1. Escada Rolante Para Midgard

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Assim que abriu os olhos, percebeu que estava nua sob lençóis de cetim e um tanto desnorteada. "O que tinha acontecido mesmo na noite passada?", pensou, esfregando os olhos, sentindo-os arder e sua cabeça latejar. Mas quando olhou para o lado e viu que não estava sozinha, a urgência a tomou:

"Puta merda. Tenho que sair daqui. Agora" — ela saiu da cama com cuidado para não fazer barulho e o mais rápido que podia, não queria acordar sua companhia da noite.

Não queria dar explicações e muito menos ver a cara de decepção que receberia dele depois disso, aquela noite tinha sido um erro. Total.

Catou suas roupas do chão e as vestiu de qualquer jeito, pegou o blazer e os óculos escuros do homem desacordado, que estavam sobre a cômoda, e saiu do apartamento o mais rápido que pôde. Não se preocupou com seu cabelo alvoroçado, ignorou as manchas de Bloody Mary na sua camisa sob o blazer masculino maior que ela e nem os olhares de esguelha que recebeu no elevador do edifício chique.

Ela usava seus óculos escuros, então, em sua cabeça avariada, estava invisível.

— Um americano grande com uma dose extra de cafeína e alguma vontade de viver, por favor — Khasey pediu.

Ao ouvir a voz familiar, o atendente se virou e checou a mulher de cima abaixo.

— Wow, o que aconteceu dessa vez? Foi atropelada por um caminhão de sorvete?

— Isso seria ótimo, Manu — ela respondeu depois de dar um risinho, imaginando a cena. — Eu teria um cérebro congelado agora em vez dessa maldita ressaca.

Manu riu enquanto preparava a bebida.

— Ah, você teria não só um cérebro congelado, mas um corpo inteirinho — ele comentou rindo com seu sotaque indiano adorável, terminando de preparar o café. — E estaria num necrotério agora mesmo.

— Também não parece uma ideia ruim — ela pegou a bebida sorrindo.

Pagou o café e saiu.

— Ei, Khasey — Manu chamou e ela se virou pra ele, já perto da porta. — Pega leve na próxima, garota.

— Eu sempre pego — ela levantou a bebida no ar e sorriu antes de sair. — Namastê!

Enquanto caminhava até o metrô, seu telefone tocou. E ao ver quem era, fez uma careta.

— Khasey, onde você está? — Perguntou a mulher furiosa do outro lado da linha.

— No metrô — ela mentiu, há 2 quarteirões e meio da verdade.

— Eu espero mesmo! Você sabe que horas são?

— Não, mas eu tenho certeza que você vai me dizer.

— São 37 minutos depois do início da sua exposição às 9h! Onde você deveria estar, por acaso — a irritação da mulher pareceu crescente a cada palavra.

— A exposição era 9h? Quem concordou com isso?!

— Você concordou. Há duas semanas! Deveria se lembrar disso.

— Que? Eu não me lembro nem do que eu fiz ontem, como iria lembrar do que fiz duas semanas atrás?

— Aah, pra isso você tem a mim, mas você decidiu ignorar meus emails, minhas ligações e mensagens desde as 17h da última sexta-feira! Como vou fazer o meu trabalho se você não me deixa fazer o meu trabalho?

— Tá bem, ok. Acho que me lembro agora — Khasey bufou e tomou um gole de café. — Me lembro de ter dito que qualquer atividade antes do meio-dia era uma insanidade total! E numa segunda-feira? Ross, o que você acha que eu sou? Uma maldita máquina? Como eu concordei com isso? Eu estava em coma e fiz um daqueles lances de… mexer com o dedo duas vezes pra sim e uma pra não? Ou é o contrário? Eu nunca sei… — Ela entrou numa lanchonete mexicana enquanto falava. — Um burrito, Daise. Caprichado, tá bem?

The Primordial SoulsWhere stories live. Discover now