Os segredos de Wentworth

Recém-chegados

Sustentar aquele olhar cerúleo pareceu uma eternidade, entretanto, não durou mais do que alguns segundos. Uma cotovelada nas costelas fez Ariel desviar o olhar, e suspirar zangado para Hannah. A menina se esticava toda, sem deixar de olhar pela janela. Bastou o rapaz de cabelos escuros levantar o olhar, que um grito ecoou no quarto.

- Puta merda! Que cara gostoso do caralho! Com esse aí eu pulava em cima e só fazia perguntas depois de ter feito tudo o que queria com ele!

Não demorou nem um segundo para que Arthur, Colin e Ariel respondessem em uníssono ao comentário (e obviamente aos palavrões que saíram daquela pequena boca rosada, já que a menina costumava ser comedida com linguagem chula).

- Hannah!!!!

A jovem sequer se dignou a olha-los. Sua atenção continuava na janela enquanto dava curtos pulos de excitação. Mais alguns milésimos de segundos e um novo grito agudo fez os garotos saltarem.

- Porra!!!! Wentworth agora é meu lugar preferido em todo o mundo!!!! Esse ruivo é uma tremenda perdição!!!! Quero os dois!!!! De preferência sem roupa dentro do meu quarto!!!!! Puta que o pariu!!!!

Hannah era a garota maluquinha, que dizia o que lhe vinha à mente, que não levava desaforos para casa e tampouco se permitia ser intimidada por ninguém. E mesmo com pavio curto, a menina sabia se impor mantendo a pose de superioridade. E não sendo dada a fazer comentários de cunho sexual, ou de demonstrar abertamente um interesse romântico em outra pessoa, era natural que seus três cavalheiros a observassem completamente boquiabertos.

- Hannah!!!!!!! O que está havendo com você?

- Porra, Colin! Vai empatar outra pessoa!!!! Olha para aquelas duas perfeições ali!!!! Nascidos em berço de ouro, sarados, lindos, cheios de testosterona... quem não quer????!! Diga-me, quem????!!!! Eles são capazes de abalar a heterossexualidade de qualquer homem! Além de deixar qualquer mulher completamente rendida.

- Eu não quero!!!!! A mim não abalam coisa alguma!

Lógico que Colin não queria. Ele não era homofóbico de maneira nenhuma, mas guardava uma paixão secreta pela baixinha que agora literalmente babava por causa dos recém-chegados. O ciúme imediatamente começou a consumi-lo. Ele se apaixonara por ela à primeira vista, porém não houvera reciprocidade. O único consolo de Colin era que Hannah jamais havia se interessado por ninguém. Até o momento, aparentemente. Colin sempre fizera questão de se manter próximo, na esperança de que ela um dia o notasse. Agora? Bem, agora ela estava ali com a cara pressionada na vidraça, quase saltando a janela para se oferecer a dois garotos que, mesmo sendo de famílias ricas e tradicionais, eram completamente estranhos a eles. Dois completos desconhecidos.

- Colin, seu ridículo! Só porque você nunca gostou de ninguém não significa que o restante do mundo tenha que ser desinteressado ou assexuado como você! Aqueles dois - Hannah falou apontando para onde a limusine estava há apenas alguns momentos - são as novas maravilhas do mundo moderno!!!!

Os olhos de Arthur quase saltaram de suas órbitas. Pois ele era o fiel do segredo de seu amigo. E mesmo ninguém tendo contado nada an Ariel, este também já notara que não havia nada que Colin não fizesse por Hannah. Se aquilo não era amor, Ariel não sabia o que seria. Apesar de sua resistência inicial a Hannah e os meninos, ele havia se afeiçoado aos três. Não raro ele dizia que somente aturava-lhes a companhia, todavia em seu íntimo ele ansiava ardentemente por ela. Após entrar no Instituto Wentworth, Ariel tivera a súbita realização de que a solidão não era tão boa assim. Pelo menos não o tempo todo. E testemunhar o amor e dedicação silenciosos de Colin por Hannah agitava algo em seu interior. A ideia de pertencimento já não lhe parecia tão abjeta. Família, amigos, amor.