25. A mulher que escolhi

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— Doutor Rafael Portela, meu paciente mais teimoso. Que prazer em revê-lo! - Miranda era colega de classe na infância de sua mãe. Foram amigas na adolescência, mas a idade adulta as fez seguir rumos diferentes. Mesmo assim, enxergava Rafael como um sobrinho querido a quem ela fez questão de atender no seu momento de maior desespero. - Espero que bons tempos o tragam de volta... - Era irônica. A cara dele já revelava o quanto estava sofrendo. - Será que estamos preparados para a terapêutica agora?

— Acho que sim. - Gostava de Miranda e sabia que precisava de alguém como ela para fazer terapia, mas detestava admitir isso, principalmente quando provava estar certa desde sempre. Rafael era muito bom em fingir que estava tudo bem e tergiversar. Somente alguém com mente astuta e algum grau de autoridade o faria sair da zona de conforto.

— Ótimo! - Incentivava ao mesmo tempo que o inquiria. - E o que o traz aqui? Pelo que entendi da nossa última consulta, o senhor havia se dado alta.

— Preciso me casar de novo. - Mantinha o cenho fechado.

— Precisa? - Ela ficou curiosa com a escolha do verbo. - Interessante... - Anotou no tablet. - É necessário estar casado para assumir a sucessão dos negócios da família?

— Você exagera, Miranda. - Foi desarmado por essa ironia, parecia enredo de novela turca. - É claro que não se trata de uma mera questão contratual. Se fosse sobre isso, eu não estaria aqui. Resolveria tudo no meu próprio escritório.

— Você quer se casar então? - Tinha os olhos em cima dele. Usava uns óculos de aro fino que sempre o desconcertavam.

— Quero. - Respondeu com firmeza.

— Você a ama?

— Acho que sim... - Já nessa resposta, ele hesitava. Era muito cedo para falar de amor. Ele definitivamente se interessava por Júlia, o que era mais do que pensava ser capaz de fazer depois de Pilar. E, sem dúvida, ele a queria.

— Bom, é um grande avanço. Na sua última consulta, você me disse que "seu coração foi enterrado junto com os restos mortais da sua esposa". - Repetiu exatamente o que ele tinha dito meses atrás. Ouvindo assim, soava um pouco brega e exagerado. Talvez ele realmente cultuasse a dor e o sofrimento como Júlia dissera.

— Você poderia não ser tão competente, Miranda? Eu estou em frangalhos aqui. - Passou as mãos pela cabeça. - Sei que tenho sido grosseiro e turrão, mas realmente preciso de soluções. - Sentia até um pouco de enjoo. Sentou melhor e colocou a cabeça entre as pernas tentando não chorar. Quase não pregara o olho e praticamente exigira uma consulta de emergência à atendente de Miranda. O tipo de coisa que só acontecia quando alguém como ele estava prestes a fazer uma besteira. Uma besteira bem grande.

— Calma, Rafael. - Ela colocou a mão sobre o ombro dele. - Estou brincando. Acho que você fez um belo progresso desde nosso último encontro. - Sorriu. - Para quem acreditava estar morto por dentro, considerar pedir uma moça em casamento é um longo percurso. Não importa por qual motivo venha a se dar esse enlace...

— Eu já pedi a moça em questão em casamento. - Miranda levantou as sobrancelhas demonstrando espanto. - O casamento é neste sábado pela manhã na casa de minha mãe. Sinta-se convidada. - Miranda mordeu os lábios, soltou o tablet sobre a mesinha de centro e tirou os óculos para limpá-los tentando ganhar tempo para não dizer o que pensava de verdade sobre esse casamento.

— Preciso dos fatos, Rafael. Não posso lidar com conjecturas. - Foi sincera. - O que está acontecendo?

— Ela está grávida. - Miranda fez que sim com a cabeça. Dava para perceber o esforço que fazia para manter as feições neutras. - Dos embriões que congelei com Pilar...

Uma família de presenteDove le storie prendono vita. Scoprilo ora