Encantadoramente bela e astuta. Para todos, Eleanor Blackwood, é uma vítima inocente de sua impiedosa irmã mais velha, a gananciosa Victória. No entanto, a verdade que ela mantém escondida é um pouquinho mais perversa do que todos imaginam.
Com sua...
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ELEANOR HUGHES
A animação de mamãe depois de meu breve encontro com o príncipe era perceptível. No entanto, minguava rapidamente conforme os meses passavam e titio não encontrou um novo modo de nos colocar no mesmo local. Poucas pessoas tinham a oportunidade de estar no mesmo cômodo que James, se para nobres era algo difícil, para plebeus como nós era pior ainda. Titio disse que foi um golpe de sorte.
— Sorte não — mamãe o corrigiu, enfurecida. — Não confunda as peças de um destino se encaixando com a mera causalidade. Aparecerá uma nova forma dos dois se encontrarem, apenas continue procurando. Você disse que devemos pensar em nossa família, não é?
— Sim.
— Eu estou fazendo minha parte, enviando secretamente todo o dinheiro que você me pede. — ela se aproximou de titio, apontou o dedo no rosto dele. — Faça a sua ajudando sua sobrinha a alcançar o que ela está destinada a ser.
Mamãe o deixou e ficou andando de um lado para outro no cômodo. As mãos na cintura enquanto respirava fundo, tentando conter sua fúria.
Naquela época não compreendia a seriedade das coisas que mamãe falava. Achava que o dinheiro que enviava para o titio era como o que vovô enviava para mim. E ouvir as conversas deles fazia com que eu me sentisse importante, parte do mundo dos adultos. Não precisava questionar, apenas precisava estar com eles.
No entanto, com o passar do tempo, bem depois da morte da mamãe, comecei a perceber o que acontecia. Alterava os recibos das lojas, pagando três vezes mais o valor necessário e repassando a diferença para os Hughes. Uma atividade perigosa que colocava tanto de nossas vidas em risco, mas que ela nunca deixou de cumprir. E eu sei exatamente o motivo.
Por que ela é uma Hughes.
Por que eu era uma Hughes.
Por que os Hughes eram os únicos que pensavam nos nossos interesses. Ainda que eu também fosse uma Blackwood, mamãe dizia que eles nunca vão compreender meu potencial como ela, meus tios e minha avó compreendem.
— Por isso temos que pensar em nossa família, meu bem. — ela disse certa vez. — Ainda que os Blackwood gostem de nós, os Hughes são o nosso porto seguro. Os únicos em quem podemos confiar.
Ela logo perceberia o quão errada estava.
...
Quando me lembro de minha infância, as memórias com papai são algumas das mais preciosas que guardo comigo. Aquelas mais antigas quando éramos somente nós dois. Os passeios pelo jardim no final de tarde, as tardes no lago durante o verão. As noites em que lia histórias até que eu adormecesse.
Mesmo naquela época, podia notar o quanto ele e mamãe eram diferentes um do outro. Eram opostos. Como sal e açúcar. Mamãe era mais enérgica, papai era mais tranquilo. Para mamãe tudo devia ser imediato, papai prezava pela paciência. Outra coisa que os diferenciavam era o modo como me viam.
