Capítulo VIII

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Para melhor experiência, recomendo que escute essa música enquanto lê o capítulo.


I

Natsu fazia quase de tudo para mim, menos dar banho, de resto tinha tomado o lugar, esse antes de Helena. Se ele vestisse um terno, passaria facilmente por um empregado meu.

A letargia tomava meu ser, e isso era estranho. O ânimo tinha sido usurpado de minha alma, nem queria comer. E Helena também piorava, definhando, emagrecendo aos poucos. – Algo que vim a saber, por Natsu, tinha sido o pedido no mínimo peculiar de que ele fez à Helena; quando ela fosse ao banheiro, usasse, e se fosse o número um não desse descarga.

Ele me disse que a urina dela era pouca. Ele a obrigava a beber bastante chá, mas a pouca urina que saía tinha espuma. E ele fez o mesmo comigo, pedindo às empregadas para me encherem de chás durante o dia, para limpar meu corpo e avaliar também minha condição. A minha tinha espuma, era escura e quando saia queimava um pouco. Era infecção, afirmava! – Contra essa doença fomos impostas a bebermos chá de uva ursina, e de hidraste. Meu xixi tinha uma cor melhor, mesmo sentindo muita dor; ele afirmou que Helena estava como eu, só que pior. E que uma vez acabou não aguentando enquanto ia, como se não estivesse conseguindo segurar; e não estava – afirmava lastimado – que a carregou para o banheiro, pois seus pés pareciam tão fracos quanto os meus. – Parecia um doutor, agia como doutor, tinha ar de um druwido...

Gengibre, caju, cravo, canela, alho e romã, todas essas frutas faziam parte de nossas dietas ditadas por ele às cozinheiras. A comida, mascava na boca e engolia à força, minha boca estava sem gosto algum, logo, comer tinha se tornado uma penitência. Meu estômago doía, uma cólica infernal. No aperto na bexiga, ia para o banheiro – quando não carregada – , mas saía bem pouquinho xixi – o que preocupava Natsu. – Como ardia, e o cheiro era forte. – Como meu corpo doía, e a cólica! A fraqueza! Tornava tudo pior...

II

Dizer não é poder. Aprendi, encamada, quase presa ao meu quarto. Vou melhorar. Queria, mas falar não fazia meu corpo aceitar. Nesses momentos, observando a neve cair pela janela, os livros foram a saída de minha letargia. O tempo tinha um estado estranho, anormalmente lento, quase parado nos momentos de agonia. – Em minha virilha sentia uma pressão intensa e queimação. Pulsava irritantemente.

Um gosto de metal molhava minha língua constantemente, azedando o sabor da comida, arrancando os últimos fios de apetite. Nessa época acabei perdendo quase cinco quilos por recusar-me a comer, pois, vomitaria ou comeria menos da metade. Igual uma criança fazia birra, recusando; murmurando quando convencida a comer, do sabor horrível.

Quando me olhava no espelho do banheiro via algo estranho. Tinha olhos fundos, uma pele cinzenta enfeitada por erupções dolorosas que coçavam muito; lábios rachados, pálidos; cabelo seco e quebradiço. Meus olhos vermelhos, não de choro, derramavam lágrimas de frustração ao ver meu estado. Nem minhas unhas tinham cor; a perderam.

Para tomar banho precisava de ajuda...

Cécilia retirava minhas roupas, preparava a água. Segurava minha mão para que não caísse ou escorregasse, para me ajudar a mergulhar na banheira. Minha tez parecia fina, logo, tudo incomodava; até o linho. – Gentilmente esfregava-me o corpo. Para cima e para baixo... Usando uma esponja natural para arrancar as impurezas de meu ser. Hidratava meus cabelos. Seus dedos eram pequenos e suas mãos suaves, não sentia quase seu toque. Me secava e vestia de novo.

Promessas de primaveraWhere stories live. Discover now