Vinte e um

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Sina Deinert's point of view

Na manhã seguinte, acordo cheia de um pavor doentio. Sinto-me exatamente como uma criança de cinco anos que não quer ir à escola. Uma criança de cinco anos com uma tremenda ressaca.

— Não posso ir – começo a gemer quando chega oito e meia. — Não posso encarar o pessoal.

— Pode sim – insiste Yoon, dando força e fechando os botões do meu casaco. — Vai ficar tudo bem. Só mantenha o queixo erguido.

— E se eles forem horrorosos comigo?

— Eles não vão ser horrorosos com você. São seus amigos. De qualquer modo, eles já devem ter esquecido.

— Não devem! Eu não posso simplesmente ficar em casa com você? – Agarro sua mão, implorando. — Eu vou ser boazinha, prometo.

— Sina, eu já expliquei – insiste Yoon, cheia de paciência. — Eu tenho de ir ao tribunal hoje.

Ela solta a mão.

— Mas vou estar aqui quando você chegar. E nós vamos jantar alguma coisa bem legal. Certo?

— Certo – concordo, numa vozinha débil. — Podemos tomar sorvete de chocolate?

— Claro que sim. – Yoon abre a porta do apartamento. — Agora vá. Você vai ficar ótima!

Sentindo-me um cachorro sendo posto para fora, desço a escada e abro a porta da frente. Estou saindo da casa quando um furgão para na beira da rua. Sai um homem de uniforme azul, segurando o maior buquê de flores que eu já vi, todo amarrado com fita verde-escura, e franze a vista para o número da nossa casa.

— Olá – diz ele. — Estou procurando Sina Deinert.

— Sou eu! – digo surpresa.

— Ahá! – Ele sorri, e estende uma caneta e uma prancheta. — Bem, este é seu dia de sorte. Pode assinar aqui...

Olho o buquê, incrédula. Rosas, frésias, flores roxas enormes e incríveis... uns pompons fantásticos, cor de vinho... folhagens verde escuras... outras verde-claras que parecem aspargos...

Certo, talvez eu não saiba o nome de todas. Mas sei de uma coisa.

Essas flores são caras. Só há uma pessoa que pode tê-las mandado.

— Espera – falo sem pegar a caneta. — Quero saber quem mandou.

Pego o cartão, rasgo o envelope e corro a vista pela longa mensagem, sem ler nada até chegar ao nome embaixo.

Noah.

Sinto um enorme dardo de emoção. Depois de tudo que ele fez, Noah acha que pode me comprar com um punhado de flores chinfrins?

Certo, um buquê enorme, de luxo.

Mas a questão não é essa.

— Não quero, obrigada – digo, levantando o queixo.

— Você não quer? – O entregador me encara.

— Não. Diga à pessoa que mandou que não, obrigada.

— O que está acontecendo? – Ouço uma voz ofegante atrás de mim, ergo os olhos e vejo Yoon boquiaberta para o buquê. — Ah, meu Deus. São do Noah?

— São. Mas eu não quero. Por favor, leve embora.

— Espera! – exclama Yoon, agarrando o celofane. — Quero dar uma cheiradinha. – Ela enterra o rosto nas flores e inala profundamente. — Uau! Isso é absolutamente incrível! Sina, você cheirou?

Can you keep a secret? | noartWhere stories live. Discover now