CAPÍTULO QUATORZE - REVISADO

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A segunda semana de confinamento passa como um piscar de olhos e como se Amaryllis já não tivesse muita coisa para manter sua cabeça cheia, agora ela também passa suas horas preocupada com a saúde e a qualidade do sono de Jeong Mi-Suk — não que ela não fizesse isso antes, mas agora, depois da mais recente declaração da híbrida, ela não podia evitar pensar nisso três vezes mais.

Na mesma noite, não muito depois que Mi-Suk deixou a lavanderia, Amy voltou para o quarto com a cabeça mais perturbada do que quando saiu. A luz estava apagada e ela precisou usar a lanterna do celular para não acabar batendo com a cara na porta e acordando a casa inteira. Dentro do quarto ela encarou a híbrida em sua expressão serena, as bochechas vermelhas e a respiração profunda e o corpo encolhido no meio da pilha de cobertores formando um casulo quentinho.

Não havia nada que denunciasse se ela estava acordada ou não.

Mesmo quando Amy deitou na cama, tomando cuidado para não fazer nenhum movimento brusco que pudesse perturbá-la, Mi-Suk não demonstrou nenhum incômodo com a aproximação repentina. Ao invés disso, ela apenas se aconchegou mais no travesseiro e puxou as cobertas para perto.

Ali, o mais próximo da híbrida que ela podia estar, Amy sentiu vontade de tocar seu ombro e dizer seu nome, perguntar a razão para ela ter dito o que disse e entender o que se passava na cabeça dela. Mas, se ela realmente estivesse dormindo, a bruxa não gostaria de retirá-la de seu sono aparentemente tranquilo.

Por isso, Amaryllis se deixou relaxar, mantendo sua atenção fixa no rosto bonito até não poder mais lutar contra o sono e finalmente adormecer — perdendo o momento em que olhos heterocromáticos se abriram e uma respiração trêmula soprou contra suas bochechas.

No dia seguinte, se Mi-Suk tinha olheiras escuras e olhos vermelhos inchados, a bruxa não disse nada.

Dessa forma, os próximos seis dias se passaram normalmente — com a exceção de que todas as noites a partir daquela, Amaryllis prestava o dobro de atenção em cada detalhe da rotina noturna da híbrida.

Primeiro ela tomava banho, a primeira dentre os três, passando mais tempo trancada no banheiro do que com o chuveiro ligado. Depois, quando os três já estavam limpos, eles jantavam juntos na mesa da cozinha. Toda a conversa era dominada por Asterion que se mostrava incapaz de fazer uma refeição em silêncio e sempre arrumava um tópico novo para tagarelar. Era bom tê-lo ali, de certa forma, porque sem a falação constante do garoto as duas poderiam ter entrado num limbo depreciativo muito mais profundo.

Depois do jantar, Mi-Suk ajudava Amy a tirar a mesa e lavar a louça e enquanto elas limpavam, Terry ligava a TV num volume em que elas pudessem escutar da cozinha. Ela e o garoto revezavam em ajudar Amaryllis, um acordo nunca verbalizado entre os dois para que ninguém ficasse sem ter o que fazer.

Às vezes, quando terminavam com a louça, a híbrida se juntava aos dois para assistir o novo episódio da novela de Amaryllis. Às vezes, quando seu humor estava mais retraído do que de costume, ela escovava os dentes e ia direto para cama.

Em nenhum momento dos últimos dias a bruxa deixou seu costume de estudar o grimório na lavanderia, mas agora ela sempre tentava voltar mais cedo para o quarto, apenas para passar mais tempo observando o rosto sereno da garota. Houveram dias em que ela tinha certeza que a híbrida estava acordada, percebendo o leve contrair de suas pálpebras ou o engatar de sua respiração quando Amy, sem querer, chegava perto demais dela ao deitar, mas na maioria das vezes ela era incapaz de distinguir.

Junto com essa pequena alteração quase imperceptível em sua rotina, a bruxa também adquiriu o costume de deixar dois cafés-da-manhã preparados, ao invés de apenas um, deixando-o coberto num lugar em que a híbrida pudesse ver — e Terry nem reclamou de ser excluído dessa vez, tudo graças ao seu costume de só comer bolachas de água e sal com uma caneca enorme de café pela manhã.

L1|   Bosque De Bélplis - A Cidade Das BruxasWhere stories live. Discover now