Diaba

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Ramiro pensou nunca ter ficado tão chocado quanto agora, vendo Kelvin com a foto de seus respectivos pais em mãos.

– Pera aí, Kevín... esse galegão aí é teu pai? Pai, pai? O que tu tava reclamando agorinha?

– É, Ramiro, é ele mesmo... ele... meu Deus, meu Deus, meu Deus — Kelvin andava de um lado pro outro, com as mãos na cabeça, sentindo seu corpo suar, sua cabeça rodar, seu rosto esquentar. — Meu Deus, meu pai é um criminoso, eu não acredito. Tudo bem que eu nunca tive as melhores impressões dele, mas crime, Ramiro? ELE ME INCENTIVOU A CURSAR DIREITO! Caralho, que porra é essa?

– Ei, piquitito, calma, se acalme, calma, não adianta ficar desesperado. Calma, por favor. — Ramiro segura o loiro pelas mãos e o leva até o sofá, indo à cozinha buscar um copo de água com açúcar para entregar à Kelvin. — Vai, toma isso aqui pra te deixar mais calmo.

Kelvin toma tudo de uma vez, mas ainda sente seu peito descompassado e a respiração ofegante. Aquela não era uma notícia que ele estava esperando.

– Ramiro, eu quero que você me conte tudo sobre essa... relação do Eduardo com o Alemão.

– Kevín, eu não posso te dar essas informações, você sabe que é peri-

– Ramiro, eu quero que você me conte, ou eu vou descobrir de outra forma e eu to falando muito sério.

Ramiro respirou fundo, nunca tinha se visto sem saber o que fazer, mas ver aquele baixinho desesperado em sua frente, estava o apertando no peito.

– Kevín, calma, por favor. Se acalma, se não eu não vou conseguir falar. Respira, por favor. — Kelvin respirou fundo três vezes e olhou para o negro, demonstrando que estava pronto para ouvir — Ó, eu não sei muita coisa da relação dele com o Pantera, eu era muito criança, mas eu lembro de ver ele sempre por aqui. No natal trazia chester pra ceia da minha casa, dava brinquedos caros no meu aniversário, enfim. Ele arranjava muitas mulheres aqui pelo morro, também, e todas diziam que ele pagava uma fortuna. Eu lembro que ele chegava sempre engomadinho, vinha num carro chique, todo preto, com um motorista engraçado. Depois que Pantera me colocou na direção do morro, quando descobriu o câncer, ele me deu algumas informações, não todas, o que foi uma merda, tive que descobrir muita coisa na hora, mas algumas informações que ele me deu foi sobre os elos mais importantes do Alemão, alguns políticos, alguns juízes, advogados, policiais, delegados e algumas pessoas podres de rica, um desses é o Eduardo, seu pai. Ele tem um vínculo aqui há uns 20 anos já, manda dinheiro em troca de propina, arma. Mas é muito dinheiro mesmo, só o Santana faz rodar mais de 700 mil por mês aqui, toda semana ele vem, é quase uma prova de vida, leva quilos e quilos de cocaína.

Cada palavra de Ramiro era uma lágrima que rolava pelo rosto de Kelvin. O chão parecia estar abrindo debaixo de si.

– Eu vou lá. Eu vou lá agora. – Kelvin se levanta, com a foto em mãos, mas tem seu braço segurado por Ramiro.

– Kelvin, não. Eu não vou permitir que você ponha o meu morro em perigo e muito menos que exponha você. Esse homem é perigoso, Kelvin, pelo amor de Deus, você tá de sangue quente.

Kelvin puxa o braço do aperto de Ramiro e o olha com uma expressão que fez o maior tremer.

– É meu pai, Ramiro. E eu sei me defender. Fui jogado na rua às 3:00 da manhã e sofri muitos riscos, mas estou aqui. Eu sei me defender, ainda mais quando meu oponente é meu pai. Eu fraquejei ontem porque foi uma surpresa pra mim, mas você pode ter certeza de que eu não vou fraquejar dessa vez.

Ramiro fecha os olhos e abaixa a cabeça, se sentindo derrotado.

– Ei, — Kelvin se aproxima do outro e segura seu rosto com as duas mãos — eu prometo que já já eu to aqui de volta, só vou lá rapidinho botar essa situação a limpo e volto pra gente dormir bem juntinho, tá bom? Eu vou ficar bem e o Complexo também. — Kelvin levanta seu rosto e divide um selinho com o maior.

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⏰ Last updated: Feb 22 ⏰

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Complexo - Kelmiro Where stories live. Discover now