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Os tiros começam à distância, mas eu posso sentir eles mais do que apenas só ouvir. O ar da manhã treme com o barulho vindo. As algemas apertavam o meu corpo, mas não me importo. Eu corro para perto da cama e me escondo embaixo dela. As molas de metal cavam em mim, mas eu me certifico de me cobrir. Sinto cheiro de fumaça e ouço o som de pés batendo no chão. O pânico e o terror são tangíveis quando cubro a boca para impedir de emitir um som. Meus olhos são puxados feito dois risquinhos, o que era um forte contraste com meu rosto gordinho e eu sinto lágrimas cortando minhas pequenas bochechas. Meu coração treme contra o meu peito quando sinto medo, ele flui pelo quarto, mas eu o engulo. Eu tenho que ser corajoso. Eu sabia que isso aconteceria, mas nada poderia me preparar para o som do genocídio acontecendo do lado de fora do meu quarto.

As outras vozes são abafadas pelo som da minha casa caindo aos pedaços, mas há um som que nunca vou esquecer. Nem agora. E nem nunca. O som dela morrendo. O baque da morte quando sacudiu o chão embaixo de mim. Fiquei escondido, mesmo quando sentia o cheiro de fogo e quando o som de gritos passou por mim. Quando os tiros caíram. Eu me segurei em meus braços e orei, mas nunca me mexi. Apenas fiquei. Quando nenhum som foi ouvido, saí debaixo da cama, tremendo, cansado, faminto, com sede e sozinho. O sol brilhava através de buracos de bala na parede do quarto como estrelas no céu noturno. Quando abri lentamente a porta para as ruínas da minha casa vendo cadáver da mamãe, a realidade começou a afundar. Apenas quando Vegas apareceu, meu corpo voltou a realidade. Ele estava na porta da entrada do que antes era uma casa, olhando para mim com aquele olhar superaquecido e gentil. Me pegou no colo e me levou para um lugar quente, sem a fumaça horrível e intoxicante dentro do que antes deveria ser um lar. Mas no segundo em que as paredes negras da Casa Vallack ¹ me engolem, eu sei que é um jogo perigoso que estou jogando. Um que ameaça me consumir. Me provocar. Cortar, queimar, e me deixar sangrar.
Até que não haja mais nada para levar.




É preciso abraçar a volúpia, fartar-se de prazeres e não ter medo da morte.

É preciso abraçar a volúpia, fartar-se de prazeres e não ter medo da morte

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