O primeiro fragmento

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Ela ficou em silêncio ouvindo a massaneta girar inutilmente.

— Sério isso? Ah.... Não acredito que achou que era necessário.

Ela caminhou até a porta, e se sentou contra ela sem dizer nada.

— Porque saiu daquele jeito?- Ele perguntou calmamente.

— Você me assusta. - Ela se sentiu aliviada por não precisar falar aquilo cara a cara.

Estava assustada, com medo, e definitivamente sem energia para tentar decifrar as emoções dele.

— Você sabe como eu fico quando se trata da Emília... Afinal, ela é a razão pra isso tudo..- Ele deu um espaço entre suas palavras. - Mas entendo que você não gosta de ficar sem suas coisas. Agente podia dar um jeito, só não sei oque quer me provar desfilando pela casa com... essas roupas, que são como cacos de vidro pra mim.

Nesse instante, ela respira fundo, se levanta, e destranca a porta do banheiro, dando alguns passos atrás, abrindo espaço para que fosse aberta.

Apesar de não confiar completamente em Tyler, pode identificar sinceridade em seu tom de voz, e quando ele abriu a porta, aquele sentimento ficou mais evidente ao olhar seus olhos, por algum motivo, ele parecia também estar sofrendo, muito, depois de tanto sentir, era fácil identificar o desespero.

— Alisson... Quando eu te machuquei? Você sabe que...- ele se interrompe e a encara com uma careta.
— Que porra é essa na sua testa!?

Ela sorri sentindo um arrepio percorrer pela espinha.

— Alisson?- Ela testa o próprio nome em sua boca, parecia um nome masculino, era estranho, mas em questão de segundos... Parecia completamente familiar, como se pudesse ouvir outras pessoas o chamando por ele.


Fragmento de memória

— Alisson, desce, agora. Alguém quer te ver.- Uma mulher ordena após adentrar o quarto.

Ela era retinta, tinha cabelos crespos e curtos, um corpo magro e um olhar ríspido, aquela era sua mãe.

— Merda mãe, se a visita é sua, porque eu tenho que ir? Não quero ver ninguém, nem se for algum parente ou amiga sua.- A garota contestou irritada, mas de forma quase que imediata, se arrependeu de ter dito aquilo, sabia que estava errada, e não precisava dos argumentos da mãe para ter certeza daquilo.

Ela já estava de costas, prestes a sair do quarto, quando se virou e a encarou.

— Alisson, sem tempo pro seu drama adolescente, eu não te apresentaria nem para um inimigo meu, quem dirá pra um amigo. Eu pago sua comida, seu teto, e não preciso jogar isso na sua cara pra que saiba, o mínimo que pode fazer, é ser uma filha boazinha, e tirar seu traseiro INÚTIL da cama que eu paguei, e ir lá.

— Me desculpa, você não me criou assim, eu já tô descendo.- A mulher tornou se virar e saiu, deixando a garota sem ânimo algum.

Era irritante ter que receber alguém em um sábado, aliás, quem poderia ser? Absolutamente ninguém gostaria de ver Alisson em um sábado. Aquilo era algo óbvio em sua cabeça, nenhum parente ou colega de escola por sua própria vontade escolheria estar com ela.

Saber daquilo a deixava triste já que a maioria das pessoas não a conhecia o suficiente pra saber que era insuportável, apenas bastava que olhassem para sua cara e decidissem que não queriam se envolver com ela, oque havia a tornado quase invisível na escola.

Sem nenhuma espectativa positiva, a garota desceu as escadas sem nem mesmo lavar o rosto ou trocar seu pijama, seus volumosos cabelos a acompanhavam tão revoltados quanto ela, se recusando a formar qualquer cacho. Não era cacheado, nem ondulado, muito menos liso, ele era anti social e também não gostava da idéia de se preparar para ver alguém.

Quando chegou a sala, se deparou com uma mulher de cabelos curtos e lisos, grandes olhos verdes, uma boca bem traçada e um nariz arrebitado.

— Olá, você deve ser a Alisson. Meu nome é Anna.- A mulher sorriu e ofereceu a mão para um aperto, mas a garota ignorou indo até a garrafa de café, fazendo sua mãe suspirar, se controlando para não atirar qualquer objeto que fosse na filha.

— É, eu sou. - Ela disse se servindo, sem se dar ao trabalho de dar bom dia.

— Me perdoem, Alisson fica tanto tempo sozinha que não se lembra de como demonstrar a boa educação que dei .

Nesse momento, ela pode perceber que havia outra pessoa na sala, um rapaz.

— Ah... Tudo bem, realmente deve ser uma bosta acordar e ter que ser amigável com dois estranhos que nem deviam estar na sua casa. - Ele dá uma golada em sua coca cola e sorri fraco tentando amenizar tudo.

  O rapaz é repreendido por um coçar de garganta de Anna, que reprime a informalidade antes de voltar a discursar.

— Bem... Eu sou a detetive responsável pelo caso da Emília, você deve conhecer já que ela era da sua escola.- A mulher diz e espera alguma resposta, mas Alisson apenas bebe seu café sem demonstrar o menor interesse em responder. — Sua mãe comentou que talvez... Você possa nos dar algum auxílio com... A internet.

Alisson sorri sarcástica, a mulher falava de uma forma antiquada, parecia velha.

— E isso não seria de graça, claro. Da mesma forma que recompenso muito bem os auxílios de uma tão fabulosa advogada no caso, - Ela da uma pausa para encarar Eliza. — Eu poderia... Recompensar, muito bem a sua ajuda.

— Oque a Anna tá falando, é que precisamos de você no caso, pra hackear e fazer essas merdas nerds esquisitas que só você sabe.- Ele diz dando outra golada em sua bebida.

Doce Caos Where stories live. Discover now