Segundo um calendário na cozinha, a primeira página do diário era de 8 anos atrás, oque indicava que provavelmente era da mesma época das fotos onde as garotas eram mais novas.
"Página 1"
"Conversei com a vovó ontem, e ela concordou em aceitar o Tyler lá, ela disse que já devia ter pego a guarda dele deis de o começo, mas teve medo do Vovô não gostar da ideia.
Ela ligou pra mamãe hoje, mamãe não quis me contar nada nem passar o telefone, porque na cabeça dela, Tyler tá morto e vovó também deveria pensar assim, e isso não é da minha conta.
Ninguém sabe onde ele tá agora, deis de que tudo aconteceu, ele vive fugindo pra não ser levado embora pelos policiais.
Eu me preocupo muito com ele, a Denize falou que é bobeira pensar nisso, porque meu irmão é um herói, e Deus está protegendo ele.
Parece que sou uma figurante na minha própria vida, ninguém pergunta por mim ou quer ser meu amigo, as pessoas só se aproximam pra saber do Tyler, talvez seja melhor mesmo agente ir embora."
Ao terminar a primeira página, ela estava desconfortável , não sentiu medo de Tyler por saber que a oito anos atrás, ainda em sua adolescência, ele estava sendo procurado pela polícia, apenas se sentiu mal por estar invadindo a privacidade daquelas pessoas.
Ela respirou fundo antes de virar a página, questionando se aquilo realmente era certo.
Ok, pelo menos, agora ela possuía duas informações, a primeira é que Tyler tinha uma irmã que se chamava Emília, ou pelo menos, era oque ela havia presumido. E a segunda, é que Tyler havia sido procurado pela polícia, no passado.
Não sabia oque aquilo significava, se já tinha aquelas informações antes da perca de memória ou era algo inédito, se não tivesse deixado a tela do computador se bloquear, talvez agora pudesse verificar a data nas fotos, e descobrir se ela já falava com Tyler quando tudo aconteceu, mas era tarde demais.
Após uma respiração profunda e frustrada, ela tentou ligar alguns pontos; Tyler não tinha fotos recentes com a irmã, nem mesmo Emília sozinha.
Na realidade, Tyler só se incluía nas fotos com ela, nunca nas em grupo ou com algum familiar, aquilo era no mínimo suspeito, mas tudo bem, talvez ele fosse sempre o garoto por trás da câmera.
"Página 2"
"Tyler isso, Tyler aquilo, todos da escola estão sabendo oque ele fez, e alguns meninos que não gostavam dele, vieram me incomodar hoje, falaram que eu era uma "porca imunda de satanás" e que iria arder no inferno pelos pecados do meu irmão. Não me importei, tirando por Filiph, ele é um babaca tão irritante e mesmo assim a Duda tenta amenizar como se gostasse dele, a Denize me entende, e falou que Duda realmente tem uma quedinha por Filiph, oque explica tudo, na verdade não, ele é feio e babaca, aliás, não tem como a Duda gostar dele, não depois do que rolou hoje .
Brenno pediu a Duda em namoro, E ELA ACEITOU, e eu tô feliz por eles, sempre fui melhor amiga dela, zuava com ele, apresentei os dois para que virassem amigos e tal... Mas... Sei lá... Eles parecem não ter nada em comum, sério, aposto que ele não sabe a cor favorita dela, não sabe dos traumas nem esquisitices dela. Nem a hora que ela acorda, eles se conheceram a tipo meia hora e eu tô com ela desd-"
Nesse momento, Maggie soltou o diário, obviamente, estava errada sobre as duas. Duda não era nada gay, e se era, parecia daquelas "bi curiosas". Já Emília por outro lado... Uma gay no armário, dava preguiça ver que Emília não havia percebido que estava apaixonada pela melhor amiga, tipo, evento canônico de toda gay que não se descobriu, né?
Bem, só saber daquilo e perceber tudo com tanta facilidade fazia a jovem engolir em seco, será que ela era gay também? Ou pior, meio gay? Na sua cabeça, parecia ruim não ter certeza da própria orientação sexual, talvez devesse fazer um teste drive em Tyler, só pra ter certeza que aquilo era intuição e não um caso típico de "uma reconhece a outra".
Com medo de pensar mais no assunto, ela começou a limpar a casa, enquanto decidia se Tyler deveria ou não saber de tudo. Será que ele já tinha lido aquilo? Talvez nem soubesse que a irmã era... Bem, a palavra estava fazendo-a soar frio, e talvez fossem só devaneios.
Pelo menos, agora poderia usar as roupas de Emília, que apesar de empoeiradas, eram neutras e confortáveis, as de Tyler ficavam enormes.
Após a longa tarde solitária, ela se entendiou, então, após um rápido banho, se trocou e deitou no mesmo quarto onde havia acordado.
Hora de puxar um ronco.
