Capítulo XII

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Para melhor experiência, recomendo que escute essa música enquanto lê o capítulo.

I

Natsu continuou nosso tratamento durante o restante do inverno, tomando o lugar qual Cecília empenhava para mim. Ele fez uma alteração na nossa dieta: adicionou leite, vinagre, óleo de rícino, sulfato de magnésia, carvão ativado e substâncias quelantes, algo assim; e rica em ferro, cálcio e vitamina C. Ele dizia que isso ajudaria a eliminar o chumbo do nosso organismo e a fortalecer o nosso sistema imunológico. Ele também nos dava chás de ervas e poções de sua própria receita. Ele tinha um conhecimento incrível sobre plantas, minerais e magia. Algo realmente surpreende. 

Helena melhorou conforme os dias, mas suas pernas; os nervos; tinham sido muito afetados devido à prolongada exposição ao chumbo. Ele a fazia massagens, espetava agulhas – chamava de "acupuntura" –, dava choques leves por meio de feitiços simples; posicionando as mãos sobre as têmporas – usando o tratamento galvânico. – Até banhos quentes e frios a deu para tentar alguma reação. No fim era irreversível. Nem curandeiros teriam o que fazer devido ao tempo do dano.

Já eu, duas semanas depois, estava nova em folha... 

II

Cecília estava quieta, trancada no quarto durante todo o tempo. Os empregados mantinham uma distância de cinco passos de sua porta. Olhos assustados. Encolhida na cama. Vestia trapos. Pensava bastante também sobre suas atitudes. 

Com o esfriar de minha raiva, pensava melhor no que fazer com ela. Mantê-la até o retorno de Wendy acabava sendo a opção mais favorável e ideal, Cecília não era minha serva, porém, compaixão tinha por sua pessoa ainda; por ser humana, somente isso.

Vivia enclausurada num quartinho dos fundos, se eu desse seis passos largos bateria na parede, e isso em qualquer direção. Na verdade lá, no passado, tinha sido um quartinho de depósito, só; mas, para acomodar mais pessoas, foi transformado por minha irmã em um aposento – acho para punir servas desobedientes. Lembrava uma solitária. Nem janelas tinha. A única luz, de lâmpada, vacilava às vezes. 

"Como está?"

Chamei-a, sentando-me num banquinho de madeira. 

"Não estou mais com raiva de você. Não vou te mandar para o Templo."

"Verdade?..."

"Sim, porém, você é propriedade de minha irmã. A conhece mais do que eu."

A vi enfiar novamente a cabeça entre os braços, fungando. Sentada no colchão, no cantinho da parede. Uma figura digna de pena.

"Helena talvez não possa mais andar... Não como antes..."

Tossi um pouco. Lá fedia, e fedia a mofo também. 

"Olhe para mim, Cicília. Me responda quando te pergunto algo, ok?"

"O-ok... Lady..."

Ergueu novamente o rosto. Olhos fundos, vermelhos, tristes e vazios. Chorava ainda, mas lágrimas somente não saiam mais. 

"Por que a Helena?"

"Tomando o lugar dela... Poderia te envenenar mais facilmente... Eu; eu.... Achava que o chumbo era como veneno, sabe? Não sabia que era tão lento..."

Promessas de primaveraOnde histórias criam vida. Descubra agora