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OLIVIA SINCLAIR

Circuito de Albert Park
Austrália, 24/03/2024
 
   Sorrio ao ver pelo telão da sala que a Ferrari havia ganho e não escondo minha felicidade com os pulinhos de alegria. Era ótimo ver que a equipe estava assumindo novamente a liderança aos poucos e que estavam de fato investindo em carros bons para os pilotos, já que a última temporada foi um completo show de horrores. Estava nessa rotina maluca de acompanhar a Ferrari por todos os lados do mundo já tinha cerca de 1 ano. Tudo começou logo após eu me graduar em fisioterapia e conseguir meu espaço como fisioterapeuta oficial da equipe em tempo integral. Com toda certeza que o networking me ajudou um pouco, mas me manter fixa no cargo veio totalmente por mérito de meu desempenho como profissional da área.

Modéstia parte sentia orgulho de poucas coisas nessa vida e, como boa italiana, trabalhar para Ferrari era uma delas.

Desligo o telão da minha sala localizada dentro do motorhome da ferrari, onde atendia e me sento na cadeira da mesa, pegando minha agenda para começar a organizar o dia de amanhã. ás 09h iria verificar como estava o reflexo dos pilotos após essa corrida e a resposta motora com atividades físicas. Após isso estaria livre, podendo voltar para a Itália novamente e descansar um pouco até a correria da próxima corrida começar. Em vista disso presumo que seria um dia até que tranquilo em vista dos outros.

Retiro meu jaleco branco que hoje optei por usar e o penduro no gancho atrás da minha mesa. Mal podia esperar para chegar no hotel e finalmente descansar propriamente dito. O dia tinha sido uma enorme montanha russa de emoções devido a corrida. Começo a colocar minhas coisas dentro da minha bolsa e sou surpreendida quando a porta se abre chamando minha atenção.

Fecho meus olhos e dou uma breve respirada funda quando Charles adentra na sala e fecha a porta atrás de si. Justo na minha hora de ir para casa, ele não poderia esperar até amanhã?

Charles e eu namoramos por 3 anos e ele foi um dos meios pelo qual entrei na equipe da Ferrari e eu era extremamente grata por isso, mas desde que nosso namoro acabou há 3 meses e meio atrás as coisas ficaram um tanto quanto estranhas. No começo ele até respeitava que a distância entre nós deveria ser mantida e nosso contato seria apenas profissional, como piloto e fisioterapeuta. Mas com o passar do tempo ele foi ficando cada mais atrevido e me colocando em situações sem saída com algumas indiretas. Passou a criar situações apenas para me ver nos intervalos de tempo em que tanto eu quanto ele não estávamos fazendo nada, e o que eu apenas podia fazer era aturar. Não odiava Charles, apenas não queria manter contato. Nem mesmo uma amizade, pois sabia o caos que ele era.

- Olivia, acho que quebrei meu dedo durante a corrida. — Charles fala se sentando na cadeira em frente a mesa e arqueio as sobrancelhas enquanto o olho. Só podia ser brincadeira.

- Não, Charles. Você não quebrou seu dedo. — Respondo já me preparando mentalmente para ficar na sala por mais uns 30 minutos. - Se realmente tivesse o feito você estaria chorando de dor.

Continuo a colocar mais algumas dentro da bolsa torcendo para que ele se tocasse e viesse a sair por boa e livre espontânea vontade.

- É que eu sou muito forte e estou conseguindo me controlar, mas tenho certeza que quebrou. — Ele diz me estendendo a mão e mostrando seus dedos.

Sua expressão facial estava totalmente o oposto de alguém que estava morrendo de dor. Ele parecia mais era estar segurando um sorriso, já que vez ou outra mordia o lábio interior impedindo que a ação se realizasse por completo.

- Aham... — Murmuro e ele apoia o rosto na outra mão passando a olhar para os quadros com o logo da Ferrari na parede.

Me aproximo da sua mão estendida que estava aparentemente normal, sem sinal algum de fratura ou possível luxação. Franzo o cenho e passo a pressionar sua mão levemente com dois dedos e mantenho meu olhar em seu rosto, que continuava sem sinal algum de dor ao meu toque.

- Qual foi o dedo mesmo? — Pergunto chamando sua atenção que ainda estava nos quadros. Já  percebi que era mais uma de suas mentiras, se realmente tivesse quebrado algo em sua mão iria sentir dor ao mínimo toque possível.

- Aiii.. Não aperta. — Ele da um grito de “dor” que quase me tira uma risada de tão falso quando aperto novamente um de seus dedos. Ele faz um bico e me aponta um dedo. - É esse dedo aqui.

Respiro fundo tentado conter minha vontade de o xingar de todos os nomes possíveis e seguro minha postura profissional.

- Não está quebrado. — Falo novamente olhando para sua mão. - Não tem nada de errado com seu dedo, mas se a dor persistir coloque gelo em cima e me procura amanhã.

Falei isso com a esperança dele deixar a sala e eu ir para o hotel, mas Charles continuava sentado e ainda me olhando como se esperasse que eu fosse engessar seu dedo "quebrado".

- Mas só amanhã? Hoje eu vou ficar com dor? — Ele diz se lamentando e se ajeita melhor na cadeira. - Você não pode fazer nada?

- Não posso fazer nada porquê o seu dedo não está quebrado. — Falo dando um falso sorriso ao mesmo, que revira seus olhos. - Duvido até mesmo que esteja sentindo dor.

Ele sabia muito que uma hora ou outra seu péssimo teatro iria cair por água abaixo, até mesmo porquê sua mão estava intacta. Seria menos pior se ele não tivesse inventado um falso dedo quebrado de última hora.

- Você está me negligenciando.. Entendi. — Ele responde fazendo um imenso drama, fazendo com que eu revire meus olhos. - Poderia ao menos olhar meu pescoço? Está doendo da corrida.

Passo as mãos em meu rosto como um pedido de socorro e me aproximo mais, passando a olhar seu pescoço com atenção. Aparentemente estava normal também.

- Seu pescoço está normal. — Falo passando minha mão pelo mesmo e respirando fundo. - Meu expediente já acabou, mas você pode voltar amanhã...

- Talvez eu estivesse fazendo um drama sobre o dedo, mas meu pescoço realmente está doendo. — Ele diz passando a mão pelo pescoço e dando um sorriso fraco.

- É normal que esteja doendo em um nível de desconforto baixo. — Respondo mesmo já sabendo que ele já tinha consciência disso. - Não está machucado.

Pego minha bolsa de cima da mesa já com minhas coisas dentro e sorrio para o mesmo, que vem a se levantar. Graças a deus iria embora.

- Posso te dar uma carona? — Ele pergunta com um sorriso no rosto ajeitando o seu boné na cabeça.

- Eu vim dirigindo um dos carros que a Ferrari disponibiliza para os funcionários. — Falo retirando a chave do bolso e balançando. - Até amanhã.

Aproveito o momento para sair dali e assim o faço rapidamente, quase correndo para o estacionamento onde o carro estava.

Além de estar cansada a essa altura do dia já não tinha mais tanta paciência para lidar com Charles e seus caprichos.

[...]

tied hearts | charles leclercTempat cerita menjadi hidup. Temukan sekarang