O inferno é eterno

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Às vezes esqueço que estou morta e me vejo no mundo humano novamente, Adam me permite bisbilhotar a terra de vez em quando e isso é o que tem me matado o tédio as vezes. Talvez isso me faça me sentir viva novamente.
Adão caminhava pelo quarto, dando voltas e mais voltas, parece que a filha de Lúcifer sabia como deixá-lo chateado e isso o deixava louco! Uma reunião fora marcada para discutir sobre o Dia do extermínio e Lute e Adam tentavam formar um plano para conseguir convencer Serah que a princesa do inferno estava errada e eles certos. Era engraçado ver os planos deles dois, Adam de vez em quando mandava uma piscadela para mim e eu devolvia com um mínimo sorriso e voltava minha atenção para o mundo dos humanos. Eu sentia falta da brisa, dos doces e principalmente dos bailes que participava quando estava viva, gostaria de vestir um enorme vestido de baile novamente.

— Vendo o mundo novamente, querida? O que anda imaginando? - Adam aparecia de vez em quando para bisbilhotar também, Lute ficava louca quando ele fugia dos planos.

— O que tem de tão bom nesse mundo? Sério, temos coisas mais legais que lá!- Lute se juntou também, ela odiava ver o mundo dos vivos mas de vez em quando aparecia para rir quando alguém caia ou algo do tipo.

— Bem... tem os bailes- comentei enquanto me imaginava em alguns que já fui, são lembranças vagas apenas. - Gostaria de ir em um uma última vez- Suspirei enquanto apoiava minha cabeça na mesa em que o grande globo ficava. Não tive a oportunidade de participar do meu último baile por conta... bem, por conta dele.— Mas agora estragaram os bailes com outros... tipo de coisas. - De fato, o mundo evoluiu e com isso as festas também. Agora estão mais barulhentas e... Mundanas. Eu conseguia sentir o olhar de Adam sobre mim, mas só conseguia focar minha atenção neles agora. A porta do salão foi aberta, era uma das soldadas do exército angelical.

— Senhor, elas chegaram.– "Elas"? Então a filha do Lúcifer trouxe uma acompanhante. Seria interessante ver o diálogo deles. Adam acenou com a cabeça em sinal para que ela as permitisse entrar e então se sentou na cadeira principal enquanto eu e Lute ficamos ao seu lado em pé.

— E então pirralhada que que Cs' mandam? – Adam sendo Adam. Dei uma cotovelada nele para que ele se comportasse e a filha de Lúcifer, Charlie, jogou um monte de papéis com desenhos em cima da mesa.

"Virou escola infantil?" Ela estava atrapalhada, mas então a outra colega segurou em seu ombro para encorajá-la. Que belo casal.  Charlie aparentava ser uma boa garota, mas o nervosismo dela me chateava, o que adiantava ir em uma reunião completamente despreparada? Ela cantarolava algo sobre o inferno estar lotado e que tinha um plano para que as suas almas tivessem redenção para que pudessem se mudar para o céu, era algo que em segredo eu estava em acordo. Adam perdeu a paciência e se levantou dramaticamente.

— Olha, docinho... O inferno é eterno você querendo ou não. — Lá vamos nós... Ele e Lute ensaiaram essa música mais de 10x antes delas chegarem, eu já estava farta disso!

— Ok, certo! Nada de música agora.– Levantei-me completamente irritada com as canções sem sentido, Adam e Lute me olharam com as sobrancelhas arqueadas e apenas sentaram novamente, Charlie e a Namorada me olharam surpresas.— Eles não podem vir para cá apenas por que construiu um hotel para que fossem perdoados. Não é assim que a banda toca, princesa.

— Isso mesmo! - Adam concordou comigo e Lute o mandou calar a boca.

— Mas... e se conseguirmos? O que acontece? Pensei que o perdão fosse a peça fundamental para que a alma fosse perdoada.

— Um assassino pediria perdão apenas por que sabe que com isso iria vir para cá, não seria verdadeiro. Pense nas vítimas e na dor causada. Não é qualquer um que consiga vir para cá. Se a senhorita conseguir reunir um número de almas que com o tempo vá se tornando pura e que mude seus hábitos talvez funcione, porém, não decidimos isso por aqui. – Ao longe conseguia ver Lute tampando a boca de Adam impedindo que ele falasse mais bosta.

— O inferno está super lotado, pessoas boas que cometeram erros mínimos vão para lá sem ao menos terem tempo do arrependimento, acha justo?- Protestou Charlie

— Gracinha, a vida não é justa. O inferno infelizmente é eterno. Você querendo ou não. - Andei para o lado dela e coloquei minha mão em seu ombro.— Infelizmente, não tenha nada que eu possa fazer para ajudá-la, princesa. Mas talvez Serah consiga ver isso para vocês. – Sorri minimamente para ela e ela retribuiu. A namoradinha dela não me era estranha, mas ela arregalou os olhos quando toquei em Charlie. Cruzes.

— Ok Ok, já deu desse papinho furado. Resolveremos isso amanhã juntamente com Serah e os outros. Deem o fora daqui.– Adam empurrou as duas pra fora e fechou a enorme porta dramaticamente.

— O relacionamento delas... é de extrema heresia...– Disse lute com um olhar de nojo. O que era estranho...

— É, mas da um tesão– Adam podia ser escroto 99% do seu tempo, ele só tinha um rostinho bonito que salvava.

— Vocês dois são inacreditáveis. Estão falando e agindo assim como se não ficassem atrás de mim para os seus favores "secretos".– Eles me olharam, se olharam e sorriram. Que assustador.

— Nós somos diferentes, boneca. Podemos fazer de tudo– Adam se vangloriava sobre isso desde sempre e como as outras vezes. Lute apenas concordava.– Agora... fique na sua, antes que caia junto com... bem, você sabe.– Saiu como um tom de ameaça, mas ele não podia estar mais que certo. Um passe em falso meu e eu estaria no inferno junto com os outros que um dia discordaram das diretrizes do paraíso.

— O inferno é Eterno, Ophelia. Não se esqueça disso. — Lute disse por fim.

" O inferno é Eterno" mas... se realmente for eterno, o paraíso é cruel ao deixar que pessoas que cometeram um erro bobo sofressem eternamente mesmo quando se arrependeram. Se o inferno é eterno, o paraíso é cruel.

Adam e Lute já haviam saído do salão a muito tempo e eu me encontrava sozinha com os meus pensamentos. Minhas dúvidas podiam me fazer cair, mas eu realmente quero ficar aqui com tantas injustiças acontecendo? Por Deus, onde foi que me enfiei?

Amor infernal - Hazbin HotelWhere stories live. Discover now