IX

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Algo naquele momento mexeu comigo. Ela iria morrer, ele iria morrer.

- Mas por que ajudar ele? – Me levanto rapidamente, parando mais perto dele. Ele me encarava como nunca antes, ele não sabia.

- Pela vida. – Ele fala por fim.

- Como assim?

- Sarah e eu, assim como foi com Ayla, ele nos deu mais tempo de vida, diferente dos demais de nossa linhagem. – Ele percebeu que eu ainda não estava entendendo. – O que estou tentando te falar, Wandinha, é que Sarah, Ayla e eu, temos mais de 300 anos de vida. Para ser mais específico, nascemos no ano de 1574. Temos 450 anos.

- Vocês sacrificaram vidas para isso?

Ele não fala, mas seu silêncio já é a resposta para isso. Dou um passo para trás, ambos eram realmente assassinos.

- Não precisa ter medo de nós, Wandinha. – Ele se levanta com um pulo. Dou mais um passo para trás. – Ele nos obrigou.

- Não acredito em você.

- Pois deveria. – Ele dá um passo para o lado, parando perto da parede, a parede ao qual possui alguns símbolos. Ele passa a mão por eles. – Vou contar tudo, Wandinha, desde o início, mas primeiro, preciso que confirme que irá nos ajudar.

Ele havia dor em seu olhar, como se já estivesse cansado disso tudo, como se quisesse ser socorrido do fundo do poço.

- Farei o que for preciso, mas não por vocês... Pela escola. – Digo com clareza. Por fim, ele sorri, foi a primeira vez que o vi sorrindo. Acho que ambos nunca fazem isso, sorrir.

- Melhor sentar, que lá vem história. – Ele faz sinal para que eu sentasse. Ele também se senta. – Assim como dito antes, Sarah e eu nascemos em 1574, ela nasceu antes que eu, com alguns minutos a mais. Como de costume, assim que ambos completamos dois anos, Gregório nos retirou dos braços da nossa mãe, tirando também a vida daquela que nos deu à luz. Ele nos criou, assim como fazia com cada criança que nascia com o seu sangue. Quando finalmente completamos dezoito anos, o primeiro sacrifício teria que ser feito. Os mais fortes continuavam e os mais fracos morriam como sacrifícios. Ambos continuamos, mas para isso, tivemos que tirar a vida de um de nossos irmãos. O primeiro que matei era Edgar, o mais alegre entre nós. Sarah matou Azumi, a mais incapacitada entre nós.

"Assim que o primeiro sacrifício é feito, recebemos as cicatrizes, assim como dez anos de vida a mais, sem envelhecer. Depois de passar os dez anos, outro sacrifício era feito. E os mais fortes sempre seguiam em frente, até que só restou nós três. Com o passar do tempo, Gregório foi ficando fraco, tendo que sacrificar seus filhos a cada um ano ao invés de dez. Ano passado era a vez de Sarah, mas ela não se entregou, ao invés disso, ela fugiu. Ayla e eu éramos mais fortes que Sarah, por isso era a sua vez. Ayla nasceu alguns anos após nós, mas sempre continuou conosco, até ela querer se sacrificar no lugar de Sarah. Por conta disso, como punição para Sarah, Gregório a fez matar Ayla e dar ela de sacrifício para ele. Gregório nunca gostou de Sarah, por ela ser rebelde demais com tudo o que ele fazia. Entre esses anos, sempre nos escondemos, sempre estivemos as espreitas de tudo. Não convivemos em sociedade, somente entre nós mesmos. Por isso, se Sarah alguma vez te tratou mal, eu sinto muito por isso."

Ele dá uma pausa antes de continuar. Ele espera que eu fale algo, mas não consigo dizer nada. É muita informação para a minha mente.

- Mas há uma coisa boa depois de tantos anos. – Ele me encara com esperança. – Gregório está fraco a cada ano, precisa da Pandora para voltar a ser como era e continuar a sua linhagem. Podemos acabar com isso. Se achar a Pandora antes dele, talvez possamos usar ela contra ele. Por isso preciso da sua ajuda, Wandinha. Talvez a sua visão nos leva até essa magia. Se cair nas mãos dele, não sei o que poderia acontecer.

Vitus Shaitt - WandinhaOnde histórias criam vida. Descubra agora