas.  Só temos um problema.   Nós fugimos do pai dela e não temos onde ficar.

Lídia não teve vergonha de contar o que tinha sido a sua vida até ali e também que o marido queria casar Juliette.

- Eu sei bem o que isso é.  Meu pai foi igual.  Minha mãe sofreu muito e morreu nova e eu casei com um homem muito bom.  Também era nova mas não tão nova como a sua menina.
O meu marido arranjou este negócio para os dois mas faleceu há dois anos.

A minha casa não é muito grande mas tenho um quartinho a mais.  Se quiserem podem lá ficar até arranjar melhor.

Juliette atirou-se ao pescoço da mãe enquanto lhe beijava as bochechas.

- Vai dar certo, mãe.   Eu disse que vai.

- Vai sim filha.

- Obrigada dona?

- Ana.  Meu nome é Ana.

Juliette deu-lhe igualmente um beijo.

- Obrigada, senhora Ana.

- Então!  Estamos na hora de almoço.   Vou fechar e vamos lá para casa para vocês conhecerem.  Não é longe, vamos a pé.

Juliette parecia um passarinho a saltitar num só pé.

- Comporta-te Ju.  Já és uma mocinha.

- É que estou muito, muito feliz.

Ana sorria.

- Deixe-a.  Está só a ser ela.  Por certo já reprimiu muito os sentimentos.

- Tem razão.   Nunca a vi tão contente.
Só sorria assim quando ia para a escola.  No regresso já vinha triste.

- E porque abandonou a escola?

- O pai não a deixou continuar.  Tratou logo de lhe arranjar pretendente, mas era o sonho dela.
Desde criança que dizia que havia de ser médica.

- Ainda vai a tempo.  Sempre há tempo.

- Se eu pudesse, dava-lhe o mundo - disse Lídia.

N/A

Oi amigas
Refiz a história porque não estava a gostar do outro enredo

Espero que gostem

A vida em nossas mãos Where stories live. Discover now