Capítulo único

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Eu me sentia perdido no emaranhado de emoções que havia dentro de mim.

O meu término com Cedrico me atingiu como um feitiço estonteante. Não havia sido um término tranquilo e muito menos amigável, havia sido conturbado e me deixou ainda mais desanimado do que eu já estava nas semanas que antecederam o fim do nosso namoro.

Não sabia dizer se ainda o amava ou se era ao menos apaixonado por ele, mas era um fato que ele ainda ocupava a maior parte dos meus pensamentos durante o dia. Mas não eram pensamentos bons, como as lembranças do tempo em que nosso relacionamento era algo bom para os dois, mas sim lembranças das brigas, de todas as vezes que ele terminou comigo e depois voltou dizendo que tinha mudado de ideia, de todas as vezes que ele me colocou como o único problema da nossa relação.

Eu conheci Cedrico quando eu tinha dezoito anos, no meu primeiro semestre da faculdade. Eu estava bastante eufórico com aquela nova fase da minha vida e com todas as coisas novas que eu ia descobrir que quando um veterano da minha faculdade se mostrou interessado em mim, com algumas cantadas idiotas e convites para festas universitárias, eu rapidamente me deixei cair em seus encantos.

E no início foi muito bom para mim, pelo menos na minha visão. Ele me ajudou a me adaptar na faculdade e me apresentou a diversas pessoas, incluindo Fred e George que se tornaram bons amigos meus e que trouxeram Gina - que se tornou uma das minhas melhores amigas - para a minha vida. Ele também era atencioso no início, parecia gostar de me ter por perto.

Durante os três anos que passamos juntos as coisas começaram a mudar entre nós. De repente ele achava que eu o sufocava muito e não parecia mais gostar tanto de mim, ele não me levava mais às festas pois dizia que precisava de um pouco de espaço, de um tempo sem alguém carente como eu se jogando em cima dele a cada minuto, e isso tudo me chateava toda vez.

Quando eu decidia conversar com ele sobre isso ele reclamava que era exatamente por isso que se sentia sufocado, que eu não lhe dava liberdade nenhuma, então ele terminava comigo apenas para voltar alguns dias depois dizendo o quanto me amava, que precisava apenas de um pouco mais de compreensão da minha parte. E eu, como o tolo que era, dizia que entendia, que poderia tentar ser melhor para ele.

Isso até um dia em que, depois de uma briga onde ele havia saído do meu apartamento irritado comigo, eu havia ido até a casa dele e de seus pais. Sua mãe me deixou entrar, me pediu desculpas pelo seu filho e disse que eu não merecia aquilo. Lembro-me de ter ficado confuso, até abrir a porta do seu quarto e vê-lo na cama com uma garota, Cho Chang, que era vizinha dele e eu sempre dizia que ela dava em cima dele na cara dura e que aquilo me deixava desconfortável, mas ele fazia questão de que eu estava ficando paranóico.

Eu saí às pressas de lá não dando tempo para ele se explicar. Lembro de desabar no momento em que eu cheguei em casa, de me perguntar o que eu tinha feito de tão errado para ele fazer aquilo comigo. Lembro de mandar mensagem no grupo com os meus amigos perguntando se alguém podia ir até ali, de ter tanta água em meus olhos que eu mal conseguia ver as respostas que eles me deram.

Lembro de eles chegarem em menos de vinte minutos, de perguntarem preocupados o que aconteceu. Lembro de Theo me abraçando, de Luna segurar minha mão, de Blaise e Gina falarem algo sobre matar Cedrico e de Pansy pedindo para todos calarem a boca para que eu pudesse falar.

Lembro de não saber como explicar a eles tudo que eu estava sentindo. Lembro de me sentir confuso, com raiva, magoado, de sentir aquela angústia ruim de confiança quebrada.

E pela primeira vez desde que meu namoro começou a desandar eu desabafei enquanto sentia ainda mais lágrimas transbordarem dos meus olhos, despejando toda a dor e aflição que eu havia sentido nos últimos tempos. Contei a eles sobre como tudo entre nós já parecia errado a algum tempo, de como ele fazia eu me sentir um péssimo namorado, de todas as discussões e términos. Um murmúrio de indignação se espalhou entre meus amigos enquanto eles me ouviam atentamente.

Permitir-seWhere stories live. Discover now