ONE SHOT - 1

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— Escutou o que eu disse, Helena? — Meu chefe chamou minha atenção e eu maneei a cabeça concordando que sim

Na verdade não fazia ideia do que ele estava falando, olhei para o relógio no computador indicando que estava perto do horário do almoço e torci para aquela reunião acabar logo, e principalmente que saíssem da minha sala.

Rabisquei o bloco de notas que havia pegado para escrever alguma coisa que fosse relevante, mas a única coisa que saiu foram desenhos abstratos e palavras sem sentido.

— Finalmente! — Falei assim que a última pessoa saiu e minha porta foi fechada, meu estômago reclamou junto comigo, e olhei as horas.

14:45

Peguei minha bolsa e a chave em cima da mesa e sai da delegacia anunciando que iria almoçar, durante o caminho deixei em uma estação de notícias que falava sobre a previsão do tempo para o fim de semana.

Parei no farol, e do lado de fora uma moça estava vendendo algumas balas, tentou nos primeiros dois carros da frente mas não conseguiu, e o meu era o próximo da fila.

Estava prestes a subir o vidro do carro totalmente quando ela se aproximou sorrindo e ofereceu as balas com um valor simbólico, nesse momento notei a garotinha agarrada em suas pernas olhando meu carro deslumbrada, os olhos castanhos e o cabelo encaracolados lembravam minha Olivia, peguei algumas notas dentro do porta-luvas e entreguei à moça, que ainda insistiu em me entregar algumas balas, mas neguei sorrindo. Doce era algo que eu não consumia, o mais perto de açúcar que eu chegava perto era adoçante no café.

Dirigi até o restaurante que eu costumava almoçar com meu marido quando ainda era vivo, desde seu falecimento não voltava aqui, assim que entrei ignorei a vontade de ir embora e procurei uma mesa, pelo horário estava praticamente vazio, mas fiz o pedido salada de frango, e suco de melancia.

Me peguei novamente pensando em Olivia, ontem havia completado 45 dias desde que deixei ela no abrigo para adolescentes infratores, e não havia um dia que eu não pensasse nela, peguei meu celular discando o número que já havia decorado, após tantas vezes ligando.

— Como ela está?

...

— Outra vez?

...

— Qual motivo?

...

— Não sei se seria uma boa ideia

...

— Pode ser por volta das 18?

...

Até!

Desliguei o telefone encarando o aparelho como se estivesse olhando para o próprio inspetor responsável pelo abrigo, todos os dias no horário do almoço eu ligava para ele me informar sobre o estado de Olivia, ela ainda tinha dificuldade para comer e estava sempre envolvida em alguma briga, os remédios e vitaminas que era para estar tomando, ela havia parado, e hoje ficou de detenção por derrubar uma garota da cadeira, revirei os olhos quando lembrei do tom de voz do homem quando deu a notícia.

Mesmo negando, eu sentia falta daquela garota, o elo que se formou nos dias que fiquei com Olivia fora suficiente para querer protegê-la, ao mesmo tempo que queria manter distância para que ela não ficasse tão apegada em mim. Meus seios estavam cada vez mais cheios e pesados, pelo menos duas vezes por dia eu precisava tirar leite por causa das dores, meu corpo passou a produzir mais depois que Olivia mamou no hospital.

Terminei meu almoço e voltei para a delegacia, havia combinado com Luiz, que passaria lá mais tarde, precisava saber o que estava acontecendo com Olivia e entender o comportamento agressivo, embora fizesse uma ideia com o histórico de pais abusivos, infância traumática e abandono parental.

Motherly LoveWhere stories live. Discover now