all i ask.

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Antônio permaneceu parado na sala, os pés hesitantes em subir as escadas que levava ao quarto que ele compartilhava com Irene. Uma enxurrada de pensamentos tumultuava sua mente, as razões pelas quais ele havia saído do quarto na noite anterior ainda pairavam confusas em sua consciência. Ele sabia que Irene era seu presente, sua esposa, a pessoa que ele prometera nunca abandonar, sabia que devia a ela pelos quase 30 anos de casados. As palavras ditas a sua mulher momentos antes de Ágatha entrar pela porta de sua casa eram verdadeiras, no entanto o passado com sua teia intricada de emoções e memórias, ressurgia com uma intensidade avassaladora, desafiando a solidez do presente.

Ele ficou na sala, imerso em seus pensamentos tumultuados, como havia pedido a ela, uma parte dele ansiava por buscar refúgio no quarto de hóspedes, ansiando por uma noite solitária onde pudesse confrontar os turbilhões de emoções que Ágatha ressurgindo trouxera à tona. No entanto, outra parte de Antônio só ansiava pelo calor reconfortante dos braços de sua esposa, pela familiaridade reconfortante de saber que ela estava na mesma cama que ele. Antônio odiava dormir sozinho, odiava a solidão, e a ideia de mais uma noite afastado do corpo dela parecia uma tortura insuportável, mais difícil de enfrentar do que qualquer desafio que o futuro pudesse apresentar.

Antônio girou a maçaneta da porta, e assim que adentrou o quarto, os olhos de Irene se ergueram em sua direção, uma mistura de apreensão e esperança refletida no seu olhar.

— Que bom que você voltou pro nosso quarto, meu amor. Essa cama sem você é um deserto, Antônio.

— Vou tomar uma ducha. — Anunciou, a voz dele soando distante e fria aos próprios ouvidos enquanto se afastava em direção ao banheiro.

Enquanto ele se retirava, Irene voltou a se deitar, agarrando-se ao celular como uma âncora na tumultuada maré de seus pensamentos. Seus olhos percorriam mecanicamente a tela do Instagram, mas sua mente estava fixa em outro lugar, Ágatha e Antônio.

Irene tentava desvendar os pensamentos que assombravam a mente de seu marido. Ela sabia, desde o início, que a sombra de Ágatha pairava sobre o casamento deles como um fantasma indesejado, inúmeras vezes havia sido confrontada com as comparações de Antônio entre ela e a "falecida esposa", uma ferida aberta que nunca parecia cicatrizar completamente. Apesar de todas as vezes em que tentara ignorar essas comparações, Irene sabia que elas deixavam marcas profundas em sua pele, no entanto ela se apegava a tudo que ela e Antônio construíram juntos, e se recusava a ceder ao espectro do passado que ameaçava separá-los. Ela era a mulher de Antônio em todos os momentos, sua companheira, sua amante, aliada e mãe de seus filhos. Ela havia construído uma vida ao lado dele, e não permitiria que Ágatha, desfizesse a vida que eles tinham. A ideia de perder Antônio para aquela mulher era inconcebível para Irene, ela estava determinada a proteger o prestígio de ser a esposa do poderoso La Selva, custasse o que custasse.

Após alguns minutos, Antônio retornou ao quarto de banho tomado, seus olhos encontraram Irene ainda acordada, deitada de bruços em seu lado da cama. Ele se aproximou lentamente, passou o olhar pelo corpo da esposa e sentou-se ao seu lado, colocando as mãos sob os ombros dela.

— Irene, pensei que já tivesse adormecido. Chega um pouco pra lá. — Pediu calmamente, seus olhos buscando o dela em meio a penumbra do quarto.

Ela se virou de frente para ele, deixando de lado o celular que a mantinha distraída. — Não, estava esperando você. — Confessou com sinceridade, seus olhos refletindo uma mistura de vulnerabilidade e determinação.

Antônio suspirou — Irene, eu tô cansado, hoje o dia foi cheio. — Ele disse, antecipando a direção da conversa que sabia que ela queria seguir.

— Está vendo? Por causa dessa mulher você já está me tratando diferente. — Irene retrucou.

mine, all mine.  - antorene Onde histórias criam vida. Descubra agora