Almoço de Domingo

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— Z, certeza que tudo bem? — Hayato ainda estava um pouco incerto de aceitar o convite do amigo. O jogador acenou para o porteiro do prédio e então fechou a porta de segurança.

— Lógico, minha velha ta doida para te conhecer — o garoto colocou a mão no seu ombro —, a comida é simples, mas garanto ser boa.

Já fazia algumas semanas que o jovem estava o convidando para passar um domingo em sua casa, aparentemente os almoços em família é um costume. Os parentes se juntam nas casas para conversar, comer, fazer churrasco e então, ficam juntas até a noite. Pelo que ouviu de José, em sua casa não era diferente.

Hayato escutou tanto dos pais e irmãos do amigo, que ficou curioso, mas também preocupado em chegar na casa dele sendo praticamente um desconhecido. Porém, como sempre, o mais novo balançou a cabeça e disse estar tudo bem. Ainda completou dizendo que às vezes até pessoas desconhecidas aparecem por lá, só porque conhecem alguém, que conhecem alguém.

O japonês morava nos arredores do centro, mas nunca havia saído do caminho que fazia para o treino ou as aulas de português. Salvo sua pequena aventura no carnaval. Então foi surpreendente ver em como as casas e a aparência dos bairros mudaram em apenas algumas quadras.

As calçadas tinham mato nascendo de algumas rachaduras, e alguns degraus desiguais. Por esse motivo ele e Z andavam pela lateral da rua, e os carros parecia os ignorar completamente como se fosse algo rotineiro. As casas começaram a ficar mais simples do que as que ele vira antes e já não tinha mais prédios altos por perto.

— Z, o que é aquilo na energia?

Com um resmungo, José Wellington procurou o que o amigo estava falando — Uai, é um tênis. Ou você está falando da rabiola?

Naturalmente, o resto da caminhada foi dedicada a Z tentar explicar para Hayato o que era uma pipa, para que servia a rabiola e por que tinha um par de sapatos pendurados nos fios.

Logo a dupla entrou numa ruazinha estreia onde o asfalto parecia uma colcha de retalhos, repleta de remendos com diversos tons diferentes. Os muros eram baixos e de tijolos, não eram todas que tinham acabamento finalizados, ou pintadas, se o japonês tivesse que dizer sequer pareciam acabadas. Foi então que Hayo afirmou a admiração que tinha pelo jovem, vindo de uma situação completamente diferente da sua, Z sorria diariamente, cantava e dançava enquanto organizando as caixas de papelão do estoque do mercado, ajudava em tudo que podia e ainda doava sua amizade para ele.

Um dia, quando fosse bom o suficiente, gostaria de retribuir tudo que o rapaz fez por ele.

Z parou na frente de um portão branco, baixo e feito de barras, dava para um longo corredor, ele pode ouvir e ver algumas pessoas no que parecia os fundos da casa. Assim que entravam, tinha uma pequena área com uma árvore baixa e alguns vasos de barro espalhados embaixo de uma janela. Cada um de uma forma diferente, tinha também alguns brinquedos de plástico coloridos jogados num canto junto de uma bola de futebol.

— Não repara na bagunça, a família é grande — ele fechou o portão.

Andaram um pouco pelo corredor, foi então que Hayato viu uma porta para entrar na residência, aparentemente direto pela cozinha. Lá havia algumas mulheres divididas em diferentes funções, durante o preparo do almoço, davam risada e conversavam em conjunto.

— Aí Mãe.

Hayato era alto, então chamava a atenção, assim que ele entrou no cômodo ficou subitamente pequeno. A mulher que estava no fogão olhou por cima do ombro, rapidamente.

— Ah Zé, nem tive tempo de me arrumar para conhecer seu amigo, olha a bagunça dessa cozinha — ela esfregou as mãos num guardanapo preso no fogão, em seguida ajeitou os fios de cabelo virando para a dupla e abrindo os braços.

Hayato - (H.Ishihara x [Nome])Onde histórias criam vida. Descubra agora