Capítulo 1 - Padre Antônio

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Meu trabalho é circular em minha moto em meio às sombras da noite. Sou segurança de bairro e minha jornada rumo à igreja começou não como um chamado divino, mas como uma simples oportunidade de trabalho. Pela primeira vez, trabalharia em um único lugar e sem me locomover tanto. Tudo isso graças a um assalto que assolou a paróquia, fazendo com que eu fosse contratado para garantir a segurança do local.

Foi durante uma pausa entre minhas rondas noturnas que me deparei com um número de telefone, gravado em um pedaço de papel e colocado em cima da minha mochila em um dos bancos da igreja. Era do padre Antônio, o padre que em algumas semanas seria transferido e que, por alguma razão, não parecia querer ter tanto contato visto que desde que começara a trabalhar ali, nunca tinha trocado meia dúzia de palavras comigo.

A situação parecia estranha, mas por via das dúvidas, resolvi registrar o número em meu celular e procurei saber se ele estava no WhatsApp. A mensagem que enviei foi simples:

"Olá, padre Antônio. Aqui é o Santiago, o segurança da paróquia. Achei seu número na mochila e pensei em enviar uma mensagem para nos comunicarmos. Se precisar de algo ou quiser conversar, estou à disposição. Abraços."

Algumas horas depois, já de madrugada, ele respondeu:

"Como vai, Santiago? Obrigado por entrar em contato. Fico feliz em saber que a paróquia está sendo bem cuidada. Se precisar de algo, não hesitarei em entrar em contato. Abraços."

E este foi o início de nossa comunicação. Começou como algo banal, conversas triviais, mas à medida que a comunicação progredia, o padre e eu fomos desenvolvendo uma conexão. À medida que nossas conversas continuavam, o interesse mútuo entre nós se intensificava. Encontros regulares após meus turnos se tornaram a norma e nós dois desfrutávamos de longas conversas que iam além dos assuntos da paróquia.

Com o tempo, a tensão sexual entre nós se tornou palpável, e cada palavra trocada parecia carregada de um significado mais profundo e devasso. Achei que fosse coisa da minha cabeça, mas gestos sutis de carinho e admiração começaram a se manifestar, enquanto olhares carregados de desejo revelavam a verdadeira natureza de nossas intenções.

Dias já haviam se passado, quando em uma tarde especialmente quente e silenciosa, logo após o início de um turno, resolvi mandar mensagem para o padre. Ao pegar o celular, o vi chegando acompanhado por uma mulher que chorava desesperadamente e gritava vez por outra que ia morrer. Ambos estavam em frente a igreja e, enquanto o padre tentava acalmá-la, me aproximei tranquilamente para ver se estava tudo bem. O padre disse que sim, pediu licença e a levou para dentro da igreja.

Em seguida, dois homens chegaram correndo e esbaforidos. Um veio mais à frente sem camisa e de bermuda. Parecia mais velho do que o outro que vinha logo atrás, mas em muito melhor forma. Estendi o braço e os parei antes de chegarem à porta e perguntei onde iam. Ambos disseram, ofegantes, que precisavam falar com o padre Antônio e a mulher que estava com ele. Respondi que lamentava, mas que eles não podiam passar pois eu tinha ordens de não os deixar entrar.

O mais velho tentou argumentar, mas me mantive firme. Imaginei que era um caso de violência doméstica e até ameacei chamar a polícia, caso insistissem. Alguns minutos depois a porta se abriu e a mulher, que agora parecia mais calma, saiu em silêncio. Os homens tentaram ir até ela e eu me pus novamente à frente deles, porém o padre disse que estava tudo bem.

O homem mais velho se ajoelhou e o outro cruzou os braços desaprovando a atitude dele. O padre permaneceu imóvel na porta e eu fiquei de frente para ele, porém com as três pessoas entre nós. O homem mais novo se revelou impaciente e, sem reservas, fazia gestos animalescos para a mulher que agora estava dando um sermão no outro que estava de joelhos. Este tentou argumentar algo e ela lhe deu um tapa no rosto, fazendo com que o mais novo fosse pra cima dela. O padre veio em defesa da mulher e eu segurei o mais novo com força em meus braços e o imobilizei.

Comedor de PadresWhere stories live. Discover now