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Mamãe, cheguei — digo fechando a porta da frente e colocando minha mala no canto, sem resposta. Continuo caminhando até a entrada da cozinha e, lá, na mesa de jantar, estava um buquê de rosas brancas, sem bilhete, sem nada. Eu estranho, mas a curiosidade era maior que o meu medo. Agarro o buquê junto ao corpo, deixando meu nariz ser dominado pelo cheiro das flores.

— Lindas, não? — uma voz preenche todo o ambiente, me fazendo derrubar o buquê de susto. Coloco a mão no peito e me abaixo para pegar as flores. Quando me levanto, meus olhos se encontram com os de Suzy, a doméstica.

— Sim, são lindas — digo, finalmente conseguindo responder. — De quem são?

— Não sei, querida, estavam aí quando eu cheguei — diz Suzy, com surpresa.

— Deve ter sido meu irmão — respondo, dando de ombros para tentar amenizar a situação. Mas no fundo, eu sabia que não era ele, eu só queria acreditar nisso.

— Onde está minha mãe? — pergunto, colocando as rosas no vaso e me virando para Suzy.

— Sua mãe foi fazer compras para o neto — ela diz em um tom suave.

— É a única coisa com que ela se importa, não é mesmo? — murmuro para mim mesma, subindo as escadas.

🤍🤍🤍

Entro no hall do hospital e a enfermeira já me reconhece, direcionando-me para a sala onde as crianças estão presentes. Sim, era isso que eu fazia no meu tempo livre: lia para todas aquelas crianças carentes de atenção. Eu amava passar meu tempo lá, e não era para colocar em algum tipo de currículo para faculdade, como a maioria dos adolescentes faz; era porque eu gostava e me sentia muito bem fazendo isso, como se lavasse a minha alma.

Chego à porta da sala e todas as crianças vêm em minha direção, pulando alegremente. Aquilo era melhor que qualquer coisa para mim. Ver aquelas crianças em estágio terminal sorrindo por minha causa era encantador. Saber que um simples ato de ler para elas as deixava tão felizes, como se tivessem ganhado um prêmio ou algo parecido.

— Tia Mary! — dizem em conjunto, agarrando-se às minhas pernas e me fazendo gargalhar.

— O que você vai ler para nós hoje, tia? — pergunta Henry. Ele era uma das crianças mais fofas que eu já tinha visto na vida, e sua história me tocou bastante, por isso ele era o meu favorito. Tinha cerca de cinco anos, seu cabelo havia sido raspado por causa do câncer que ele desenvolveu no estômago. Ele era tão magrinho, e quando seus pais descobriram sua condição, o abandonaram aqui. Todos os dias ele me pergunta se os pais estão vindo visitá-lo. Isso parte o meu coração. Como podem os pais fazerem isso com uma criança tão frágil, que só precisa de amor e carinho?

— Vou ler uma história muito especial — digo, sentando-me no pufe, e todos se sentam ao meu redor, com olhinhos ansiosos me olhando para que eu comece logo a história.

— Era uma vez... — começo a história, e todos prestam atenção.

🤍🤍🤍

— Mas, tia Mary, por que a princesa gostou da Fera, mesmo ela sendo feia? — Lorenzo me pergunta.

— Ótima pergunta, Lou. A Bela não se apaixonou pela beleza da Fera, mas sim por outra beleza — faço uma pausa dramática para suspense.

— Que outra beleza, tia?

— Uma beleza que é para poucos, e eu tenho certeza que todos vocês aqui têm: a beleza do coração.

— Beleza do coração, tia? — as crianças me interrogam curiosas.

— Isso mesmo, a beleza do coração é a caridade e a bondade que permanecem no coração, que é a beleza que realmente importa.

Todas me olham com olhares curiosos. É muito importante que saibam sobre a beleza interior porque, infelizmente, por causa das doenças, as aparências das crianças não são muito agradáveis. Elas têm que saber que as pessoas não se apaixonam somente pela beleza física.

Termino meu horário com as crianças, me dirijo ao carro, abro a porta e, antes de me sentar no banco, meus olhos encontram um buquê de rosas brancas. Congelo instantaneamente; por um segundo meu coração para de bombear o sangue, sinto minha respiração falhar.

Merda.

Pego o buquê nas mãos e lá está um cartão: "Tão pura igual a rosa branca". E nada assinado, nem um sinal, nem uma pista de quem teria feito isso.

Minhas mãos tremem. Fecho a porta do carro e começo a olhar de um lado para o outro, tentando encontrar alguma pista do meu admirador secreto. Que porra era aquela? Que tipo de pessoa doente escreve isso?

E nada, nada estava lá, nem uma alma viva. Me apresso para entrar no carro e dirijo para casa, tentando não pensar em como a pessoa entrou no meu carro, e o mais importante: por que ele estava fazendo isso? Era uma pegadinha de mau gosto ou algo do tipo? Aperto minha mão no volante ao pensar nas possibilidades.

Droga.

As palavras do bilhete ressurgem na minha mente como um martelo: "Tão pura igual a rosa branca". Quem mandaria isso? Com certeza não seria alguém normal.

Entro em casa um pouco apressada, enquanto destranco a porta com uma certa pressa e ansiedade. Sinto como se estivesse sendo observada. Minhas mãos tremem ao tentar abrir a porta mais rápido.

— Droga! — murmuro quando a chave cai no chão.

Me apresso para pegar o molho de chaves do chão. Enfio a chave na porta e, no momento em que ouço o barulho da porta sendo destrancada, um raio estrondoso cai pelas ruas de Detroit, me fazendo dar um pulinho de susto. Sinto minha respiração falhar com o som alto, colocando as mãos nos ouvidos para amenizar o som ensurdecedor.

Entro rapidamente em casa, trancando a porta em seguida. Finalmente solto um suspiro, como se estivesse segurando isso há muito tempo.

Minha casa está escura e a chuva cai forte pelas ruas da cidade. Esse era o clima perfeito para me deitar na minha cama confortável e dormir, mas o temor pelo desconhecido me impedia de ter descanso.

Deito na minha cama, me enrolando no lençol, mas o sono não me domina. Viro para o outro lado, e a ansiedade me consome. Uma sensação de desconforto me envolve, como se olhares invisíveis me rodearam. Meus olhos percorrem nervosamente o ambiente, tentando decifrar a origem dessa estranha percepção, enquanto a quietude da noite amplifica o som da minha própria respiração.

Nada, não tinha nenhuma alma viva no quarto, mas o sentimento ainda me dominava. Tento confortar a mim mesma, dizendo que isso deve ser por causa da pegadinha das flores mais cedo, mas não consigo engolir essa verdade que meu subconsciente criou para me fazer sentir melhor. Apenas não era viável para mim que alguém fizesse aquilo só para me assustar, ou apenas por pura diversão.

Quem seria tão psicopata e sádico a esse ponto? E por quê? Que eu me lembre, eu não tinha nenhum inimigo declarado.

Eu era uma simples garota, não fazia mal a ninguém. Por que a mim decidem importunar? Eu poderia dar uma lista de nomes de pessoas que mereciam ser torturadas psicologicamente dessa maneira.

Mas não eu. Eu não merecia isso.

OBSSESION - Damon Torrance e Will GraysonOnde histórias criam vida. Descubra agora