O diário de Emília

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Haviam várias fotos dos dois juntos, e em todas, pareciam estar felizes. Pelas fotos, era possível sugerir que tinha um relacionamento romântico com aquele sujeito, apesar de não ter visto nenhuma foto o beijando ou algo do gênero, havia uma química indiscutível ali. Haviam outros rostos  ali também, e alguns deles, familiares.

Apesar disso, aquilo não foi um gatilho para que ela se lembrasse, pelo contrário. Por mais que forçasse, e tentasse ir a fundo em sua mente, não conseguia se lembrar daquele homem, muito menos sentir algo positivo ao ver aquelas outras pessoas, apesar da sensação de já conhecê-las.

Além disso, descobriu que o nome do sujeito com quem estava dividindo o teto, era Tyler. Ah, e Tyler não tinha muitos amigos, sua conversa mais recente era de duas semanas atrás, com uma tal de "Anna", nada suspeito, apesar de terem marcado de se encontrar, Anna era bem mais velha e sua foto de perfil era com o filho de 5 anos, que por acaso, foi junto nesse encontro para "tratar do caso".

Com a cabeça já doendo pelo esforço e a frustração, ela escolheu acreditar que aquele sujeito não era uma ameaça, e independente do como havia ido parar sem roupas na floresta, ele não tinha nada haver com isso, dessa forma, realmente havia uma terceira pessoa, e essa sim, era alguém com quem se preocupar.

Pensou em tirar a mesa e lavar as vasilhas, mas decidiu que haviam coisas mais importantes para fazer no momento. Deveria contar a Tyler o ocorrido? Talvez ficassem mais seguros se ele soubesse que estavam correndo risco, e assim, poderiam descobrir uma forma de lidar com aquilo juntos.

Eram muitas questões a se considerar, e o medo de estar correndo risco ao lado daquele sujeito de quase dois metros naquele casebre isolado era sufocante.

Não saber quem era, era suportável, mas não saber oque a levou aquele ponto que denominaremos "dia 0", era como estar presa em uma casa sem paredes, em uma cidade sem casas, um rio sem água, presa no vazio existencial.

A frustração de não poder contar com as próprias memórias ocupava todo o espaço vazio deixado em sua mente pela ausência delas.

Enquanto subia os velhos degraus de madeira, fechou os olhos após decorar o espaço entre eles, ela tocava o corrimão  fazendo pequenas caretas ao sentir as lascas perfurando suas mãos.

No segundo andar, ela tornou abrir as portas dos quartos, dois só tinham móveis, mas nada que indicasse que pertenciam a alguém.

Seu interesse maior, foi naquele que estava mais sujo, e apesar disso, tinha roupas no armário.

Um sorriso se abriu em seu rosto quando notou alguns pertences femininos ali, um pente de cabelo, um perfume, e uma pulseira.

Sua intuição dizia que era ali que encontraria algo útil.

Animada, ela continuou vasculhando pelo quarto. Em meio a sua empolgação, acabou se desequilibrando após bater o dedinho e caiu. Enquanto reclamava e apertava o pé, pode notar algo em baixo da cama, uma caixa, que por acaso, era a responsável por ela ter batido o pé.

Rapidamente se esqueceu da dor e puxou pra si a caixa empoeirada. Quando abriu, se deparou com algumas fotos. Uma jovem muito parecida com Tyler sorria ao lado de outra garota.

As fotos estavam amareladas, descascando.

Atrás da foto, uma legenda " Para sempre sua, de sua amada, Duda. "

Haviam outras fotos, e em algumas, as garotas ainda eram pequenas, pareciam ter por volta de uns 13 anos nas mais antigas.

A moça mais alta que parecia Tyler, era bem agradável aos olhos, seu nariz era longo e tinha a ponta quadrada, sua pele tinha um tom de branco saudável, sem manchas ou vermelhidão, uma pele "limpa".  Seus olhos lembravam duas grandes jabuticabas, seus lábios; finos e rosados, e em seus cabelos, os bagunçados fios  pretos ostentavam um corte masculino. Ela  tinha um sorriso reto, que combinava com as maçãs do seu rosto ressaltadas.

Já a garota ao lado, tinha fios lisos e longos em um tom de mel, tinha um sorriso amarelado, lábios grossos e carnudos, um rosto redondo e amigável que combinava com seu nariz fino e arrebitado . Sua pele era um tom de branco mais sujo, com as bochechas rosadas e sardinhas, seus olhos eram castanho claro, e suas sobrancelhas, apesar de não serem grossas, eram bagunçadas e não tinham um formato específico.

Abaixo das fotos, uma carta, o remetente "Emília", que pelo nome nas fotos mais antigas, devia ser a moça de cabelos pretos.

As duas não pareciam "apenas" amigas, então Maggie não teve o menor interesse em abrir a carta, parecia errado invadir assim a privacidade das meninas, já que provavelmente, o conteúdo eram confissões de amor.

Abaixo da carta, um caderninho preto e uma caneta. Folheando rapidamente, Maggie pode presumir que aquilo estava ali a muito tempo, pois algumas traças haviam ruído as extremidades das folhas.

Aquilo não parecia tão interessante, apenas o diário de uma das meninas, o mais provável é que fosse da tal Emília, já que ela parecia ter laços sanguíneos com Tyler.

Porém, apesar de não sentir nenhuma curiosidade ou interesse por aquelas palavras empilhadas no caderno velho, ela precisava descobrir algo.

Talvez ali mencionasse Tyler, ou falasse algo sobre ela que a ajudaria a desvendar quem era e oque tinha haver com aquelas pessoas. Então, colocou a carta e as fotos no lugar, e abriu o diário.

Doce Caos Where stories live. Discover now