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—Bournemouth,Inglaterra 2004
A água fria escorre no meu peito enquanto meus olhos estão fechados,a palma das minhas mãos ardem por eu ter brincado tempo demais com meu canivete,mas ainda assim não é suficiente para ser maior que a dor de ser um completo perdedor para meu pai.O dia na empresa foi como todos,eu seguia suas ordens,acompanhava nas reuniões e ponto,seu secretário,lá eu não era seu filho,era apenas alguém que trabalhava para que sua merda continuasse crescendo.
A toalha se enrola em volta de mim enquanto estou em frente ao espelho,meus cabelos ainda estão molhados e pingando quando minhas mãos se prensam no mármore,eu quero que doa,eu quero sentir como dói,eu quero que seja forte ao ponto de eu querer mais,sempre fui necessitado desta merda,por culpa dele.Isso eu poderia admitir com gosto,eu me saciar com cortes,as vezes profundos,as vezes não.. Isso era culpa dele.Do pai de Damon em parte,mas principalmente dele.Me perguntei muitas vezes se cortasse a garganta deles faria isso desaparecer,se eu voltaria a ser alguém normal e não tão malditamente fodido.
—Kai?—a voz de Rosa soa atrapalhando meus pensamentos
Eu sabia que minha irmã não era burra,que ela talvez já tenha percebido que eu e minha mãe temos a merda de um problema,mas a tal família p-e-r-f-e-i-t-a que o nosso querido pai fez se criar na sua cabeça desde pequena até agora não a façam enxergar que não são simples machucados que irão se curar com o tempo,minha mãe gosta da dor,eu gosto da dor.Rosa nunca entenderia mesmo dando breves olhadas tentando passar despercebida para os pulsos enfaixados de minha mãe ou para às minhas mãos agora que fiz rapidamente no banheiro antes de vir até ela.Rosa não perguntaria,não invadiria meu espaço por estar ciente que eu odeio que façam,mas às milhões de perguntas em mente que ela pode ter eu posso imaginar,mas ela nunca às fará,nem para mim,e talvez nem para minha mãe.
Rosa está deslumbrante em um vestido sem alças verde claro,os saltos prateados eu reconheço,presente de minha mãe.Apenas rímel em seus olhos e um gloss nos lábios,a cor de sua pele a fazia de certa forma nunca precisar de muito para ficar bonita,minha irmã já estava se tornando uma mulher e eu odiava os olhares dos homens se crescendo sobre ela mesmo tendo a total consciência que algum dia ela irá ter seu coração levado por um deles.
—aonde vai desta forma?—seco meus cabelos com a toalha indo para meu closet e pegando uma calça e camisa de treino
—a inauguração do prefeito é hoje,lembra?—merda,eu não me lembrava
Rosa segue meus passos quando jogo às roupas na cama e volto a olha-la—que inauguração?
Ela bufa e eu sei que é por eu não me recordar,ou talvez por um motivo maior que eu tenha também esquecido
—aquela que você prometeu que iria comigo—seus braços se cruzam e ela inclina sua cabeça para o lado junto com o olhar como uma criança pirracenta e mimada—a de quadros que a esposa dele faz e vão estar a venda—seu olhar volta para mim novamente em fúria—agora se lembra?!
