prólogo

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Jaehyun se lembrava da primeira vez que havia segurado Sion em seus braços. Ele era tão pequeno, chorava tão sentido e tremia de frio em seu colo. Não sabia explicar o que sentia naquele momento, era um sentimento de felicidade intensa misturado com a incerteza de como criaria aquela criança sozinho. A mãe biológica de Sion não o queria, sua primeira opção era o aborto. Justo, o corpo era dela. E diferente de Jaehyun, a moça havia passado todo o ensino médio estudando para passar em uma boa faculdade. Apesar disso, o coreano pediu para que, se fosse possível, ela seguisse com a gravidez e entregasse o bebê após o nascimento. A garota hesitou, quase não foi convencida, mas lembrou-se que o Jung não tinha família, vivia sozinho naquele apartamento subterrâneo e com muito custo frequentava a escola. Aceitou por pena. No fundo, ela tinha medo de que talvez sentisse amor materno quando o bebê nascesse.

Contudo, não sentiu. Sion, nomeado pelo pai, tornou-se filho de Jaehyun e só dele.

Ele era apenas um adolescente de dezessete anos, não possuía sonhos, trabalhava de meio período em uma loja de conveniência. Sion virou sua motivação, mas também maior preocupação. Agora precisava trabalhar mais, não conseguiu se formar na escola, o emprego de meio período virou de período integral em uma construtora, Sion precisou frequentar a creche antes de completar um ano de idade. Não era a vida que queria dar ao garotinho, mas era a única opção.

— Agora, a apresentação das crianças do jardim um! – a professora Choi anunciou. Dentre as criancinhas, vestido de fantasia de Sol, Sion que agora tinha quatro anos, procurava um rosto conhecido entre os pais presentes. Estreitou os olhos, logo em seguida abrindo um sorriso largo ao reconhecer seu pai na multidão.

Jaehyun, ainda sujo da poeira da construção, acenou para o menor. Havia corrido três quadras, por pouco não chegava a tempo da apresentação de primavera do filho. As crianças cantavam alguma canção infantil sobre flores, Sion ficava no meio delas, pois era o Sol. Ele tocava sutilmente na cabeça dos colegas fantasiados de flor, assim os fazendo "brotar" numa coreografia toda bagunçada. Jaehyun deu risada. Era muito bom vê-lo sorrindo.

Guardaria aquela memoria para sempre.

[...]

— O nome dele é Jung Sion, tem seis anos, 1,20 de altura, cabelo e olhos castanhos escuros. – Jaehyun falou ao policial. – Ele foi para escola com o uniforme e uma jaqueta vermelha, a mochila dele é do Pororo.

O policial suspirou.

— Ele não tem algum amiguinho? Alguém que ele possa ter ido até casa?

Jaehyun franziu o cenho.

— Não e ele não faria isso. – Respondeu. – Ele só tem seis anos.

— Mas ele voltava da escola sozinho, apesar de ter seis anos. – Rebateu.

— A escola é perto da minha casa, duas quadras apenas, eu trabalho o dia todo e não tenho como busca-lo – Apesar de não precisar, ele justificou. – Costumo ligar no telefone de casa para saber se ele chegou.

O policial quase revirou os olhos. Sabia muito bem como era aquele tipo de gente. Assinou o boletim de ocorrência e mostrou ao rapaz em sua frente.

— Senhor Jung, aqui está o boletim de ocorrência, mas acredito que logo o garoto volta.

Jaehyun ficou quase imóvel encarando o pedaço de papel. Sentiu o sentimento de raiva subir pela garganta. Em todos os anos nunca havia pedido ajuda a ninguém, lembrava-se muito bem das palavras de seu pai dizendo: "a sociedade odeia pessoas como nós". Chovia forte em Seul, o pedaço de papel se desmanchava com o contato com a água, as lagrimas se misturavam com as gotas e o seu celular tocava incansavelmente piscando o contato de seu chefe, provavelmente querendo lhe dar uma bronca por sair mais cedo do trabalho sem avisar.

Não era justo.

A cor favorita do seu filho era vermelha. Ele adorava bolinho de arroz e macarrão instantâneo. Gostava de escutar as músicas do Pororo e de brincar de pega-pega no parquinho. Tinha os olhos da mesma cor que os de Jaehyun, contudo via o mundo mais colorido.

Sion nunca voltou para casa.

Desaparecido: O Enigma de SionDove le storie prendono vita. Scoprilo ora