Capítulo 8

2.3K 206 90
                                    

"Bota pra ferver, no caldeirão do amor; Bota pra ferver, a ilusão e a dor; Bota pra ferver, um rio de lágrimas..." (Bota pra ferver, Asa de Águia).

...

Dirigi meticuloso por diversas vias, sem ter a mínima ideia do destino de César. Tempo não seria um problema, estava disposto a tudo. O trânsito estava fluindo normalmente e logo o percebi sinalizando para entrar em um shopping. Diminuí a velocidade, e acompanhei o seu trajeto. Memorizei a área onde estacionou o carro e parei um pouco mais adiante, feliz por ter achado uma vaga próxima.

Mantinha a distância para que não fosse avistado e me desanimei um pouco pelo espaço estar bem cheio. "Definitivamente, esse não é um bom lugar para interpelar alguém", concluí. Só me restava esperar e torcer para que ele não demorasse ali. Meu oponente percorreu a praça de alimentação, onde abraçou uma pessoa e sentou para lhe fazer companhia. O homem deveria ter a mesma idade e supus ser um amigo qualquer.

Ambos compraram um sanduíche e aproveitei a ocasião para me abastecer também, sempre atento a tudo. A conversa alheia seguia animada e usei o tempo livre para repassar novamente todas as minhas ideias. Nada poderia dar errado. Nesse intervalo, verifiquei algumas mensagens não lidas no celular. Eram de Gustavo:

- "Oi, caiu da cama? Vi o seu recado, tá tudo bem?".

Sem retorno, enviou outra algum tempo depois:

- "Você acha que vai demorar muito? Precisava conversar um negócio com você...".

Fiquei pensando no assunto que seria tratado e cheguei a ficar preocupado, mas ele teria que esperar um pouco:

- "Oi Guga. Tô resolvendo alguns problemas e vou chegar um pouco mais tarde hoje, certo? O que houve, algum problema?" - digitei.

Gustavo deu sequência ao papo virtual quase que de imediato:

- "Não, tá tudo bem. Eu fico te aguardando então. Pode ficar sossegado...".

Perdurei intrigado, mas logo voltei a focar no meu objetivo quando os amigos se levantaram. Dali, os dois passearam olhando vitrines de lojas e, juntos, caminharam para o posto de validação do estacionamento, onde pagaram e deslocaram-se para a garagem. Apressado, repeti o mesmo processo e, avistando o carro de César, notei que teria uma companhia para atrapalhar o meu dia, já que o assento do passageiro agora estava ocupado. "Droga!".

Continuei a perseguição silenciosa pelas ruas. Para o meu alívio, meu alvo deixou o colega em sua residência, um edifício nas redondezas do ponto de encontro. Ao menos era o que eu imaginava. Tirava fotos a cada instante, sem saber se colhia pistas preciosas ou momentos fúteis do cotidiano do garoto.

De volta aos trilhos, uma boa oportunidade pareceu surgir quando o veículo parou próximo a uma grande casa, numa rua bem tranquila. Manobrei mais atrás, enquanto ele atravessava a pista para adentrar o recinto. O sol já caía se pondo no horizonte, e decidi que seria ali, quando ele saísse do imóvel, onde daria início ao plano. Não podia mais perder tempo.

Aos poucos, algumas pessoas (todos homens de diferentes idades) repetiam o ritual, sempre olhando para os lados antes de entrar no local, como se não quisessem ser flagradas. "Mas que porra é essa?", estava curioso sobre o estabelecimento. Peguei os óculos e o celular, guardei a mochila no porta-malas do carro e caminhei para o misterioso domicílio. A explicação já estava estampada na porta do espaço, onde uma discreta placa anunciava uma sauna gay.

Surpreendi-me com o nível de desprendimento do integrante da gangue e, contente com a possibilidade de encontra-lo em um estado mais animado (por assim dizer), toquei o interfone - lendo as instruções de um aviso ao lado do nome. O portão destravou, autorizando o meu acesso a uma recepção. Nunca tinha frequentado um lugar similar e não sabia o que encontraria pela frente.

Amor de Carnaval não VingaWhere stories live. Discover now