☠️🌪⚡️Dúvida 10: Um pedido intrigante de uma pessoa mais intrigante ainda!

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   "Me importar com isso pra quê, se não vou durar muito mais tempo vivo? Nada disso faz sentido, eu não preciso mais de nada disso. O final vai ser o mesmo, então se foda essa merda toda", foi quando eu comecei a me recuperar do incidente que deveria ter tirado minha vida que, junto com meus esforços pra continuar vivo, pensamentos como esse começaram a surgir. E pra falar a verdade, tais pensamentos estavam mais do que certos. É por isso que essa ideologia me persegue até hoje.

"Se eu não vou poder mais correr, se eu não vou poder mais pular, gritar, fazer esforço físico algum, ou melhor, se eu não vou poder fazer nada além de repousar em uma cama pra sempre, não faz sentido fazer mais nada... não faz sentido viver", quanto mais tempo se passava, mais eu percebia que aqueles pensamentos não eram só o devaneio de alguém triste por, em um intervalo de alguns meses, ter sua saúde levada embora, mas sim a mais pura realidade.

De que adianta continuar vivo se não se pode fazer o que quer? De que adianta continuar vivo se estar de pé já não é mais uma vontade? De que adianta forçar a si mesmo a estar vivo... quando em seu coração já não lhe resta mais nada?

No começo, a tristeza que semeava em meu interior só me impedia de querer conversar com qualquer pessoa. Quando me dei conta, só o ato de abrir os olhos pela manhã já havia se tornado uma missão quase impossível. Em meio a isso tudo, meu cérebro descobriu uma única maneira de me forçar a fazer certas coisas: a dopamina.

Em pouco tempo, a dieta receitada pelos nutricionistas do hospital em que estive internado se transformou em um simples papel, um papel rabiscado e sem valor algum. Ao invés de uma boa alimentação, os piores tipos de besteira eram o me faziam bem. Chocolate, fast food, comida instantânea; pouco tempo após ter alta do hospital e voltar pra casa, foram essas merdas todas que haviam se transformado em minha refeição principal, e por mais terríveis que fossem pro meu organismo, me faziam sentir o mínimo de prazer em estar mastigando e engolindo algo.

Com isso, a chegada da magreza que tomou conta do meu corpo, graças a uma única refeição de besteira por dia que eu costumava fazer, foi inevitável. A falta de força até mesmo pra ficar em pé concordava plenamente com minha ausência de vontade pra qualquer coisa, principalmente aquelas que demandavam de esforço físico. De tão mal que tudo aquilo deixou meu corpo, comecei a vomitar tudo o que comia, com o passar do tempo. Comer besteira já não me trazia felicidade alguma; pelo contrário, tinha se juntado ao mal que meu coração sentia dia após dia.

Foi quando, em um certo dia, meu pai invadiu meu quarto com um presente enorme pra mim. A partir dali, uma nova fonte de dopamina fora criada em meu cérebro: jogar no console que meu pai me deu.

Eu não comia direito mais, isso quando comia. Dificilmente dormia à noite, e raramente dormia mais do que quatro horas por dia. A única coisa que me tirava do colchão extremamente desconfortável da minha cama era a vontade de ir no banheiro pra vomitar e fazer as demais necessidades. Tudo em prol de ter mais horas de jogo, tudo só pra ter mais tempo com aquilo que me fazia tão bem.

Aquilo não deveria ter se tornado um problema, mas se provou um vício pior do que o fast food quando, ao minha mãe trazer o espelho de casa até mim, esbanjando preocupação, fui capaz de enxergar o tanto que aquilo estava me matando.

Ver aquela cena eletrocutou meu interior em um susto que me lembro até hoje. Um rosto seco, incolor e enfeitado com olheiras enormes abaixo dos dois olhos, além das duas cicatrizes na bochecha e na testa; um corpo esquelético que parecia até pertencer a alguém que possuía uma doença terminal. Pior do que isso eram os olhos vazios e sem brilho que enfeitafam minha face, olhos que pertenciam a alguém que já não mais se importava com o rumo que estava tomando. Aquela foi a cena que vi no espelho... mas não tinha problema, né?

A Promessa Dos Opostos [EM ANDAMENTO]Onde histórias criam vida. Descubra agora