capítulo dois

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"Então, pela primeira vez na minha vida, me deixe ter o que quero
Deus sabe que essa seria a primeira vez."

— Please, Please, Please, Let Me Get What I Want, The Smiths.

Will acordou, sobressaltado, arfando como se tivesse corrido uma maratona.

Sonhou com cabelos escuros encaracolados, um perfume levemente amadeirado e a sensação de barba recém cortada passando pelo seu rosto em beijos suaves.

Montauk. Estavam em Montauk. Entre a neve fina e congelante que caía lentamente do céu escuro. Sua risada, divertida e alta, estava em sua mente em algum lugar. Parecia que estava bem ao pé de seus ouvidos, como se estivesse ali ao seu lado.

Se levantou. Iria para Montauk às duas da manhã, quem se importa? Nunca se considerou uma pessoa controlada, de qualquer forma.

5ª memória;

"Por que sinto que esses são os meus últimos momentos de vida?" Mike perguntou, seguindo Will pelos atalhos desconhecidos, tentando se aquecer contra o frio, usando casacos enormes, botas ridículas e luvas fofinhas.

O menor riu, sem se dar ao trabalho de olhar para trás. "Porque você é dramático, provavelmente."

Arfou, ainda mais dramático. "Estamos indo nos deitar no gelo de madrugada! A probabilidade de morrermos é muito, muito alta."

"Ora, um pouco de aventura nunca matou ninguém."

Iria pontuar que, de fato, muitas pessoas morreram sendo aventureiras, mas Will foi mais rápido. "Corrigindo, ninguém nunca morreu por se deitar no gelo."

"Tenho certeza que já morreram, sim."

"Trabalho com estatísticas, Mike. Sem números, sem discussão."

"E quais as provas de que as pessoas de fato não morreram?"

"Você já viu acontecer? Conheceu alguém que morreu por se deitar no gelo?"

"Não, mas o Lucas e a Max irão conhecer."

Will riu, aquela risada gostosa, e deu um tapinha no ombro de Mike, justamente quando a floresta em que caminhavam se abriu repentinamente, mostrando-lhes a beleza do lago congelado em uma madrugada fria. O céu, escuro e sem estrelas, trazia a sensação de infinidade, apenas o lago eterno, seu namorado bobo e Mike. Will sorriu mais ainda, puxando o Wheeler sem muito cuidado. "Chegamos."

"Para de andar assim!"

"O gelo é grosso, deixa disso." E, apenas para provar o seu ponto, saiu deslizando noite afora, rindo alto, divertido, trazendo um sorriso para o rosto preocupado de Mike.

"Will. Will, volta aqui."

O garoto retornou, deslizando com um pouco de dificuldade, e se pegou preso entre os braços de Mike, que o apertou suavemente, rindo de sua falta de ar. "Me solta! Seu brutamontes." Socou o Wheeler sem muita força, ambos perdidos demais na risada compartilhada para realmente levar a sério qualquer outra coisa.

Ao finalmente se soltar, Will se deitou no gelo despreocupadamente, e Mike, apreensivo, o copiou, um pouco mais lento, recebendo um "seu velho" de seu namorado.

O céu escuro brilhava com pequenas e escondidas estrelas, iluminando seus rostos no escuro daquela noite gelada. Will se aconchegou no peito de Mike, ambos respirando fundo em uníssono. Will cheirava a capim limão e o sabonete florido que sempre comprava. Sua respiração era quente, regular, arrepiando todos os pêlos pelo corpo de Mike. Sua respiração estava rarefeita, e Mike nunca se sentiu mais vivo.

montauk x byler Where stories live. Discover now