• 010 •

1.3K 203 367
                                    

O quarto espaçoso, com a cama king size e cobertas tão macia que lembravam pelo de ovelha não afastava a lembrança de sentir o cano de gelado do revólver apontado para a sua cabeça, cada vez que Maya fechava os olhos ela sentia seu corpo gelar, sentia o medo crescer em seu estomago e se espalhar para todos os cantos do seu corpo.

Ela relembra como tudo parecia em câmera lenta, a forma que o Bill se abaixou e ofereceu dinheiro para a sua proteção. Em como o Tom apareceu na porta, e lembra exatamente de sentir as gotas se sangue quente do homem cair no seu ombro quando ele levou o tiro antes de fugir. Tudo isso ficava passando na sua mente como um filme que alguém repetia sempre a mesma parte.

Entre os pensamentos sombrios que a dominavam sobre aqueles minutos infinitos de medo e desespero, Maya não percebe quando Bill entra em seu quarto. Ele caminha lentamente e para ao lado da cama pigarreando tentando chamar atenção da garota.

Ela balança a cabeça afastando a nuvem cinza de traumas para longe e se vira encarando Bill. — Oi, desculpa. — Ela massageia as têmporas e depois passa as mãos no rosto. — Eu não vi você entrar.

Bill sorri fraco, onde só um canto da sua boca se curva quase que de forma imperceptível, ele estica a mão mostrando uma xícara com chá quente. — Pedi para Abby fazer para você. — Ela pega a xícara colocando uma mão por baixo enquanto a outra segurava na alça. — Posso? — Ele pergunta fazendo menção sobre se sentar.

Ela confirma com a cabeça de forma sutil enquanto levava a xícara até perto da sua boca e assopra de leve fazendo a fina fumaça branca se esvair para longe do liquido quente.

— Conseguiu tomar um banho? — Ele pergunta se sentando quase que de frente para ela.

— Sim. — A sua voz sai mais baixa do que ela pretendia.

— O seu quarto é do lado do meu, e eu tenho um sono leve. — Ele sorri. — Qualquer coisa pode chamar o meu nome que eu venho correndo.

— Obrigada mais uma vez, Bill. — Ela tira a mão da parte debaixo da xícara e acaricia a mão dele que estava repousando sobre a coberta quente.

Ele a encara curioso, os seus olhos castanhos a contornavam como se estivesse a filmando, quase que memorizando aquele momento.

— Posso perguntar uma coisa? — Ele fala olhando para o chão. — Se não quiser responder, eu super entendo.

Ela abaixa a xícara de chá a deixando entre as suas pernas enquanto o encarava curiosa. — Sim, pode falar.

— Como o Tom sabia onde era a sua casa? — Ele limpa a garganta fazendo o seu pomo de adão subir e descer.

Algo quente sobe pelo esôfago da garota batendo na sua garganta e descendo rapidamente até o seu estomago, era mais forte que uma azia, mas mais controlável do que um refluxo.

Os seus dedos batiam na borda da xícara com chá quente, enquanto a sua língua passava por seus lábios rachados e vermelhos.

— Eu não sei, nunca tive contato com o Tom além do bar.

Mentira número 1.

— Certeza? — A voz calma e baixa do Bill a trazia uma sensação de segurança que antes ela nunca tinha sentido em sua presença.

— Certeza. — Os olhos dela se abaixam e encara o liquido escuro dentro da xícara. — Eu até fiquei surpresa quando o vi ali.

Mentira número 2.

— Tudo bem. — Bill suspira e encara o tento enquanto as suas mãos apoiam atrás do seu corpo. — Só achei muita coincidência.

Maya não acreditava em coincidência, na verdade Luke a ensinou nunca acreditar em coincidência. As coisas acontecem porque alguém fez daquela forma, e se fez é porque algo tinha sido planejado. Não existe o acaso.

ACORRENTADOS  [+18]Where stories live. Discover now