Henrique: essa pergunta...

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Eu me viro repentinamente, surpreendido pela pergunta que rompe o silêncio como um sussurro de mistério. Há uma pressão invisível, uma tensão palpável no ar. A pergunta dela, simples à primeira vista, é carregada de significados ocultos, um anseio por desvendar segredos. Isabely é deslumbre, é um enigma ambulante, uma figura que paira nas entrelinhas do desconhecido, e ainda não permiti que ela penetrasse nas profundezas de minha alma. Opto por me resguardar, por enquanto, nos recantos de minha mente. 

_ Desculpe, mas isso é pessoal, por favor me devolva. Murmuro, minha voz trêmula revelando o medo de revelar tais segredos. 

Ela hesita por um instante, um lampejo fugaz dançando em seus olhos, antes de insistir: _ Eu sei que estou sendo intrometida, mas eu realmente queria que me dissesse sua ligação com eles, é porque... 

"Me devolva, por favor!" Minha voz irrompe no ar, aguda como o corte de uma lança. Não posso permitir que ela penetre nos labirintos obscuros de minha vida, não quero arrastá-la para os abismos onde me refugio com meus segredos. 

Ela fica estática, seus olhos se abrem em surpresa, como se vislumbrasse algo além da superfície. Aquela visão desperta uma dor lancinante em meu peito, mas é uma dor que suporto em silêncio. Não conheço verdadeiramente Isabely, não sei das batalhas que ela travou, dos sonhos que acalentou ou dos fantasmas que a perseguem. E assim deve permanecer, ao menos por enquanto. 

Com um gesto rápido, tomo a carta de suas mãos e me afasto apressadamente, mergulhando na penumbra que me acolhe. Ignoro os olhares curiosos que me seguem, pois sei que não é todo dia que se testemunha uma cena como essa. 

Caminho até o escritório, onde o silêncio reina soberano, alimentando minha ansiedade e os pensamentos invasivos que me assombram. Na minha mente, as perguntas se multiplicam como sombras dançantes: por que a moça reagiu daquela maneira ao ler aqueles nomes? Perguntas e mais perguntas, um labirinto de mistério e emoção, onde as respostas se esquivam como fantasmas fugidios. Tinha perguntas, mas tinha medo de saber o valor das respostas. 

Após alguns minutos imerso naquele oceano de pensamentos turbulentos, decido, enfim, começar a planejar o que devo fazer. A carta, ainda crispada em minhas mãos, carregando consigo um peso insuportável de verdades. 

"Bem", murmuro para mim mesmo, tentando encontrar alguma clareza naquelas linhas embaralhadas pelo desespero, "começando a analisar a carta...". A voz falha em minha garganta, mal contendo a tempestade de sentimentos que ameaça me submergir a cada instante. 

A carta menciona uma mesa cheia de evidências, um panorama intenso que aponta para a possível culpa de meus próprios pais no roubo e até mesmo no assassinato do jovem rapaz. E ali, entre aquelas palavras manchadas de angústia, surge o eco de uma esperança frágil: talvez ainda haja alguma prova, algum vestígio que possa trazer à luz a verdade enterrada sob camadas de mentiras. Mesmo que o mais provável que as originais não existem mais, porém alguma cópia deve existir conhecendo meu irmão. 

_ Minha voz...
Percebo, ao deixá-la escapar finalmente, carrega consigo um tom de dor dilacerante, uma mistura confusa de desespero, insegurança e medo. Afinal, como enfrentar a perspectiva de confrontar a monstruosidade dos próprios pais? Como encarar a possibilidade de que meu irmão tenha sofrido às mãos daqueles que deveriam protegê-lo? 

Um grito brota de meus lábios, um grito de frustração e inquietude, um lamento pela terrível realidade que se desdobra diante de mim. Não sou um herói, reconheço com amargura, não sou o protagonista destemido de uma história épica, mas apenas um homem comum, repleto de fraquezas e limitações. Sou um mero humano afinal. 

Consulto o relógio e percebo que o tempo está se esgotando. O prédio logo fechará suas portas, mas eu não posso voltar para casa, não agora. Em vez disso, decido seguir para o parque, um refúgio temporário onde posso buscar alguma paz em meio ao caos que me cerca. 

Diante do céu noturno, salpicado de estrelas cintilantes, sem a lua para guiar meu caminho, eu me permito um momento de contemplação. Ergo meus olhos para o firmamento infinito e, em um sussurro, rogo por forças divinas para enfrentar o desafio que se avizinha. 

E ali permaneço, por horas a fio, sentado naquele banco solitário, imerso em pensamentos tumultuados, em uma batalha interna entre o dever e a vingança, entre a busca pela verdade e o medo do que ela possa revelar sobre os laços que os unem.

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