A Bruxa

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Ricardo fez o que prometeu e levou Sandro até uma casa do mesmo vilarejo um pouco mais distante, perto da floresta. Ricardo bateu esperando que alguém atendesse e quando a porta abriu ele deu um enorme sorriso abrindo os braços.

—Cachorrão, quanto tempo. Me dá um abraço.

—O que faz aqui, você não é bem vindo.

—Eu fiquei com saudades e vim tomar um café, não vai servir um amigo?

Pablo rosnou mostrando as presas e os braços cruzados na altura do peito, olhando o sorriso debochado de Ricardo. Sandro engoliu seco, nunca conheceu um homem tão alto e sua áurea era diferente, tinha cabelos escuros e longos até a altura do ombro, olhos negros e um corpo forte.

—Melhor ir embora antes que eu arranque seus órgãos e de para os corvos.

—Não vai dar não lobo mau, eu preciso ver a Amanda.

—Ela não quer te ver, ou você esqueceu?

—Que bagunça é essa na minha porta?

Escutou a voz feminina e quando Pablo deu um passo para o lado, conseguiram ver a garota de longos cabelos escuros em um vestido vermelho elegante e um rosto impaciente.

—Pensei ter te dito para sumir Ricardo, vou precisar fazer isso do jeito difícil?

—Eu sei, preciso de ajuda e não pra mim. Para ele. –Fez um sinal com a cabeça apontando para Sandro, que até então não disse nada.

Amanda o olhou da cabeça aos pés e soltou um riso fraco.

—Transformou esse pobre coitado? Sinto muito por você garoto. Agora sumam.

—Espera por favor, ele disse que você pode me ajudar a andar a luz do dia e eu não conheço outra bruxa que possa fazer isso.

Passou rapidamente por debaixo do braço de Pablo e foi entrando, quase que implorando para ela. Amanda o olhou mais de perto e esticou a mão fazendo um sinal para que ele segurasse a mão dela. Houve um breve silêncio enquanto a mulher olhava para cima conseguindo ver memórias da vida de Sandro até sua transformação.

—Um aprendiz de padre. E tem coragem de vir aqui me pedir ajuda?

—Eu... eu-...

—Seu povo mata minhas irmãs a gerações, enforcadas, queimadas e torturadas e espera que eu ajude você? Você é tão monstro quanto qualquer um aqui.

—Eu nunca matei nenhum imortal antes.

—Mas você viu não foi? Venho de uma descendência de clarividentes eu posso ver tudo e eu sei que você assistiu elas queimarem. Está fresco em sua mente.

—Eu nunca quis isso...

—Ah querido não precisa dizer, eu sei disso também. Pobre da sua mãe, querer que isso te salvasse e você está bem aqui como um vampiro.

—Se sabe de tudo isso, então sabe que eu nunca quis me tornar padre, muito menos aprendiz. Mas eu não queria me tornar uma aberração, por favor eu só tô te pedindo isso...

Ela ficou em silêncio pensando, em um breve momento viu que Sandro tinha desejo de ser um escritor e antes da mãe morrer estudou muito. Mas teve que abandonar isso e não era feliz com a vida que levava, revirou os olhos e foi até a mesa onde tinha algumas velas acesas, esticou a mão invocando um livro preto e pesado.

—Tá, eu ajudo você. Mas vou cobrar um preço.

—Você não me cobrou quando foi comigo. –Ricardo falou com a sobrancelha arqueada.

A marca do Amaldiçoado Where stories live. Discover now