Tales Of The Lioncourt Brothers ~ l.s and IWTV

In The Shadows Of Moonlight

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Harry provavelmente teria morrido de alguma doença infecciosa ou febre amarela em seus 20 e poucos anos se não os tivesse conhecido ou de fome talvez, isso se conseguisse chegar até lá, mas a história de sua vida não foi assim tão rápida ou tão fácil.

Antes de se mudarem para New Orleans sua família vivia numa área rural, longe e em meios aos campos, plantando e cuidando de animais, com alguns escravos que sempre em pouco tempo acabavam morrendo por conta do pouco alimento, seu pai então decidiu tentar a vida na cidade, o que rapidamente não lhes proveu com muita sorte, os preços eram altos e o trabalho pouco remunerado, eles viviam como dava e isso afundou as expectativas do homem que tornou-se frustrado e desiludido com tudo a sua volta, voltando-se para bebida e vícios que poderiam o amortecer da realidade. Harry ainda era bastante novo quando isso começou e não via nenhuma outra opção a não ser se manter ao lado do pai, tentar ajudar na casa como podia e esperar que as coisas melhorassem, ele nunca conheceu sua mãe, algumas vezes havia sido dito que ela morreu ao dar a luz, mas há vagas e enganosas memórias no fundo de sua mente que a mostram em alguns instantes de sua primeira infância, arrumando uma pilha de panos gastos ou mexendo uma panela em um forno a lenha, de qualquer forma seu rosto não é distinto em nenhuma delas e com o tempo as mesmas se tornaram cada vez mais apagadas, então não tem realmente como saber quem ela era, se o deixou ou se sequer ainda está viva.

Quando tinha 15 anos ao voltar para casa depois um dia de trabalho árduo e exaustivo, encontrou seu pai já afundado no licor, quase inconsciente no chão sujo e gasto de madeira da sala de estar, tentar acorda-lo era inútil e o que menos esperava ao tentar cruzar pelo pequeno espaço era perturba-lo, fazendo-o despertar em uma fúria desconhecida e confusa, movida pela intoxicação de sabe-se Deus o que, seu pai nunca fora um homem violento, era rude e rigoroso, sem demonstrar nenhum pingo de afeição por ninguém, entristecido e cansado, como qualquer outro homem da época, mas nunca havia levantado um dedo para seu filho e por isso o garoto podia ser grato, pelo menos até agora.

Não haviam mais razões para continuar ao lado do homem, para fingir que poderia ajuda-lo, em trazer o dinheiro que ganhava para dentro de casa apenas para vê-lo sendo gasto com álcool e quase nenhuma comida, mas Harry não sabia o que mais fazer, por alguma estranha razão não sentia que poderia deixá-lo de verdade, deixar o homem que o criou e lhe ensinou tudo que sabia até hoje, o homem que o manteve sobrevivendo todos esses anos, então por mais que as surras e ataques enfurecidos o machucassem profundamente, tanto físico como emocionalmente, aguentou por alguns bons anos a infeliz situação.

Se recordava corretamente seu aniversário de 19 anos seria no próximo mês e durante o último ano as coisas haviam piorado significativamente, não que já não fossem terrivelmente ruins antes, mas tudo parecia estar chegando a um limite, sentia que seu corpo não poderia aguentar muito mais, seja pelo constante abuso ou pela falta de alívio mental que passava diariamente, seus dias eram resumidos a trabalho, carregando caixas e movendo suprimentos, cuidando de cavalos ou cumprindo tarefas para quem o pagasse, em meio ao ocupado e fervoroso centro da cidade via de tudo um pouco, experimentava de longe os estilos de vida mais variados, desde os senhores ricos com suas carruagens e máquinas a vapor estacionando pelas ruas até os vagabundos pedintes que as enchiam nas beiradas, vagando persistentes na esperança de conseguir algo para comer, sua realidade para com a deles parecia estar se tornando cada vez mais próxima, mas isso era algo que definitivamente não queria, não se deixaria sucumbir a pobreza ou a bebida como muitos faziam, queria ter algo para si, construir algum tipo de vida, algum tipo que não fosse apenas sobrevivência.

Almejava nas profundezas de sua alma algo a mais pelo que viver, pelos luxos e privilégios constantemente ostentados a sua frente, abanados bem em sua cara pelos que podiam desfruta-los, as roupas boas e bem costuradas, os charutos fumegantes, as comidas fartas e de todos os tipos, os relógios e joias brilhantes que cintilavam por pescoços e pulsos, todos muito próximos e ao mesmo tempo muito distantes, nos últimos anos havia começado a trabalhar durante a noite também, já que muitas vezes seus dias não rendiam tanto quanto deveriam e os bares da avenida principal surgiam a vida durante boa parte das horas da madrugada.