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PUMA

Meu morro é minha casa e não troco isso aqui por nada.

Desde pivete sonhei em estar no topo e depois de muita luta, consegui.

Nesses anos, já quebrei a cara com tanta gente, já perdi guerra com os tiras mas isso me deixou cada vez mais forte.

Hoje tenho controle total da minha quebrada, tudo o que acontece eu fico sabendo, e se alguém tentar invadir, pode ter certeza que nois tá preparado pro que acontecer.

Bala aqui é o que não falta, e gente pra dar tiro, a mesma coisa.

— Qual é Puma, de boa?

— Manda. — Digo depois de fazer o toque com o IG.

— Sabe aquela véia que faz faxina no teu barraco? Uma tal de Maria, ela tá querendo papo contigo.

Reviro os olhos, que que essa velha quer?

— Manda subir.

— Fechou. — IG abre a porta e logo ela aparece devagar na porta.

— Puma. — Ela faz um sinal com a cabeça e eu também. — Preciso de um favor.

Eu fico em silêncio observando o movimento através da janela.

— Puma?

— Outro favor dona Maria? — Eu a encaro. — Já não está me devendo o bastante? — Ela abaixa a cabeça. — Mandei um dos meus homens ir te cobrar esses dias, ele foi bom em não meter uma bala na sua cabeça... Eu não teria a mesma piedade, pode ter certeza.

— Não vim pedir dinheiro... Minha neta não tem onde morar, precisa morar comigo...

— Eu quero o dinheiro que tu ta me devendo. — Me sento e coloco minha glock na mesa, o que faz ela ficar mais assustada.

— Vou te pagar, prometo, mas deixe ela morar aqui no morro.

— É alguém de confiança?

— Sim.

— Olha olha dona Maria, se tu colocar alguém suspeito no meu morro... A bala vai comer.

— Sim senhor.

— Tu tem dois dias. Pode meter o pé. — Digo e ela sai. — Pode liberar. — Falo pro Paiva e ele assente. — Ou, ela tem dois dias pra pagar, se não, tu já sabe. — Paiva concorda e sai.

Essa velha tá me devendo já tem um tempo e agora eu não vou deixar passar.

NALA

Não sabia que minha vó morava em um morro... Eu já ia entrar mas ela disse pra eu esperar ela voltar, que tinha que conversar com um povo pra ver se eu podia entrar lá.

Achei um pouco estranho, mas tudo bem, fiquei esperando com minha mochila.

— Ihh princesa, é nova na quebrada? Diz teu nome ai pra gente, vai! — Um cara com cabelos castanhos, cheio de tatuagem, de correntes no pescoço e com arma na mão, me pergunta.

— Nala. — Respondo mas fico com medo de algo acontecer.

— Com essa pinta toda, quer vir morar pra esses lados ainda? — Outro cara que estava do lado me pergunta.

— Sim, minha avó mora aqui... — Quando respondo, ela aparece.

— Vamos minha neta. — Eu a sigo, passando entre os homens armados e vendo um morro gigante para subir.

— Essa ai tá fudida, não aguenta nem uma semana aqui na quebrada. — Um dos caras diz depois que eu passo e os outros dão risada.

— Mas tá ligado que é gostosa né... Já já vem pra nois!

Depois disso, começamos a subir até chegar na casa da minha vó.

— É aqui minha neta. — Ela me abraça e entramos. — Tenho um quartinho vago, ele é seu, não é muita coisa mas...

— É perfeito! — Digo vendo um espacinho grande e já deixo minha mala em cima da cama. Não tinha decoração nenhuma, mas estava perfeito.

Nos sentamos na mesa de jantar e ela já foi fazer um cafezinho e trouxe um bolo pra eu comer.

— Está uma delícia. — Falo morrendo de fome.

— Nala, escute. — Eu presto atenção. — Aqui é perigoso, não se meta com esses bandidos, são todos uns jaguaras. E não se meta com essas mulheres de baixo calão, se não você vai pro mesmo caminho que elas!

— Tudo bem...

— Eu não aceito tu como mulher de bandido e nem como... Prostituta. — Ela dá uma pausa antes de falar essa palavra. — Não brigue com ninguém e não deva a ninguém.

— Eu quero arranjar um trabalho e te ajudar com as despesas vó...

— Tudo bem, você pode procurar alguma coisa, fiquei sabendo que no salão aqui perto eles estão contratando umas meninas.

— Ótimo! — Sorrio. Preciso ter meu próprio dinheiro.

— Simm. — Ela olha no relógio. — Ó céus, já está tarde, tenho que ir trabalhar.

— Com o que a senhora trabalha?

— Sou faxineira.

— Nessa idade vó, não era pra senhora estar aposentada?

— Tenho coisas a pagar ainda... Agora estou indo, e você, tome cuidado!

Eu dou um abraço e um beijo nela e saio dar uma volta por perto.

Se perder aqui parece muito fácil, tem vários becos e lugares meio estranhos.

Eu esbarro sem querer em uma mulher loira alta.

— Ô minha queridinha, olha pra onde tu anda, quer morrer? — Ela diz e sai andando, eu a sigo com o olhar e vejo ela entrar em um salão de beleza.

Sem pensar duas vezes, vou atrás, talvez seja o salão que minha vó comentou.

Eu entro e as coisas estão meio fora de lugar. Tinha umas três mulheres discutindo e a loira estava sentada em uma das cadeiras.

— SAI DO MEU SALÃO! VAGABUNDA IMPRESTÁVEL É O QUE NÃO FALTA NESSA MERDA!

— SAIR É O CARALHO! — A outra diz e a dona do salão a agarra pelos cabelos e passa por mim, jogando a menina no chão, que logo vai embora.

— Quem tu é? Nunca te vi no morro. — A menina que sobrou diz.

— Nala, prazer. — Estendo minha mão mas ela não me cumprimenta.

— Que que tu quer?

— Trabalhar.

— Aqui? Se eu fosse tu patricinha, eu vazava daqui, aqui não é lugar pra tu não princesa.

— Preciso de trabalho, me mudei pra cá agora...

— Fala com a chefe, ela ta voltando agora.

Olho pra porta e a mulher que pegou a outra pelos cabelos, volta com raiva para o salão.

— Quem é essa? — Ela me olha de cima a baixo.

— Quer trabalhar aqui. — A menina responde.

— Sabe fazer unha? — Eu assenti. — Ótimo, o salário é uma merda, mas pode começar hoje. Se tentar me passar a perna, tu ta fudida. — Fala e sai do salão novamente e eu olho pra menina que ficou do meu lado.

— Sou Mia. Tu nunca morou em quebrada né? — Ela sorri meio amigável.

— Não...

— Eu te ajudo... — Antes dela terminar, a loira que estava sentada na cadeira a interrompe.

— Com licença? Nenhuma vem me atender não??

Mia revira os olhos e vai atrás da mulher.

Onde foi que eu me meti, meu Deus?

Mocinha do ChefeWhere stories live. Discover now