III - Harry Potter

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Está tudo muito estranho ultimamente. Não sinto mais como se Hogwarts fosse minha casa.

As coisas estão mudando, eu estou mudando e a única coisa que eu posso fazer é aceitar. Ronald não aceita. Hermione aceita, mas percebo que tem medo do que os outros podem achar de mim a partir de agora. Eu não me importo com o que pensam de mim, eu só não quero que isso se torne uma fofoca rodeando a escola toda nesse momento. Ronald não veio na mesma cabine que eu, vim com Hermione, ela está sempre ao meu lado, mas achei melhor ficar quieto por enquanto, qualquer coisa que eu falar nessa situação pode virar motivo de pena e isso é o que eu menos quero agora.

Tenho conversado bastante com Edwiges, eu falo e ela ouve, é basicamente essa a nossa relação. E é assim que venho seguindo, preciso de pessoas que me ouçam, não pessoas que opinem. O problema do mundo é esse, está lotado de opiniões, a maioria delas que não nos interessam.

Ronald está usando da melhor forma que encontrou para me evitar, o que logicamente, não está funcionando já que dormirmos no mesmo dormitório. Ele trocar de cama com o Simas foi algo que me chateou bastante, essa era uma das atitudes que jamais imaginei que ele tomaria, mas não tiro a sua razão, cada um faz o que acha melhor.

Terminei o meu "romance" com Gina e não imaginava que ela ficaria tão magoada. Não tínhamos nada sério, na verdade, ficamos algumas vezes, mas pelo o jeito foi o suficiente para ela começar a gostar de mim e nesse momento não posso mais continuar com isso.

Vim para as masmorras, estou em um corredor bem próximo a outro que dá para a entrada dos dormitórios de Sonserina. Não sei por que decidi ficar aqui, mas é nesse lugar que estou. Aqui é silencioso, o máximo que ouço são as risadas dos alunos de Sonserina que passam pelos corredores rindo de alguma coisa que eu gostaria de saber o que é. Nunca tinha reparado o quanto esse lugar é frio. Eu me sinto frio hoje. O que nós somos sem nossos amigos? Frios. Eu poderia dizer agora que não preciso de amigos porque tenho a minha família, mas não tenho a minha família, meus pais estão mortos, Sírius está morto. O mais próximo que tive de um irmão, está querendo estar morto para mim também, então hoje estou frio.

As pessoas costumam se esconder em Hogwarts, não digo se esconder dos outros, mas esconder o que sentem, de onde são, o que querem. Os mestiços se escondem, os alunos de Lufa-Lufa costumam se esconder dos alunos de Sonserina, os mais pobres se escondem dos mais ricos, os menos inteligentes se escondem dos mais inteligentes. Quando você tenta definir Hogwarts como alguma coisa, você a define como um esconderijo. Eu me escondia em Hogwarts porque era aqui que eu me sentia bem, a casa dos Dursley era onde eu estava em destaque, todos sabiam que se eu não estava aqui, eu estava lá, e lá eu era um alvo fácil. Todos sabem que eu estou aqui hoje, mas ninguém sabe onde. Esse lugar, por mais que eu não esteja me sentindo assim nesse momento, é minha casa, e eu conheço todos os esconderijos daqui. E é aqui que eu continuarei escondido. Hermione não sabe, mas também se esconde em Hogwarts. Hermione faz o que pode e o que não pode para ser melhor em tudo, porque dessa forma, ela acha que as pessoas vão lembrar-se dela como a inteligente e não como a "sangue-ruim", o que ela não sabe é que o status negativo tende a pesar mais nessa questão de popularidade.

Ronald também está escondido em Hogwarts, mais precisamente em Lilá, ele acha que seu relacionamento com ela é uma forma de esconder o que ele sente por Hermione, ele não percebe que é isso que o faz a amar tanto. O não poder tê-la faz com que ele a queira ainda mais. E é isso que está acontecendo comigo, eu não posso, mas quero. E eu quero muito.

Duda sempre me dizia que eu não tinha escolha e nem vontades na casa dos Durleys, eu não poderia escolher o que almoçar, por exemplo, ou quando almoçar, ou o que assistir ou ate o que vestir, tudo era escolhido para mim. Ele dizia que em Hogwarts eu poderia escolher o que quisesse. Mas ali não, ali o que reinava eram suas vontades.

Na concepção dele, nós bruxos, podemos fazer qualquer coisa que quisermos na hora que quisermos e onde quisermos só por ser bruxos. Eu sempre soube que ele estava errado, mas nesse momento eu queria que ele tivesse razão, eu queria não querer aquilo que quero agora.

Já enfrentei vários inimigos na minha vida, mas esse que estou enfrentando agora é o pior de todos. Eu enfrento a mim, todos os dias, em tudo que estou passando eu só enxergo a mim, o que eu sinto, o que eu faço e o que eu preciso fazer, é ali que está o meu reflexo e isso está me deixando louco. E eu decido enfrentar. Eu decido enfrentar a mim e a todos. Mas nessa luta contra esse inimigo eu não estou sozinho. E quem está junto comigo ainda não criou forças para enfrentar isso por mim. Por nós.

Enquanto estou aqui escondido, ainda bem próximo da entrada dos dormitórios de Sonserina, vejo-o entrando no corredor que daria para o seu, os cabelos refletem a pouca luz que as masmorras trazem consigo, mas aquela luz é suficiente para iluminar todo o caminho em que ele percorre, e já não me sinto mais frio, me sinto quente, bem quente. E Draco Malfoy segue seu caminho sem notar que eu estava ali.

A Dança da SerpenteOnde histórias criam vida. Descubra agora