A garota da cafeteria

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Desde que Dean e eu passamos a morar no bunker, minha primeira tarefa do dia era buscar café para nós dois. Não... Dean não me obrigava, mas era minha forma de mostrá-lo que me importava com ele. Acordava primeiro, tomava um banho e dirigia com seu querido Impala 67 (o único momento que meu irmão não reclamava por dirigir seu carro. Conveniente claro. Idiota...). Fazer isso por nós dois não me era um esforço apesar de tedioso. Mas um dia, esse tédio magicamente se dissipou.

A cafeteria acabara de ser aberta. O ambiente amadeirado com algumas plantas penduradas pelo teto e janelas, algumas prateleiras com livros, o aroma dos gãos recém torrados invadia o pequeno local. Dessa vez, eu havia ido apenas em busca do meu café. Dean queria bacon, então mesmo que tenha reclamando intensamente, não me importei e usei seu carro para prosseguir minha rotina. Bom, eram meus planos. Mas uma coisa fez com que esses planos saíssem dos trilhos. Uma coisa não... Alguém.

Uma jovem de cabelos longos e óculos arrendondados lia um livro enquanto degustava seu café no fundo da loja. Pelos seus olhos brilhantes, sua leitura parecia encantadora. A mulher de olhos castanho-escuro estava fissurada em cada palavra das páginas que lia e suas expressões faciais mudavam conforme as ações dos personagens. Por alguns segundos, me esqueci do que havia ido buscar, mas logo me lembrei quando precisei desviar meus olhos dos seus.

Peguei meu café , paguei no caixa ainda que desnorteado, e com um sorriso no rosto segui de volta ao bunker. Quando desci as escadas até a sala, Dean estava fazendo seu desjejum se empanturrando de bacon.

- Bom dia irmãozinho! – Riu me encarando enquanto mastigava.

- Bom dia... – Sorri e coloquei meu copo de café sob a mesa.

-Que sorrisinho é esse em? – Me perguntou. – Viu um passarinho?

- Idiota. – Revirei os olhos enquanto me sentava à mesa.

****


Minha rotina não mudou e todos os dias continuei indo à cafeteria. E todos os dias aquela linda moça estava lá, no fundo da loja fascinada em universos escritos. Não podia negar o quão satisfatório era vê-la sorrindo a cada página que virava. Algumas vezes eu a via terminar algum livro e seu sorriso de alívio era nítido em cada desfecho. Finalmente havia um final feliz ou um final misterioso que anunciasse um novo livro.

- Você não tira os olhos dela desde a primeira vez que ela veio aqui... – O senhor do caixa da loja sorriu enquanto eu passava o cartão.

Corei imediatamente e novamente a olhei de longe. Estava fazendo uma dobra em uma página, o que indicava que marcava um fato importante para a história em questão.

- Sabe de onde ela é? – Perguntei.

-Não faço ideia. Parece que estuda por perto. – Respondeu me entregando a nota fiscal. – Só sei que ela fica te olhando quando sai pela porta.

Novamente saí da loja com um sorriso estampado no rosto mesmo sem ao menos saber seu nome. Seu casaco de lã, seus cabelos longos , sua medalinha no pescoço que parecia um amuleto... Cada detalhe da garota sem nome me deixava cada vez mais fascinado.

****

Passei alguns dias sem vê-la. Houve uma quebra de rotina. Dean e eu precisamos viajar com Castiel para uma caça e só eu sei a saudade que eu guardava em mim. Pelos deuses eu daria tudo pra saber ao menos seu nome. Eu estava encantado pela jovem, mas não podia falar a respeito com meu irmão, sabia o quão perigoso ele acharia e instalaria mil paranóias em minha mente então apenas me silenciei até novamente poder vê-la.

Vesti um casaco naquela manhã fria e adentrei a cafeteria indo fazer meu pedido. A fila estava grande e eu internamente agradeci por isso. Poderia ter mais tempo admirando-a. A morena fechou o livro após terminar sua ultima página e revirou os olhos. Ao meu ver, a história não teve um bom final. A morena fechou as expressões e franziu a sobrancelha em sinal de indignação, mas o olhar se transformou em sorriso quando acidentalmente olhou em minha direção e me viu encará-la. Dei um sorriso gentil e assenti com a cabeça. Mesmo que minha imensa vontade fosse me aproximar.

- Estava sumido rapazinho... – O senhor do caixa sorriu gentil. – Está tudo bem?

- Precisei fazer uma viagem. – Sorri. – Mas estou de volta.

- Parece que ela sentiu sua falta... – Disse com um olhar sarcástico. – Todos esses dias em que sumiu, ela não parava de olhar para a entrada. Parecia esperar você entrar.

- Uau. – Suspirei. – Não esperava isso. – Terminei de pagar e peguei o café.

- Ela te deixou uma coisa. – O moço me entregou uma pequeno papel rabiscado.

- Obrigada... – Sorri animado e antes de sair pela porta, admirei por alguns segundos a jovem.

Quando entrei no impala, abri o papel dobrado. A garota tinha deixado seu nome e telefone.

"Meu nome é Audrey.

Me manda uma mensagem? "

Logo abaixo tinha seu telefone. Sorri enquanto gravava o contato de Audrey no meu celular. O papel tinha cheiro de livro, provavelmente seu cheiro. Por isso, o dobrei e guardei na capa do celular. Sorri aliviado. Agora a garota tinha nome e não era apenas um belo sorriso distante. 

Invisible Girl | Sam WinchesterWhere stories live. Discover now