𝐒𝐍𝐎𝐖𝐌𝐀𝐍, 𝗮𝘂 𝗽𝗲𝗷𝗮̃𝗼

quatro.

Point Of View, JOÃO VITOR
❞Eu podia ser como você, com todo o seu carisma que cativa...❞

Eu peguei as chaves e subi para o quarto. Porra, quanta escada. Por que nessa escola não existe um elevador? Pensei que só na minha cidade não existia essas coisas tecnológicas.
Quando entrei percebi que tinha mais algum aluno dormindo lá pelas roupas no banheiro e a cama meio bagunçada, então resolvi deixar minhas malas em um cantinho para não atrapalhar.

Abri o guarda roupa e uma parte estava desocupada, provavelmente onde devo colocar minhas roupas e é isso o que fiz.

Coloquei a mala no chão e comecei a guardar as roupas nos cabides, algumas dobrei e encaixei nas gavetas mesmo.

Estava finalizando a primeira mala quando ouvi a maçaneta da porta se mexer, deve ser o meu colega. Olhei rapidamente para trás e surpreendentemente era o garoto que sorriu para mim quando cheguei. Aquele dos olhos castanhos mais lindos e brilhantes que eu já vi.

Pedro: — O-oi? — Ele parece ter ficado nervoso.

João: — Oi! — Me levanto. — Eu invadi seu quarto e guardei as roupas no armário. — Digo em um riso.

Pedro: — Eu percebi. — Ri, se aproximando de mim. — Agora você vai ter que dormir comigo, não é?

João: — Vou. — Suspiro. — Bom... caso você não queira... — Ele interrompe minha fala.

Pedro: — Eu quero! Q-quer dizer, vai ser bom ter alguém para conversar as vezes. — Fala baixo.

João: — Relaxa, não precisa ter medo. Eu sou tranquilo.

Pedro: — João, pode ficar a vontade também, só não mexe nas minhas câmeras.

Ele sabe meu nome.

João: — Como você sabe o meu nome? — O olho curioso.

Pedro: — Talvez... eu tenha ouvido quando você foi fazer a matrícula, hoje mais cedo. — Sorri. — Eu juro que não sou fofoqueiro, mas minha amiga foi resolver algumas coisas e eu acabei escutando quando estava com ela!

João: — Então tá bom... — Volto a atenção para as roupa, ainda desconfiado dele mas sorrindo. — Como você chama?

Pedro: — Pedro, Pedro Palhares.

João: — Bom te conhecer, Pedro, você parece um menino legal.

Pedro: — Eh... eu tento ser pelo menos. — Sinto seu olhar sobre mim. — Quer ajuda, aí? — Aponta.

João: — Não precisa. Vou terminar rápido, não quero atrapalhar você.

Pedro: — Atrapalhar? Você não vai me atrapalhar, cara. É sério, eu posso ajudar!

João: — De verdade, muito obrigado mas eu consigo aqui. — Não quero que ele veja a bagunça que eu faço em segundos.

Pedro: — Tudo bem para você eu ficar na cama do canto? — Pergunta.

João: — Claro, você chegou aqui antes. O quarto é todo seu. — Pedro se deita na cama.

Ele começa a mexer no celular, sorrindo um pouco. Desconfio que seja com alguma menina que ele esteja namorando. Hétero, claro.

Pedro: — Vai para a aula hoje?

João: — Não, eu começo amanhã. Tenho que pegar o calendário das aulas de teatro, inclusive.

Pedro: — Mentira! — Fala animado. — Você vai fazer teatro então?

João: — Sim? — Ri.

Pedro: — Eu também faço, nós podemos treinar juntos. Se você quiser, na verdade.

João: — Ah, pode ser uma boa. Não sei se vou aceitar, mas obrigado por oferecer. — Sorrio, simpático.

Pedro: — Porque? Eu não mordo, tá?

João: — Eu sei! Mas gosto de fazer as coisas sozinho.

Pedro: — Hm, entendi. — Ele resmunga algo que eu não consigo entender. — Vou indo, vim pegar uma blusa. Tenho aula agora.

João: — Vai lá, bons estudos. — Pedro sorri meio decepcionado e eu identifiquei isso.

Espero ele sair do quarto e começo a me questionar, acho que fui meio grosso com ele.

Por mais que eu adore fazer as coisas sozinho, o Pedro só queria me ajudar e me acolher já que estou vindo de um lugar distante.

Caralho João Vitor, como você consegue ser tão burro assim? Parei de arrumar um pouco e fiquei pensando em como eu consegui estragar a primeira amizade que tentei fazer.

Pensei em ligar para a minha irmã e desabafar, mas não, eu preciso aprender a resolver as coisas sozinho. Talvez, dar alguma coisa como pedido de desculpas.

Uma carta?
Chocolate? Não sei qual ele gosta e se ele gosta.
Eu não sei!

De alguma forma eu tenho que inverter a situação, até porque não posso dormir com um garoto sendo que nós não nos damos bem. E ainda mais, não posso ficar com fama de insuportável no primeiro dia de aula. Pedro tem cara de ser aqueles meninos famosos e ricos dos colégios americanos, popular que fala.

Ele chega às dezoito, já que hoje não tem aula de teatro e nossos horários são iguais, então tenho tempo para terminar de arrumar o quarto e pensar em algo que possa fazer o Pedro virar meu amigo.