CAPÍTULO 3 - COMO SE NÃO BASTASSE

140 30 67
                                    

Depois do episódio da cueca amarela, eu mantive minhas cortinas fechadas. Não que eu não quisesse ficar sempre espiando o meu vizinho, mas a vergonha era muito grande, então eu mantive a minha intimidade.

A semana que decorreu foi tensa. Comecei o meu emprego ridículo e ninguém poderia achar uma maneira de torná-lo mais humilhante do que me dando aquela roupa de policial para a semana do Pare e Reviste seus Pneus e lá estava eu, indo para o ponto de ônibus daquele jeito tosco.

O resto era bem tranquilo. O patrão não exigia muito e eu tampouco me esforçava demais. Mesmo assim, eu percebia que, os poucos clientes que iam até a loja, os outros vendedores atendiam e eu ficava pastando. Assim eu não ganharia nada.

Depois de uma árdua semana de trabalho, eu voltava para casa em uma sexta-feira pouco movimentada chutando latinhas de Coca-Cola que algum porco jogou na rua e admirando a paisagem horrorosa do meu bairro.

Eu podia ter pego um ônibus, mas não quis gastar dinheiro e nem esperar, então decidi que seria melhor para meu abdômen andar um pouco para variar. No começo da caminhada, eu estava super empolgado com a possibilidade de perder umas calorias assim, mas antes da metade do caminho eu já estava cansado e arrependido da minha miserabilidade de não querer gastar centavos num busão.

Cheguei na minha rua todo suado, um desastre. Entrei em casa e não tinha ninguém, apenas um bilhete da minha mãe na geladeira dizendo que ela e papai tinham ido num chá de bebê. Até gostei disso. Privacidade na minha casa era sinônimo de impossível.

Eu continuei na cozinha e meus instintos diziam para eu cozinhar algo ou eu logo padeceria para sempre. Dei uma olhada nos armários e tinha algumas dessas comidas pré-prontas e eu peguei alguns enlatados. Agora a parte gay começa: eu não sei abrir latas.

Sentei-me numa cadeira da cozinha e coloquei as latinhas uma do lado da outra, olhando para elas e pensando em uma forma de abrir. Eu tinha o abridor nas mãos, mas não fazia ideia de como usar ele. Tenso.

Tanto que eu desisti de comer enlatados e resolvi fazer um macarrão instantâneo que simplesmente seria a salvação. Peguei o macarrão de pacotinho, uma panela e quando fui ligar a torneira da pia para pegar um pouco de água, eu não sei o porquê, algo explodiu e a torneira voou na minha cara, batendo com força no meu nariz, enquanto vazava água por todos os lados.

Eu estava com a mão no rosto e com muita dor, e escorreguei no chão da cozinha enquanto tentava conter aquele monte de água. Chequei meu rosto e, como eu havia pensado, eu estava sangrando e eu não fiquei tão surpreso assim, mas bufei completamente perplexo com minha zica.

Saí para fora de casa na intenção de chamar alguém para me ajudar, mas quem? Os vizinhos todos me conheciam, mas a maioria deles eram senhores e senhoras de idade e algumas crianças e adolescentes, ninguém que me pareceu realmente apto para consertar uma torneira assassina.

Eu estava complemente desorientado quando uma mão pousou sobre o meu ombro e eu me virei, percebendo que era o vizinho do lado.

– Você está bem? – Ele perguntou, um tanto chocado. Também né, eu devia estar péssimo, todo molhado, sangrando e ah é, esqueci de dizer que eu ainda estava vestido de policial.

– Euoahwen? – pronunciei nervoso. Ah, vá se catar, se você tivesse vendo aquele monte de homem num só na sua frente queria ver o que falaria.

– Você... está bem? – Ele repetiu a pergunta.

– Ah...a minha torneira explodiu – Falei pondo a mão sobre o nariz. – Tenho que consertar, arrumar um jeito e...

– Você não acha melhor arrumar primeiro esse sangue todo? – Questionou.

Wei Ying Não Tem Muita Sorte!Onde histórias criam vida. Descubra agora