Emma

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Sinto as lágrimas caírem vagarosamente sobre o meu rosto enquanto continuo parada em frente ao túmulo escrito "Descanse em Paz, Nora Ballmer". Sinto meu peito doer como se aquela fosse a primeira vez que estivesse a visitando.
A culpa nunca me larga por ter deixado ela sair sozinha naquela noite. Eu não poderia fazer nada diferente, como todos já repetiram mil vezes para mim, mas ao menos Nora não teria ficado sozinha. Eu estaria ao seu lado e em seus últimos momentos ela saberia que sua irmã te amaria até o último suspiro.

— Emma, acho melhor a gente ir. Está começando a esfriar. — A voz de Mike me desperta do transe imediatamente, e meu corpo sente o frio que a minutos atrás parecia estar imune. — Eu sei, é tão doloroso para mim quanto para você. — Ele sussurra quando vê meu rosto coberto por lágrimas. Imagino que para Mike tenha sido tão sofrido quanto. Ele sempre cuidou da gente como um ótimo irmão do meio, e no dia que Nora se foi, ele quem devia ter levado ela, mas assim como eu não podia imaginar, Mike também não podia. Meu lado racional nunca me deixaria culpá-lo. Ele já vive com esse fardo sozinho.

— Tudo bem. — Respiro fundo e coloco as rosas brancas ao lado do túmulo. — Boa noite, Nono. — Digo na expectativa de ouvir Nora dizer "Boa noite, Emma exemplar", apelido que ela me deu quando assistiu o filme "Garota Exemplar" pela primeira vez.

— Te amo para sempre, Norinha. — Mike diz atrás de mim com a voz embargada, e sinto meu coração, que já está totalmente despedaçado, se esfarelar de vez.

Depois de mais uma despedida dolorosa ao túmulo de nossa irmã, Mike e eu caminhamos em silêncio até o seu carro. Olho para o seu rosto por alguns segundos quando entramos no carro e colocamos os cintos, e percebo que Mike está com a barba um pouco grande e seus cabelos estão bagunçados. Mesmo assim, ele ainda é lindo, como sempre foi. Desde que me entendo por gente, meu irmão mais velho sempre arrasou corações, mas agora ele parece diferente. Ainda é um garoto de 21 anos, mas parece mais velho, mais cansado e mais vivido.

— Como tem sido esse semestre na faculdade? — Resolvo perguntar porque estou realmente curiosa. Antes de tudo acontecer, praticamente todos os finais de semana Mike estava em casa, contando cada detalhe do que acontecia. Essa era a vantagem de ter escolhido uma faculdade a apenas 1 hora de casa. Para muita gente, a melhor parte da faculdade é se distanciar da família, mas como sempre fomos muito unidos, essa não era uma ideia nem cogitada.

— Cansativa pra caramba. Eu repenso todos os dias se quero mesmo ser médico. — Sinto a tristeza do meu irmão quase de forma palpável. Sei que não tem sido fácil para ele, e eu o entendo mais que ninguém.

— Eu imagino, mas você sempre sonhou com isso e você sempre disse que saberia que não seria fácil. Esse é seu primeiro ano realmente estudando coisas de medicina. Não deixe que outras coisas te atrapalhem, Mike.

— Quando você ficou inteligente? — Pela primeira vez em muitos meses, vejo meu irmão sorrir ao me olhar rapidamente, e me arranca um sorriso também.

— Eu sempre fui! — Digo de forma exibida.

Sinto o incômodo de ter que perguntar o que não queria e ter que acabar com o clima leve que acabamos de criar no carro. Mas outra mensagem da minha mãe perguntando se meu irmão ficará para o jantar aparece novamente no meu celular, e suspiro tão forte que Mike fica tenso na hora, quase como se soubesse exatamente do que se tratava o meu desconforto.

— Você pretende ficar para o jantar? — Quase sussurro a pergunta, e meu irmão minimamente feliz e tranquilo de alguns segundos atrás desaparece totalmente, voltando a ser o Mike triste e devastado.

— Eu não consigo, Em. Não me entenda mal, eu amo você e a mamãe, você sabe disso, mas eu não aguento entrar naquela casa e ser culpado por tudo que aconteceu. Eu estou cansado de brigar com aquele imbecil, e infelizmente eu dependo do dinheiro dele. Preciso manter as coisas pacíficas. — Eu já sabia das respostas que iria ouvir, mas ainda assim a decepção me invade.

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