✦ Capítulo 4

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4. Meu primeiro beijo

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Você se lembra que eu quebrei o tornozelo com 12 anos, não é? Pois bem, antes de começar a patinar, quando eu ainda estava com o tornozelo destruído, eu fiz uma outra atividade extracurricular, que acho que você se lembra qual é: escrita criativa! Era literalmente o que eu sempre quis, desde os 9 anos, quando decidi ser um escritor e ser inesquecível para todos ao meu redor. Comecei as aulas super empolgado, com meu belo caderno dado de presente pelo meu avô e minha caneta de pluminhas vermelhas como cereja e como meu atual cabelo.

Era divertido. Havia colegas poetas, pensadores contemporâneos que discutiam a complexidade de seus quartos imundos (eles chamam de "caos físico e organização mental", e eu acho que não tenho QI o suficiente pra entender eles, apesar de ser superdotado), escritores de romance que não entendiam o amor, aspirantes a detetives escritores de mistério e muito mais. Mas havia alguém que chamava minha atenção. Jolene.

Jolene era muito linda. Me arrisco a dizer que ela era a garota mais linda que eu tinha visto na minha vida. Cabelos cacheados, cheios e volumosos, e ela sempre usava uma fita vermelha para os prender. Lábios grandes, olhos castanhos brilhantes, pele negra escura e roupas magníficas, cheias de correntes e broches. Ela era a garota dos meus sonhos. A bad girl perfeita pra mim, um bad boy em desenvolvimento.

Me apaixonei por ela quando ela escreveu um poema sobre garotos complexos que tem sentimentos complexos presos na garganta e não conseguem se expressar, e por isso acabam de cabelos coloridos e de estilos e espírito rebeldes. Tenho quase certeza de que eu fui a inspiração. Claro, meu amor narcisista fez eu me sentir bem por ter sido considerado um "musa inspiradora". Mas quando notei ela melhor... Céus, eu nunca vou chegar aos pés de sua beleza. Ela que devia ser a musa!

Como apenas um garotinho caidinho por uma garota bonita, eu era o convencional. Fazia o máximo para dar oi a ela em todas as aulas, elogiava algo dela e ficava sorridente e corado quando ela elogiava de volta. Toda vez que ela estava por perto, eu virava a pessoa mais engraçada e com mais histórias incríveis do mundo. Meus amigos estranharam, claro. Pobres tolas crianças! Ainda não sabiam o que era sentir o peito palpitar ao ver a pessoa amada!

Ocasionalmente, eu a defendia do racismo. Claro, não sempre e não com tanto exagero, já que meu pai Matteo me ensinou que eu poderia parecer um daqueles caras com a síndrome do branco salvador. Ela não precisava de ajuda, proteção ou salvação. Ela sabia se defender sozinha. Porém, algumas poucas vezes quando ela não sabia o que falar, eu podia tomar liberdade de zoar a aparência da pessoas, já que se sentiu no direito de falar sobre a dela, ou simplesmente virar de costas com ela, fazer uma expressão irritada para o racista por cima dos ombros e dizer "Não dê ouvidos a este estúpido" enquanto a levo para longe. E ela pacientemente me esperava e andava devagar, já que eu ainda estava de muletas, falando sobre como odiava o racismo e como os brancos deveriam se conscientizar mais sobre isso.

Engraçado que, apesar dela ter tudo pra ser uma das minhas namoradinhas de mãos dadas, eu nunca a chamei assim pelo fato de que minhas mãos estavam sempre nas minhas muletas e nunca entrelaçadas com as mãos dela. Então, tecnicamente, ela não foi minha namorada de mãos dadas e aquele foi o período que eu mais fiquei solteiro. E claro, agora tudo estava bem mais controlado pelos meus pais, e eu finalmente entendi que namorar muitas garotas uma atrás da outra podia partir o coração delas. Tive que corrigi-los dizendo que eu namorava garotas e garotos, e Matteo ficou surpreso. Ele não sabia daquilo.

Então, num dia de neve (na verdade, dias de neve acontecem o tempo todo, e eu sempre estou com rinite atacada graças a isso. Eu moro na porra do Canadá!), ouvi fofocas e boatos no cursinho de escrita criativa que Jolene em breve iria embora da cidade. Senti toda a minha alegria se esvaindo do meu corpo, me deixando uma carcaça de carne extremamente triste e com nariz entupido por causa da rinite. Pra minha surpresa, durante a aula, Jolene me passou um bilhete dizendo que queria sair comigo depois da aula. Eu obviamente aceitei, esquecendo minha tristeza do dia pelo menos um pouco.

Წ Go Pierre! (Crônicas do Pierre)Where stories live. Discover now