Uma ideia

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Se tivesse que falar uma coisa que tinha certeza que valia para qualquer estudante no mundo, essa seria: a época de provas não era nem um pouco fácil.

Por mais que sempre se dedicasse ao máximo em seus estudos e fizesse questão de ter uma agenda muito bem organizada para nunca ter que acumular matéria, não era incomum Cellbit perceber que esquecia uma coisa aqui e ali do seu curso. Por exemplo, descobrira naquela tarde que teria que estudar correndo para uma prova de história de jornalismo II que ocorreria no dia seguinte, e sentiu um pouco de nervosismo sobre isso. Não sabia muito bem porque estava preocupado, já que tinha suas anotações muito bem feitas salvas em seu notebook, mas não se via tão confiante assim como geralmente se sentiria. Talvez a grande quantidade de trabalhos e seminários que deveriam ser concluídos nos próximos dias o deixaram um pouco mais apreensivo do que o costume, ou talvez fosse a ansiedade para que aquele período demoníaco da faculdade acabasse o mais rápido possível. Ou será que sempre que se lembrava dessa matéria, um certo mexicano voltava a sua mente na velocidade da luz?

Certamente, não podia negar que a imagem de Roier acenando para ele durante essas aulas matutinas de sexta-feira sempre aparecia quando estudava história do jornalismo II, e seria uma completa mentira dizer que o motivo de sua apreensão com a matéria fosse porque o moreno o distraía. Muito pelo contrário. Cellbit sempre dava um esforço a mais naquela disciplina só para estar mais tranquilo na aula para conversar com o mais novo, tendo a garantia de que não perderia nada enquanto olhava-o no outro prédio. Devaneou por meio daquelas memórias. Só a lembrança do amigo sorrindo para ele já fazia seu coração acelerar e aqueles sentimentos aparecerem mais fortes do que antes.

Negou com a cabeça. Não podia pensar em Roier naquele momento, tinha que estudar para a prova do dia seguinte. Deveria aproveitar o silêncio da biblioteca da universidade para concentrar-se apenas em seu material. Pegou a garrafa de água que estava ao lado do seu notebook e aproveitou para dar mais uma olhada ao seu redor. A biblioteca estava cheia, como de costume nesses períodos de provas, e ele estava sozinho em uma pequena mesa onde havia dispersado alguns livros, sua mochila, seu computador e outros materiais. Mesmo com diversos alunos no local, o ambiente permanecia-se quieto, provavelmente porque cada aluno estava preso em seus próprios surtos mentais e não tinham tempo para papo furado. Se fosse em qualquer outra situação, não estaria nem perto de manter o silêncio que tinha no momento, mas a empatia se prevalecia nessas horas, já que estava todo mundo no mesmo barco (que, sabia bem, estava prestes a afundar).

Olhou feio para um daqueles seguranças miseráveis que patrulhavam enquanto vigiavam os estudantes. Já havia se passado quase um mês que aqueles caras rondavam os campus da universidade e percebeu que a paciência de alguns alunos já estava chegando no limite. Como Felps havia relatado naquele dia que conversaram por vídeo chamada, os guardinhas estavam monitorando as entradas de todos os prédios, fazendo as mesmas perguntas toda vez: nome, matrícula, o que pretende fazer aqui, se encontrará com alguém, pra onde vai depois, etc. Ouviu relatos nos últimos dias de alunos perdendo o horário e até atividades importantes por conta daqueles interrogatórios, causando diversos conflitos entre estudantes e a secretaria, que, como pensava, não lidava da melhor maneira com aquelas situações. Era só questão de tempo, isso ele já sabia. Aquela palhaçada toda cairia em algum momento, tinha apenas que esperar, mas admitia que aquela ansiedade para ver todo aquele sistema absurdo ir de vala seria extremamente satisfatória.

Mostrou a língua para o guarda que o encarava, o mesmo rolou os olhos e andou para outra direção. Voltou a olhar para a tela de seu notebook e tentou seu máximo para concentrar-se naquela matéria. Havia lido os livros e artigos que o professor mandou ler, fez os resumos que relacionava um texto com o outro, destacou os termos mais importantes e que não podiam ser esquecidos. Estava tudo em sua cabeça, ele sabia de tudo aquilo que estava vendo. Tinha apenas que ter calma e revisar. Nomes de pessoas importantes, eventos principais, termos, definições, palavras-chave, mais nomes... Sim, se lembrava de tudo que estava em seu PDF, até a ordem, sabia tudo de cabo a rabo, tinha que ter mais paciência consigo mesmo e um pouco mais de calma. Paciência e calma. Paciência e calma. Paciência e calma. Paciência e–

O Garoto do Outro PrédioOnde histórias criam vida. Descubra agora